Mira Amaral lança críticas à Esquerda e à Direita em jantar-congresso em Faro

«Sei que há aqui muitas pessoas ligadas à atual maioria e acho que há quem não vá gostar de ouvir […]

Mira Amaral em Faro_1«Sei que há aqui muitas pessoas ligadas à atual maioria e acho que há quem não vá gostar de ouvir o que tenho para dizer».

O aviso à navegação foi dado, logo a abrir, pelo ex-ministro de um Governo PSD e atual presidente do Banco BIC Portugal Mira Amaral, no jantar-congresso em que foi o convidado especial, realizado na passada semana em Faro.

E o discurso veio confirmar o aviso.

O orador convidado para o momento de encerramento do 1º Encontro Empresarial de Faro, que decorreu na passada quinta-feira, na Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, na capital algarvia, falou para uma sala cheia de empresários, mas também figuras ligadas ao atual executivo PSD/CDS-PP da Câmara de Faro.

O tema da preleção era «A Economia Portuguesa no Pós-Troika», mas o que se passou durante a presença da Troika em Portugal também mereceu muita atenção.

Foi, de resto, para o executivo PSD/CDS-PP que saiu o primeiro “recado”. «O Governo de Passos Coelho perdeu uma oportunidade de ouro para fazer uma reforma profunda do Estado», considerou Mira Amaral.

Mira Amaral: Vítor Gaspar era “um economista teórico que brincava às folhas de Excel”

O ex-governante foi particularmente crítico em relação ao ex-ministro das Finanças Vítor Gaspar, a quem se referiu como «jovem professor» e «economista teórico que brincava às folhas de Excel». E, salientou, embora a atual maioria tenha «entrado a prometer que iria atacar o monstro público», não o fez. «Eduardo Catroga negociou o resgate, mas aproveitou para se baldar do Governo. E tanto Passos Coelho como Vítor Gaspar não tinham a experiência necessária. Foi o que se arranjou!», defendeu.

As primeiras críticas foram dirigidas à Direita, mas o orador depressa se voltou para a Esquerda. Aqui, houve distinção entre o PS, que Mira Amaral presume que será o partido que se segue à frente dos destinos de Portugal, e o PCP e o BE.

Para a ala mais à Esquerda do espectro político ficou a alegação de que sair do euro seria a perdição de Portugal e «uma solução preguiçosa». «Sair do euro seria competir por salários baixos. No dia seguinte ao regresso do escudo, os salários dos portugueses desvalorizariam 50 por cento. Portugal não terá futuro se competir por salários baixos, haverá sempre alguém que consiga baixá-los ainda mais», defendeu.

Mira Amaral em Faro_2Quanto ao PS, Mira Amaral diz não ver «vontade política de fazer a reforma necessária», pelo que não espera grandes diferenças de um hipotético Governo PS e a coligação atualmente no poder. «Mas, com o PS, se houver um cheirinho de recuperação económica, é um perigo», disse, alegando que voltariam as práticas despesistas do passado.

Neste cenário negro, ao nível político-partidário, que traça para Portugal, o presidente do Banco BIC Portugal vê a potencial solução para muitos dos problemas do país…na Europa. «Não temos futuro, fora do quadro europeu», considerou.

«A emissão de moeda por parte do Banco Central Europeu, e eventual compra de dívida pública dos Estados Membros, pode ser boa para Portugal», começou por dizer. Mas, avisou, «tem de haver uma política de crescimento económico associada às medidas do BCE», para que não se corra o risco desta injeção de dinheiro fresco na economia ser improdutiva.

«A França e Itália também terão de crescer, pois a Alemanha, sozinha, não pode ser o motor de toda a Europa. Também será necessário um programa de investimentos à escala europeia», defendeu.

A nível interno, além de uma reforma do Estado, que privilegie o lado da despesa, em vez do da receita, Mira Amaral aponta como caminhos a aposta na Economia do Mar, mas apenas «em setores em que temos a tecnologia e conhecimentos para ser competitivos», mas também «o nicho da reabilitação urbana», uma vez que «há dinheiro europeu que pode ser aproveitado» para esse fim.

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