Mariscadores de ocasião arriscam a saúde por uma refeição

Em tempo de crise, a Ria Formosa ajuda ao sustento de muitos, mas este sustento também pode causar muitos problemas […]

Em tempo de crise, a Ria Formosa ajuda ao sustento de muitos, mas este sustento também pode causar muitos problemas intestinais e até paralisia.

Ao longo do verão de 2012 tornou-se imagem muito comum, nas ilhas-barreira e junto à Ria, ver o cidadão comum e o turista a apanhar conquilha, algo que até seria relativamente inocente, não estivesse a apanha deste bivalve interdita em diversas áreas da região, devido à presença de toxinas.

Um dos locais onde esta imagem se repete diariamente é na Fuzeta. Na praia junto à localidade, banhada pela ria, e na ilha, quer no lado da zona lagunar quer no lado do mar, o vazar da maré atrai muitos curiosos que, com os pés e as mãos, ou instrumentos de ocasião, vão escolhendo as conquilhas e enchendo recipientes com os saborosos bivalves.

Uma situação que, para os profissionais da pesca, é «um perigo para a saúde pública». Os mariscadores profissionais estão proibidos de fazer a apanha e, embora não vejam nesta atividade particular uma ameaça ao seu negócio, não deixam de estranhar a permissividade das autoridades, quando os profissionais são fortemente penalizados caso prevariquem.

«A Ria Formosa tem muitas virtudes e, como eu costumo dizer, constitui uma almofada que amortece os problemas do desemprego. Mas, neste caso, a Marinha está a brincar com a saúde das pessoas», disse ao Sul Informação o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Sul Josué Marques.

O sindicalista admitiu ainda que esta é uma situação «frustrante» para os mariscadores, já que, acusou, as autoridades, caso apanhem os profissionais a cometer «a mais pequena infração, passam logo coima», naquilo que apelidou «excesso de zelo».

Segundo garantiu ao nosso jornal o Capitão do Porto de Olhão Luís Duarte, na área de influência desta capitania a «vigilância foi reforçada», bem como as iniciativas de sensibilização sobre os perigos de apanhar bivalves, durante um período de interdição. «Informámos os concessionários para, por sua vez, darem instruções aos nadadores-salvadores para que alertem as pessoas de que a apanha está proibida», revelou.

No caso da zona de Olhão e de Faro, a proibição incide não apenas na Ria Formosa, mas também na zona oceânica, como se pode ver no site do Ipimar. Mas esta é uma realidade que parece passar ao lado de muitos veraneantes.

Uma turista, depois de passar uma temporada na Ilha do Farol, comentava que, «este ano, as pessoas, numa hora, apanham umas conquilhas de manhã para o almoço e depois voltam a apanhar à tarde para o lanche». Esta aparente abundância de marisco poderá estar ligada «ao facto de a proibição estar a durar mais este ano do que é habitual», considerou Luís Duarte.

Apesar de admitir que «há coimas previstas para os particulares, como há para os profissionais», a atitude da Capitania de Olhão tem sido «de pedagogia» e comparou a situação da apanha de bivalves em alturas de interdição por particulares «com a questão das arribas».

Já Josué Marques, pede a mesma atitude em relação aos profissionais, ou seja, «mais pedagogia e menos repressão».

Luís Duarte garantiu que, no próximo verão, pretende intensificar a divulgação dos períodos de interdição. «Equacionamos colocar o edital de interdição junto dos locais onde estão os editais de Praia, bem como pedir aos concessionários das carreiras marítimas para as ilhas que afixem os editais nos seus barcos», assegurou o capitão do Porto de Olhão.

Entretanto, sem saber os perigos que correm, centenas de pessoas dedicam-se a apanhar conquilhas nas praias.

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