Alunos “difíceis” de escola de Portimão dão receita para a criatividade no Festival Tell

Uma receita de pastel de nata, outra de bola de Berlim, tudo isto ao ritmo do hip-hop, com efeitos de […]

Uma receita de pastel de nata, outra de bola de Berlim, tudo isto ao ritmo do hip-hop, com efeitos de beat box e totalmente às escuras. Este é o resumo da performance de oito minutos que os 17 alunos de uma turma da Escola EB 2,3 D. Martinho de Castelo Branco vão apresentar esta quinta-feira à noite, em mais uma sessão (a última) do Festival Tell, no Teatro Municipal de Portimão.

Os 17 alunos, entre os 12 e os 16 anos, andam no 7º ano e estão integrados na turma do Percurso Curricular Alternativo. A escola diz-lhes pouco, alguns têm histórias de vida complicadas, são alunos “difíceis”, mas todos têm uma característica comum: uma grande criatividade.

E foi a partir daqui que a professora Fátima Mártires, responsável pela Oficina de Teatro, começou a trabalhar no início do ano letivo, com a ajuda preciosa de dois outros professores: o diretor de turma Vasco Dantas e Carla Travessa, de Educação Musical.

«Mas eles é que fizeram tudo: a letra, a música, tudo», explica Fátima Mártires. Já que a sua performance vai ser feita totalmente às escuras, facto que é uma das características mais originais do Festival Tell, a turma também tem estado a ensaiar às escuras, no auditório da escola.

Há duas semanas, quando a segunda sessão do Festival Tell trouxe a Portimão o rapper Chullage e Pacman/Algodão, o grupo de 17 miúdos foi ao Teatro Municipal ver como era. A Núria, responsável pela letra da performance que a turma vai apresentar esta semana, no mesmíssimo palco onde os dois músicos consagrados se apresentaram, estava feliz da vida, porque Pacman lhe deu o seu email para ela enviar letras e lhe disse: «ainda nos vamos ver um dia no mundo da música».

Mas houve outras performances que captaram a atenção da turma. Como a da atriz Flávia Gusmão, que, tendo o som do metropolitano de Lisboa como fundo, ia enumerando uma lista de coisas a fazer, desde as mais triviais, até às mais importantes. «No início, não estava a perceber nada, mas depois percebi e aquilo entrou fundo», comentou Donell, um dos alunos, com um sorriso.

João, outro dos membros do grupo, imagem ao estilo hip-hop dos seus ídolos, é parco em palavras quando se trata de falar com a reportagem do Sul Informação. Mas os colegas e professores dizem que é bem mais eloquente com a sua música. Sobre o que viu no Tempo, apenas comenta: «foi fixe, curti».

O que viram naquela noite serviu para, durante as últimas duas semanas, dar mais uns retoques na sua própria performance. «Eles viram sobretudo que, no escuro, a gente vê muito mais do que pensa», salientou Fátima Mártires.

Desde o início do ano letivo que o grupo está a trabalhar, e não só no âmbito das disciplinas de Oficina de Teatro ou Oficina de Artes. «Têm também trabalhado nas outras disciplinas, como na Matemática, aprendendo a fazer um orçamento para a receita do bolo, na Físico-Química, ao falar do som, na Educação Física, trabalhando o movimento», explicou a professora.

Em palco vão estar a Mariana, a Irina, a Cristina, a Rita, a Ana, o Martim, o Miguel, o João, o Filipe, o Iuri, o Ítalo, o Donell («com um ene e dois eles», esclarece, com o seu habitual sorriso), o Cristiano, o outro Miguel, o Ãz-Eddine, o Ricardo e a Núria.

E o que vão fazer? «Vamos apresentar uma receita», explica a Núria. «Vamos falar. Bem…não é bem falar, é mais cantar», acrescenta o Donell. «E ali pelo meio vamos fazer mais umas coisas», diz ainda. O João, por exemplo, vai fazer um pouco de improviso, bem ao jeito do hip-hop, o Donell dará uma ajuda com os sons que consegue fazer só com a boca e que se chamam «beat box». E todos vão participar, cantando, falando, fazendo sons, soltando pregões.

O Sul Informação já assistiu a uma pequena amostra e pode garantir que estas receitas dos alunos do PCA da Escola D. Martinho Castelo Branco são realmente de fazer crescer água na boca. E de salivar com tanta criatividade.

A turma sobe ao palco do pequeno auditório do Teatro Municipal esta quinta-feira, dia 24 de novembro, às 21h30, na sessão que fecha a passagem do Festival Tell por Portimão.

Antes deles, as performances deste último dia estarão a cargo de Inês Vicente, Joana Craveiro, Joclécio Azevedo, David dos Santos, Migas e Nuno Aires (sim, esse mesmo, o vice-presidente do Turismo do Algarve).

E na sexta-feira, em Faro, no Teatro Lethes, em vez dos jovens de Portimão, o palco será ocupado por alunos de teatro da Escola Secundária Tomás Cabreira. O Sul Informação também voltará a falar disto.

 

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