Escolas de Olhão juntam-se ao combate contra a poluição nos oceanos

A luta contra a poluição dos oceanos, a nível nacional e internacional, está a criar fortes aliados, em Olhão.  O […]

Carla Pacheco e Nuno Magalhães

A luta contra a poluição dos oceanos, a nível nacional e internacional, está a criar fortes aliados, em Olhão.  O Agrupamento Escolar João da Rosa, deste concelho, é o único do Algarve envolvido no projeto “Escola Azul”, uma iniciativa nacional que está ainda numa fase experimental, cujo objetivo principal é aumentar a literacia sobre os oceanos e promover uma mudança de mentalidade.

«Para já, trata-se de um projeto-piloto. Foram escolhidos alguns estabelecimentos de ensino, que servirão para o arranque do Escola Azul. Se este projeto funcionar, a ideia é implementá-lo a nível nacional, e, se calhar, a nível europeu», segundo Carla Pacheco, bióloga marinha e representante da Associação de Pais do Agrupamento de Escolas João da Rosa neste projeto. As entidades organizadoras são o Oceanário de Lisboa, a Ciência Viva e a Direção Geral da Política do Mar.

«O grande problema com que nos debatemos é a poluição e o lixo nos oceanos. Estima-se que haja uma média de oito milhões de toneladas de lixo a entrar nos oceanos, todos os anos – e esta é a estimativa mais otimista. É por isso que estão a surgir tantas entidades governamentais e não governamentais preocupadas», explicou Carla Pacheco ao Sul Informação.

O grande objetivo é «tentar mudar o rumo das coisas», tendo em conta que «estamos a caminhar para um cenário catastrófico», apostando, para isso, na sensibilização da população mais jovem. Assim, o projeto Escola Azul envolve crianças e jovens desde o pré-escolar ao 9º ano.

O lixo e a poluição nos oceanos é o tema central do projeto, com um enfoque muito especial no plástico que se acumula, cada vez mais, nos mares. Mas a forma de passar a mensagem é diferente, em cada um dos estabelecimentos envolvidos. No Algarve, o símbolo escolhido foi o cavalo-marinho.

«A cada um dos agrupamentos envolvidos no projeto foi pedido que escolhessem um tema que estivesse de alguma forma relacionado com a escola. Nós, tendo em conta a relação próxima que este agrupamento tem com a Ria Formosa, quisemos que fosse algo relacionado com ela», ilustrou Nuno Magalhães, o professor que coordena este projeto, no Agrupamento João da Rosa.

O professor lembra que este sistema lagunar «é um dos parques naturais mais importantes do país e tem uma biodiversidade extraordinária». Uma das suas principais caraterísticas «são as pradarias de ervas marinhas, aquilo que, localmente, se designa por sebarrinha».

Estas plantas, que vivem dentro de água salgada, «têm uma importância ecológica enorme, já que fixam dióxido de carbono, combatendo o seu aumento na atmosfera e são um reduto de biodiversidade».

«É nestas pradarias que a maior parte dos peixes com interesse comercial se reproduz, porque os juvenis estão protegidos. Estas ervas também servem como depuradoras, retirando poluentes da água – absorvem nitratos, carbono e outros. Portanto, é muito importante protegê-las», considerou Nuno Magalhães.

Estas caraterísticas das pradarias de ervas marinhas fazem com que muitas espécies as escolham como casa. Entre elas, conta-se o cavalo-marinho. «A nossa ideia foi pegar numa espécie emblemática, para, através da sensibilização para a sua preservação, proteger o ecossistema das ervas marinhas», acrescentou.

O projeto Escola Azul arrancou há poucos meses e durará dois anos. E se, nesta primeira fase, foi necessário fazer muito trabalho preparatório, nem por isso se deixou de envolver os alunos do agrupamento.

«Estamos neste momento na fase de sensibilização para o projeto. Apostámos muito nos alunos do pré-escolar e 1º ciclo. Estamos a trabalhar de perto com os professores, que tiveram alguma formação», referiu Nuno Magalhães.

Os professores falam com as crianças sobre o tema e desafiam-nas a fazer desenhos e outros trabalhos, usando a sua criatividade. «Também queremos levar cada uma das turmas de pré-escolar e do 1º ciclo ao Centro Ciência Viva do Algarve, em Faro, para terem um pequeno workshop», acrescentou o professor da João da Rosa.

«No que toca aos mais velhos, os alunos do 2º e 3º ciclo, queremos levar a cabo ações na Ria Formosa, com o apoio do CCMar e da Universidade do Algarve. Não serão de observação direta do cavalo-marinho, mas sim focadas no ecossistema onde ele vive. E também vamos levar algumas turmas à estação de investigação do Ramalhete, onde existe um projeto de reprodução de cavalos-marinhos em cativeiro», antecipou.

Outra ação que será promovida no âmbito deste projeto são os workshops sobre plástico nos oceanos, que Carla Pacheco irá dirigir. A representante da Associação de Pais recebeu, do Oceanário de Lisboa, formação específica nesta área.

Neste caso, a ideia é começar de forma mais localizada e ir estendendo a toda a região. «As escolas já começaram a receber os convites e vamos começar a marcar as oficinas de trabalho».

«Acho que este projeto faz todo o sentido, não só nas localidades mais próximas do mar, mas a nível global. É verdadeiramente assustador, se olharmos para a poluição dos oceanos com olhos de ver», defende Carla Pacheco.

No final, pretende-se que cada um dos alunos envolvidos no projeto, «como cidadão, perceba que, apesar de ser uma pequena gota de água neste “oceano”, pode dar um contributo para a mudança».

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