Repensar Faro!

Todos sabemos que estamos para lá do que é aceitável! Socialmente, assistimos a um crescente degradar das condições de vida […]

Todos sabemos que estamos para lá do que é aceitável!

Socialmente, assistimos a um crescente degradar das condições de vida das pessoas que, devido às suas difíceis condições económicas, se veem obrigadas a escolher entre comer ou alimentar os filhos, aviar apenas parte da receita na farmácia, pagar a renda ao senhorio ou os impostos à Autoridade Tributária.

Todos sabemos haver uma enorme miséria escondida, aliás amplamente difundida nos meios de comunicação social.

Economicamente, assistimos ao encerrar compulsivo de espaços comerciais, uns atrás de outros, ficando os seus proprietários em dificílimas condições económicas, sem apoios, com dívidas a senhorios, fornecedores, Finanças, funcionários, totalmente descapitalizados devido a terem injetado nos últimos três anos toda ou grande parte das suas poupanças pessoais, na expectativa de uma recuperação económica que tarda em surgir.

Em Faro, grande parte das empresas sobrevive dificilmente através de contas caucionadas para fazer pagamentos, apenas adiando o inevitável. Empresas que há muito perderam a capacidade de se reinventar porque não há capital para o fazer, ou mesmo que o fizessem não encontrariam procura suficiente que o justificasse.

A diminuição dos rendimentos das famílias num Concelho com uma grande ênfase na função pública, tem levado a uma crescente diminuição da procura e centra-se cada vez mais nos bens essenciais. Este facto é fatal quando aliado à fraca capacidade para atrair turistas, quer internos quer externos, novos habitantes ou empresas.

A falta de motivação privada que assistimos pode estar em parte relacionada com a inexistência de uma estratégia clara para o concelho, algo tão necessário para motivar e atrair investimentos que revitalizem a economia local.

No setor público, tenta-se justificar o fraco investimento na produção cultural, no apoio às associações, ao desporto, às pequenas reparações, com o facto de não haver verba. A cada solicitação, a resposta centra-se sempre e só nas limitações financeiras.

Impõe-se a pergunta: se ao longo dos tempos a estratégia para Faro não produziu resultados positivos, nem para os habitantes, nem para a economia, dever-se-á insistir no mesmo modelo de desenvolvimento?

Acredita-se existir soluções, contudo não se devem focalizar em medidas de carácter avulso, populista ou inconsequente. Todas as opiniões formadas e conhecedoras acreditam que o Algarve tem as melhores ferramentas para sair rapidamente da crise, seja pelo turismo, pelo mar, pela cultura, ou pelo conhecimento. E muitos reconhecem agora que as estratégias postas em prática até hoje têm falhado sucessivamente.

Por isso implica mudar o paradigma estratégico do concelho, ou seja, reformular da sua vocação económica, tirando partido de todas as valências até aqui esquecidas.

Importa repensar os serviços municipais, enveredar por uma lógica de racionalização dos recursos humanos, de verdadeira liderança democrática e participativa, com a definição de uma lógica global de trabalho por objetivo e recompensa, bem como torná-los agentes na ajuda técnica à população, na ajuda técnica ao investidor e na ajuda técnica às muitas associações do Concelho.

Importa reequacionar e reformular o seu modelo económico, numa clara aposta no turismo cultural, que só peca por tardia. Importa reequacionar as estruturas de lazer, melhorar o acolhimento, criar uma estratégia encontrando meios locais, nacionais ou comunitários para a revitalização do seu tecido urbano. Importa criar condições para fixar população jovem no Centro, acarinhar e apoiar iniciativas privadas que tirem partido do mar.

Importa facilitar e promover as apostas na Cultura e agilizar procedimentos, sobretudo para as áreas de negócio que se considerem estratégicas. Para que tal seja possível, se houver necessidade de alterar regulamentação existente, então há que encetar esse caminho e mostrar claramente que não só existe estratégia, mas também existe vontade e os meios legais para a pôr em prática. No entanto, qualquer que seja a aposta para Faro, há que a confrontar com os efeitos práticos na economia local, na criação de emprego e na capacidade para atrair investimento.

Sobretudo importa promover Faro! Importa comunicar o que Faro tem de melhor para oferecer a quem nos visita.

Faro tem um potencial enorme, contudo escondido, não divulgado, com informação dispersa, não organizada nem sistematizada, facto que prejudica o seu desenvolvimento.

Somos por excelência um país de mar e sol, património e cultura secular, gastronomia e hospitalidade ímpares, um país com engenho e comprovada criatividade, que nunca receou a mudança. Somos uma região turística de excelência.

Faro, um Concelho de mar, Ria e sol, ruralidade, património e cultura secular, gastronomia, produção de conhecimento académico, ímpar em infraestruturas de transportes e com um importantíssimo legado patrimonial no contexto regional, de que é que está à espera?

Para quando uma viragem para o turismo, para os desportos na Ria e no mar, para a natureza, para a habitação jovem, para a reabilitação urbana, para o bem-estar, para a qualidade de vida, para a indústria criativa, para a produção industrial ou para a inovação?

 

Autor: Miguel Caetano é arquiteto

 

 

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