Exposição “eKlogia” para ver em Faro até amanhã

A exposição “eKlogia” abriu no dia 6 de junho e vai estar patente até amanhã, dia 12, na Escola de […]

A exposição “eKlogia” abriu no dia 6 de junho e vai estar patente até amanhã, dia 12, na Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, no Largo de São Francisco em Faro, com o objetivo de chamar a atenção para a mais grave crise que a humanidade enfrenta: a ecológica.

Promovida pela Sociedade Bíblica de Portugal e pela Associação A Rocha – uma das primeiras organizações ambientalistas portuguesas e a primeira de inspiração cristã, fundada precisamente no Algarve, mas já presente nos cinco continentes do mundo –, a iniciativa tem dois objetivos: alertar a sociedade, e particularmente os cristãos, para a emergência da questão ambiental e mostrar que as Igrejas cristãs querem ser parceiras e aliadas no combate a este problema.

O diretor de operação da associação A Rocha começou mesmo por lembrar aos responsáveis de algumas Igrejas cristãs algarvias no workshop “Igreja Verde”, que precedeu a abertura da exposição e que contou com a presença do bispo D. Manuel Quintas, da Igreja Católica do Algarve, e do pastor Neílson Amorim, da Igreja Evangélica Batista de Faro, que esta é responsabilidade acrescida dos cristãos. “Cuidar e proteger a Terra é um mandato bíblico”, lembrou Manuel Felgueiras, considerando ser sobre os que leem a Bíblia que recai, particularmente, este dever.

Timóteo Cavaco, secretário-geral da Sociedade Bíblica, acrescentaria já na sessão de abertura que, apesar de 70% da população portuguesa ter Bíblia, apenas 5% a leem com regularidade. “Há aqui um desafio enorme, da parte de todos nós, de que a Bíblia seja mais lida e, consequentemente, mais cumprida”, evidenciou.

Já o presidente da associação A Rocha explicou, na sessão de abertura, que “os cristãos não estão apenas a juntar-se à proteção ambiental” mas “estão a dar um contributo diferente”. “A proteção ambiental para o cristão tem a ver com a perceção de que a criação não nos pertence mas é de Deus”, sustentou Manuel Rainho.

Também Tiago Branco, diretor executivo da mesma associação, considerou que a Terra “pertence a Deus por via da criação” e a cada ser humano “por delegação”. “Isto significa que Deus nos entregou a responsabilidade de cuidar dela e esta responsabilidade implica deixarmos as mesmas condições para as gerações que nos vão seguir”, afirmou na visita guiada após a sessão de abertura, lembrando que os vindouros terão de viver “com o resultado da maneira como nos relacionamos com a nossa terra”.

O pastor Neílson Amorim também se centrou na mesma ideia. “Temos a tarefa de guardar esta terra e não apenas explorá-la”, referiu, apelando à consciência ecológica dos cristãos para voltarem ao seu “papel de pessoas que zelam pela Terra”. “É preciso preservar a Terra, não apenas para nós mas para os filhos dos nossos filhos e para toda a criação que nela habita”, exortou.

Tiago Branco lembrou então que “a primeira grande mudança acontece quando aprendemos a desfrutar de tudo o que Deus nos deixou”.

“Sentimo-nos instigados a conhecer, a estudar e incentivados a cuidar. Para a Igreja, conhecer, apreciar e cuidar da natureza faz parte de quem somos, faz parte do nosso ADN”, sustentou, acrescentando que a Igreja “age por convicção e por princípio e não apenas por ter medo das consequências”.

Sobre estas, lembrou que, “quando o ser humano decide viver só por si, afastado do princípio de vida que Deus criou, para passar a acumular riqueza, poder e conforto só para si”, essa “rejeição da vida” “tem como única consequência a morte e a destruição”. “A rebeldia para com Deus tem gerado egocentrismo, ganância e morte”, destacou Tiago Branco.

Neste contexto, aquele responsável, referiu-se ao conceito de “pegada ecológica” para assegurar que apenas 20% da população mundial consome 80% dos recursos do planeta e que, em Portugal, cada pessoa consome aproximadamente, por ano, 4,5 hectares (campos de futebol) de recursos naturais que o planeta produz, valor que nos EUA é de 8 hectares (campos de futebol). “Em 2030 serão necessários dois planetas para que toda a gente viva da mesma forma como vive agora. E se todos os habitantes do planeta (sete biliões) decidirem viver como vivemos hoje, serão necessários três planetas”, estimou, lembrando que, em 1986, e pela primeira vez, a humanidade gastou exactamente o equivalente à produção anual de recursos da Terra.

Tiago Branco explicou que a população continuou a aumentar e a consumir ainda mais e que, em 2011, a humanidade já havia consumido o equivalente a toda a produção anual do planeta a 27 de setembro, o chamado overshoot day.

Neste sentido, o diretor executivo da associação A Rocha considerou que “não é possível ser cristão e viver como se nada disto existisse e como se isto não fosse verdade”. “Continuamos a viver na ilusão de que isto tem sempre remédio. A única maneira é mudar comportamentos. Muitos esperam encontrar novos sistemas solares porque não lhes passa pela cabeça alterar a sua vida”, lamentou.

Tiago Branco rejeitou qualquer tipo de “discurso catastrofista ambientalista”, garantindo que os cristãos têm “esperança no futuro” de “que o comportamento do homem, na maneira como se relaciona com o ambiente, também mude”. “Não precisamos de ter a convicção de que vamos salvar o mundo, mas de que estamos a viver como Deus quis e de que estamos a fazer o certo”, sustentou.

A abertura da exposição, que contou ainda com a presença da vereadora da Câmara de Faro Alexandra Gonçalves, e de um representante da Sociedade Bíblica de Inglaterra, apontou também ao futuro. Timóteo Cavaco desejou que o evento “não se esgote numa exposição”. Também nesse sentido já tinha intervindo Marcial Felgueiras que apelou à redução do consumo de energia das Igrejas algarvias. Aquele ambientalista, que considerou que “a razão para o descalabro ambiental teve a ver com a falta de refreamento da revolução industrial”, disponibilizou mesmo, para esse efeito, o acompanhamento técnico da associação A Rocha.

A exposição, que possibilita a cada visitante, por exemplo, calcular a sua “pegada ecológica” e levar dicas para diminuir o seu impacto, foi praticamente toda concebida e produzida no Algarve por três empresas algarvias: Nata Design, Motivo Gráfico e We Make Productions.

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