Terras Sem Sombras promove estreia nacional de «The Viola in my Life»

O sexto concerto da 10ª edição do Festival Terras Sem Sombras está marcado para a igreja matriz do Santíssimo Salvador, […]

O sexto concerto da 10ª edição do Festival Terras Sem Sombras está marcado para a igreja matriz do Santíssimo Salvador, em Sines, no sábado, 7 de junho, às 21h30, e dá a conhecer um programa extraordinário, raramente ouvido em Portugal.

“Espaço, Ritmo, Tempo: Feldman versus Bach” será o mote para a estreia, no nosso país, das obras The Viola in my Life (I-III), de Morton Feldman (1926-1987), complementada por três motetos para coro – Jesu, meine Freude, Sei Lob und Preis mit Ehren e Lobet den Herrn, alle Heiden) – de Johann Sebastian Bach (1685-1750).

Como intérpretes, músicos de exceção: o Sond’Ar-te Electric Ensemble, o Coro Terras Sem Sombra e o violetista norte-americano Jonathan Brown, com direção artística de Filipa Palhares.

A escolha chama a atenção. Apesar da propensão racionalista, a música de Bach é indissociável do universo espiritual e da vivência religiosa. Homem de profundas convicções luteranas, Bach fez coexistir na sua obra a demanda artística com os mistérios da fé. A música sacra ocupa, por isso, lugar central nessa vasta produção – uma marca de identidade do Barroco germânico.

Morton Feldman, por seu turno, operou sempre à margem das correntes estéticas dominantes, recusando todos os sistemas e ideologias. Obedecendo apenas à intuição artística, criou um mundo sonoro próprio, de rara delicadeza e fragilidade, que desafia as categorias tradicionais da escuta musical.

O compositor americano mostra-se, assim, indiferente aos aspetos construtivos da música e recusa qualquer sistema composicional, pelo que a sua poética musical se baseia, unicamente, no instinto e na perceção.

Como explica o diretor artístico do Festival Terras sem Sombra, Paolo Pinamonti, “Sines e Moura (28 de Junho) são dois concertos marcantes na programação de 2014, em que a música de Feldman alterna, respetivamente, com motetes e com célebres páginas sinfónicas de Bach. É a primeira vez que as quatro versões de The Viola in My Life (1970-1972), de Feldman, serão apresentadas em Portugal, uma magnífica obra onde a violeta solista dialoga com várias combinações instrumentais, do piano a solo à orquestra”.

 

Um elenco de exceção

Filipa Palhares iniciou a formação musical, aos nove anos, no Instituto Gregoriano de Lisboa, onde estudou até 1990, ingressando seguidamente na Escola Superior de Música de Lisboa, onde obteve a licenciatura em Direção Coral.

Nesta escola, estudou com Christopher Bochmann, Sibertin-Blanc, Roberto Pérez, Luís Madureira, Gerhard Doderer, Cremilde Rosado Fernandes e Vasco Azevedo, entre outros. É uma das mais experientes maestrinas portuguesas.

Jonathan Brown estudou com Heidi Castleman, Martha Strongin Katz e Victoria Chiang, concluindo o mestrado na Juilliard School, em Nova Iorque, com Karen Tuttle.

Premiado com a Beebe Grant, passou a residir em Salzburgo, onde estudou, na Universität Mozarteum, com Thomas Riebl e Veronika Hagen.

Foi profundamente influenciado por Ferenc Rados e György Kurtág. Em 2002, integrou o Cuarteto Casals, com o qual se tem apresentado nas salas de concerto mais importantes do mundo.

O Coro Terras sem Sombra é constituído por cantores com sólida experiência coral, formados pelas principais escolas de música nacionais, que se juntam para a execução de obras corais de diferentes épocas.

Fazem parte deste coro Ariana Russo, Margarida Pinheiro e Mariana Cardoso (sopranos), Diana Afonso e Rita Tavares (mezzos), João Afonso e João Barros (tenores) e Luís Pereira e Sérgio Silva (baixos).

O Sond’Ar-te Electric Ensemble apresenta uma proposta inovadora no panorama musical europeu contemporâneo, valorizando a articulação, de forma estruturante, dos instrumentos acústicos com os meios eletrónicos.

Ao elevado padrão de qualidade dos músicos que integram este ensemble, vem associar-se a tecnologia musical de ponta que, ao longo de muitos anos de investigação e experiência, tem sido desenvolvida pela Miso Music Portugal no Miso Studio.

 

A igreja matriz de Sines, palco à sombra da história

Sara Fonseca, coordenadora do projeto Terras Sem Sombra, relembra o cenário memorável da matriz de São Salvador, monumento situado no coração do centro histórico de Sines, e que, dominando a baía, constitui uma referência para a cidade.

Herdeira da basílica visigótica que aqui foi erguida no século V, sob a invocação de São Torpes, no século XIII tornou-se a sede não só da paróquia de São Salvador, mas também de uma colegiada da Ordem de Santiago. Mais tarde, em pleno século XVI, foi alvo de várias remodelações, ao gosto manuelino.

O atual edifício, porém, é fruto de uma campanha de obras, já na primeira metade do século XVIII, sob a orientação de João Antunes, arquiteto régio, que trabalhou assiduamente para as ordens militares. Austero e imponente, possui, além de uma significativa tradição musical, sobretudo no domínio do cantochão, uma acústica notável, e merecedora do concerto que na noite do próximo sábado tomará lugar neste local.

 

Para uma gestão sustentável do litoral: a tempestade Hércules e o percebe

A gestão do litoral português é uma temática deveras atual. Se, por um lado, se coloca a necessidade de desenvolver métodos participativos de gestão de recursos do litoral, dos quais temos exemplos bastante encorajadores na Galiza, por outro, as recentes tempestades atlânticas, com destaque para a Hércules, realçam a necessidade de ordenar espaços e utilizações do território costeiro.

O Festival Terras Sem Sombra alia-se ao CIEMAR (Centro de Oceanografia, Laboratório de Ciências do Mar), da Universidade de Évora, para, em parceria com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e a Administração do Porto de Sines, levar a cabo a ação de voluntariado para a salvaguarda da biodiversidade intitulada “Gestão sustentável do litoral: a tempestade Hércules e o percebe”, na manhã de dia 8 de Junho, pelas 10h00, com incidência na gestão dos recursos costeiros e na monitorização e acompanhamento dos impactos provocados pelas tempestades marítimas. A iniciativa junta músicos e membros da comunidade local, sendo aberta a todos os interessados.

No primeiro caso, o percebe, crustáceo cirrípede do litoral português, muito apreciado e valorizado, é um dos recursos que carece de gestão adequada.

A Universidade de Évora está a desenvolver o projeto PERCEBES – Gestão, Ecologia e Conservação do Percebe, no âmbito do qual se manifesta a necessidade de uma gestão participada dos recursos costeiros.

Os participantes vão compreender a ecologia do percebe, mediante a observação das suas características à lupa binocular.

Quanto ao segundo caso, vão ser observadas e analisadas in situ algumas das consequências da tempestade Hércules, que ocorreu em Janeiro passado.

Neste sentido, desenvolve-se uma ação de recolha de lixo marítimo, por voluntários, na Lagoa da Sancha, zona húmida que, até esse mês, não contactava com o mar há 40 anos. Será uma oportunidade para sensibilizar e atuar no tema preocupante do lixo marítimo.

 

 

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