Escavações arqueológicas regressam a Cacela Velha e também serão para estudantes

Será, desde logo, um campo arqueológico, onde se juntarão dezenas de investigadores para tentar descobrir os segredos que Cacela Velha […]

Será, desde logo, um campo arqueológico, onde se juntarão dezenas de investigadores para tentar descobrir os segredos que Cacela Velha ainda esconde. Mas o projeto que permitirá fazer nova campanha de arqueologia nesta histórica vila do concelho de Vila Real de Santo António também será uma forma de passar o conhecimento aos mais novos, através da realização de campos escola, destinados a alunos universitários e do secundário.

A Universidade do Algarve, a Direção Regional de Cultura e a Câmara de Vila Real de Santo António uniram-se para pôr de pé o projeto “Muçulmanos e Cristãos em Cacela Medieval: território e identidades em mudança”, que permitirá que, pelo menos nos próximos quatro anos, cientistas portugueses e estrangeiros possam estar no terreno, a aprofundar o conhecimento sobre o passado de Cacela Velha.

O protocolo de colaboração entre as três entidades foi assinado na sexta-feira e os trabalhos deverão começar no Verão.

Ainda antes disso, Cacela será o ponto central de uma ação que juntará estudantes da Universidade do Algarve e seus congéneres canadianos.

«O campo escola de arqueologia será, principalmente, destinado a estudantes universitários, embora ainda estejamos a ponderar incluir estudantes do secundário das escolas de VRSA, logo de início, incluindo nas ações de formação», segundo Maria João Valente, professora e investigadora da UAlg, que coordena o projeto em conjunto com Cristina Garcia, da DR de Cultura do Algarve.

Cristina Garcia (de pé) e Maria João Valente, coordenadoras do projeto

«Nós temos planeadas quatro semanas de trabalho de campo, que serão antecedidas de uma semana de formação em sala, na UAlg. Nela, vários colegas, entre antropólogos, geólogos, historiadores e arqueólogos, formarão os alunos antes destes irem para o campo», acrescentou.

Já garantida, está a presença de estudantes da universidade canadiana Simon Fraser University, parceira deste projeto. No futuro, a participação poderá ser alargada a instituições de outros países.

Para Maria João Valente, «é extremamente importante esta questão da formação, bem como a componente de identificação da população com o património». Até porque, principalmente no que toca aos alunos do secundário, a participação neste tipo de iniciativas pode ser um inventivo a seguir carreira na área.

«Este é um projeto que, para mim, é muito aliciante, porque junta uma série de dimensões. Não só tem a componente de investigação, que é aquela que mais facilmente associamos a este tipo de iniciativa, mas também tem uma vertente de ensino e, acima de tudo, uma vertente societária, que é a de passar o conhecimento par a comunidade», reforçou a professora da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS) da UAlg.

Isto é possível, salientou, porque se «conseguiu juntar os parceiros ideais para fazer isso tudo». «O apoio do município de VRSA foi excelente desde o início, a Direção Regional de Cultura tem sido incansável. Entretanto, temos mais uma série de parcerias a ser estudadas, algumas já bastante robustas, apesar de ainda ser cedo para as revelar», acrescentou.

Da esquerda para a direita: Alexandra Gonçalves, Conceição Cabrita e Paulo Águas

Os trabalhos de campo de investigação vão decorrer «entre meados de Junho e meados de Julho» deste ano, e juntarão «uma equipa relativamente extensa» e multidisciplinar. «Vamos ter 25 pessoas no terreno, de forma constante. Depois, o trabalho que for desenvolvido no campo, será analisado durante o resto do ano em laboratórios da UAlg, mas também das universidades de Évora e de Lisboa».

«O que conhecemos de Cacela é o núcleo urbano, a zona exterior do bairro islâmico e a implementação da necrópole cristã por cima. Falta-nos, por exemplo, a necrópole islâmica, saber onde se enterravam os mortos naquele período. Já temos uma boa ideia de onde poderá estar, temos agora de fazer escavações para o confirmar», explicou Maria João Valente.

Encontrar a necrópole islâmica é algo «muito importante», pois permitirá resolver alguns dos mistérios que ainda envolvem Cacela Velha, nomeadamente perceber se os habitantes de então «eram aparentados com a população cristã» que se seguiu. «Imaginemos que as últimas populações islâmicas não desapareceram e continuam no terreno e se misturam com os novos colonos cristão. Isso é algo que gostaríamos de saber», revelou.

Com as escavações que serão agora feitas, também se pretende perceber qual o impacto social da colonização cristã e se esta levou a grandes mudanças no estilo de vida ou se, pelo contrário, se adaptou ao dos que já ocupavam o território.

Descobrir a localização do porto que existiria no período islâmico, a sua dimensão «e a sua importância como ponto de passagem ou até mesmo dentro das rotas que ligam a Península Ibérica a Marrocos» é outro objetivo da campanha.

O protocolo que permitirá aos investigadores voltar ao terreno, em Cacela Velha, foi assinado pelos representantes máximos das três entidades envolvidas, numa cerimónia que decorreu em Vila Real de Santo António.

E ficou claro, pelas palavras tanto da anfitriã Conceição Cabrita, presidente da Câmara de VRSA, como do reitor da UAlg Paulo Águas e da diretora regional de Cultura Alexandra Gonçalves, que este é um casamento que se quer de sucesso e, de preferência, que continue depois de 2020, ano até ao qual o acordo se manterá em vigor.

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