O dia em que D. João I visita Lagos para desfilar e cear

Javali estufado em vinho tinto e mel, caldo de galinha e ervas, papas centeias, peros assados com espécies. Estas são […]

Banquete servido por João de Gaunt, Duque de Lancaster, ao seu genro D. João I de Portugal, numa iluminura do século XV
Banquete servido por João de Gaunt, Duque de Lancaster, ao seu genro D. João I de Portugal, numa iluminura do século XV

Javali estufado em vinho tinto e mel, caldo de galinha e ervas, papas centeias, peros assados com espécies. Estas são apenas algumas das iguarias que poderão ser degustadas na Ceia Medieval programada para amanhã à noite, na Igreja das Freiras, em Lagos.

A Ceia Medieval é um dos pontos altos do primeiro dia do Festival dos Descobrimentos, que começa amanhã, às 15h00, com o Cortejo Histórico, que tem como mote “A viagem de D. João I para Ceuta, tendo como local de Partida a cidade de Lagos”.

Augusto Lima, o chef que vai coordenar a confeção do repasto para 80 pessoas, com a ajuda dos aprendizes dos Cursos Profissionais de Restauração e Bar e de Cozinha e Pastelaria do Agrupamento de Escolas Júlio Dantas, explicou ao Sul Informação que a ementa é baseada «no que se comia na época de D. João I, no fim da Idade Média e ainda antes de os Descobrimentos nos trazerem toda uma série de novos alimentos, condimentos e ingredientes».

«A experiência que já tenho destas recriações e a investigação que tenho feito, diz-me que naqueles tempos medievais as comidas eram muito agridoces, para mascarar o sabor, já que as carnes, por exemplo, por vezes já cheiravam mal. Daí o uso, por exemplo, do mel, que vou colocar no javali estufado», disse ainda.

600 anos depois, o mel e todos os outros ingredientes servem apenas para recriar as refeições dos tempos de D. João I, já que os produtos usados são de grande qualidade e frescura. Assim, entre acepipes e pratos principais, a ementa inclui pataniscas de peixe do rio, tiborna de alho e toucinho frito, favas com linguiça e ervas de cheiro, tábua de enchidos e queijos do reino, caldo de galinha e ervas, javali estufado em vinho tinto, papas centeias, peros assados com espécies e farrapos de couve.

Descobrimentos_FeiraNo capítulo das sobremesas, serão servidas tortas de Santiago (com amêndoa e canela, que já começa a haver), fruta fresca (maçãs, uvas, melancia e melão), frutos secos (amêndoa e noz), e fartéis, um biscoito feito no forno, com amêndoa, maçã e espécies.

Para beber, haverá hidromel, cerveja preta, vinho tinto e água. Tudo isto será servido sobre duas longas mesas de banquete, cobertas com toalhas de linho, havendo sobre a mesa fogaças de castanhas e torresmos. «Pedi para só colocarem colheres na mesa, porque naqueles tempos não se usava garfo e faca. O que era sólido era comido com as manitas».

A Ceia será complementada com animação musical com o Grupo Coral de Lagos e a Academia de Música de Lagos.

O local será a nave da antiga Igreja de Nossa Senhora do Carmo, mais conhecida como Igreja das Freiras, sendo que o ponto de encontro está previsto para as 19h45 na Praça do Infante (junto do Armazém Regimental).

Os bilhetes para esta Ceia custam 20 euros e estarão à venda no Centro Cultural de Lagos.

O chef Augusto Lima, que há quatro anos dá aulas nos cursos profissionais dos Agrupamentos de Escolas de Lagos, salienta que «a participação dos alunos nestes eventos fá-los crescer profissionalmente. Para eles, tudo isto, a confeção de todos estes pratos diferentes, é uma novidade e é, sobretudo, algo que eles não fariam numa sala de aula normal. Para eles, é sempre uma aprendizagem».

Depois do trabalho de dois dias a confecionar tudo, amanhã à tarde mestre e alunos irão instalar-se na cozinha improvisada na antiga sacristia. «Aqui vamos só aquecer e empratar», explica o chef Augusto Lima.

O serviço será assegurado pelos alunos, devidamente trajados à época, aliás tal como os comensais. É que, para a Ceia Medieval, é obrigatório o uso de traje da época (o século XV), mas o Município disponibilizará túnicas aos participantes que não tenham traje próprio, no Armazém Regimental.

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Mas o Festival dos Descobrimentos arranca umas horas antes, às 15h00, com o Cortejo Histórico que vai desfilar pela principal Avenida de Lagos, com perto de 1500 figurantes, dos quais 1387 são alunos das escolas públicas (1131) e privadas (246) do concelho, acompanhados de professores, pessoal não docente, e outros voluntários, nomeadamente os ligados às associações e coletividades.

Entre toda esta gente trajada a preceito, para representar, uma vez mais, a sociedade do século XV, nos alvores dos Descobrimentos, estará Maria Joaquina Matos, presidente da Câmara, e pelo menos a vereadora da Cultura, Maria Fernanda Afonso.

O Cortejo Histórico será encabeçado por El-Rei D. João I e os seus filhos. Seguem-se as classes sociais da época (Clero, Nobreza, Burguesia e Povo). Na cauda do desfile, seguirão os leprosos e mendigos, gente sem direitos e marginalizada, interpretados por alunos do Agrupamento de Escolas Júlio Dantas. O Cortejo partirá do Mercado do Levante, com destino à Praça do Infante, o palco privilegiado da Feira dos Descobrimentos.

Nesta Feira, além de expositores locais, entre escolas, associações de pais, IPPS e associações do concelho a vender os seus produtos para angariar fundos, haverá ainda os habituais feirantes, que vêm de fora.

Ana Grade, do departamento de Comunicação da Câmara de Lagos, acrescentou que «a animação será uma constante na Feira dos Descobrimentos, em parte feita pelas escolas e associações locais, que apresentarão música, dança e representações». Haverá também espetáculos com grupos de fora, teatro de fantoches, recriações de momentos históricos.

Mas animação não ficará apenas na Praça do Infante e no Jardim da Constituição, já que, este ano pela primeira vez, «estende-se a toda a zona do centro histórico. Através da ACRAL, foi feito um convite a todos os comerciantes e donos de restaurantes dessa zona para se unirem ao Festival e também eles terem um ambiente de festa no seu estabelecimento. Houve de facto algumas adesões e o município até lhes emprestou as roupas necessárias».

No dia 1 de Maio, à noite, haverá um espetáculo de música e dança africanas, por um grupo que, antes, vai dar uma oficina de dança africana, para quem quiser aprender um pouco mais e divertir-se. «Não é preciso inscrição. Quem quiser é só juntar-se a eles!», disse Ana Grade.

Descobrimentos_Assalto-ao-Forte-de-Lagos_Praia-da-BatataNo sábado, dia 2, às 18h00, haverá um outro cortejo histórico, mas mais curto, organizado pelo Teatro Experimental de Lagos, que se chama «Corte Real Infantil», por envolver sobretudo crianças. Este cortejo, disse ainda Ana Grade, conta com o apoio «de uma costureira de Lagos, a Corine, que se tem especializado em roupas para teatro e para estas recriações históricas».

A Feira funciona das 15h00 às 23h00, exceto no último dia, domingo, em que encerra às 22h00.

Os quatro dias deste Festival dos Descobrimentos mergulham a cidade de Lagos no século XV, para relembrar a etapa que a historiografia nacional inscreveu como o início da expansão portuguesa – a tomada de Ceuta, em 22 de Agosto de 1415. Uma página da História de Portugal na qual Lagos desempenhou um papel importante.

Conheça toda a programação do Festival em www.cm-lagos.pt

 

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