Não é a primeira vez que a Praia do Forte Novo, em Quarteira, fica destruída. Há um ano, o temporal marítimo que afetou a costa algarvia já havia deixado esta zona sem areal e destruído parte dos passadiços, mas desta vez a devastação foi ainda maior.
A praia do Forte Novo, que aguarda desde 2020 por um reforço de areia, ficou irreconhecível depois da passagem da tempestade Jana, que trouxe muita chuva, vento e ondas de 4 a 4,5 metros.
Telmo Pinto, presidente da Junta de Freguesia de Quarteira, não esconde a preocupação e diz mesmo que «parte do passadiço que ainda resiste e aquela estrutura de betão que ali está vão, mais tarde ou mais cedo, cair», situação que já levou a Câmara de Loulé a vedar aquela zona, ao final da tarde desta quinta-feira, 13 de Março.
«A APA [Agência Portuguesa do Ambiente] era para fazer, de 10 em 10 anos, reposição das areias, para nós conseguirmos manter as praias, esse é o objetivo. Mas já vamos com 14 ou 15 anos que não fazemos, isto já se sabia que ia acontecer. Se não formos céleres a pensar e a executar as coisas vamos ter estes problemas», salientou, em declarações ao Sul Informação.
Em Agosto do ano passado, Maria da Graça Carvalho, ministra do Ambiente, chegou a dizer que a alimentação artificial das praias do troço litoral Quarteira-Garrão poderia estar concluída até ao Verão deste ano, mas não adiantou qualquer data para o lançamento do concurso, nem para o início das obras.
«Não sei se na época estival, porque depende de quanto é que demora o concurso público e depois ainda temos oito meses de obra. Se não, ou faz-se durante, ou se interrompe e acaba-se até ao fim do ano», referiu a ministra, a 7 de Agosto, quando se deslocou ao Algarve para anunciar um investimento de mais de 16 milhões de euros para a proteção do litoral da região.
Esta sexta-feira, 14 de Março, na conferência de imprensa após a reunião da Subcomissão Regional da Zona Sul da Comissão de Gestão de Albufeiras, em Faro, Maria da Graça Carvalho e Pimenta Machado, presidente da APA, referiram que, neste momento, o projeto está pendente de autorizações do ponto de vista arqueológico, uma vez que, muito perto, se localiza o sítio arqueológico de Loulé Velho.
Ainda assim, se tudo correr bem, o concurso será lançado no último trimestre deste ano. «Não virá a tempo deste Verão, mas virá do próximo», garantiu Pimenta Machado.

Quase no fim do primeiro trimestre deste ano, Telmo Pinto não esconde o receio de que esta intervenção «possa vir a não acontecer sequer». «Já passaram estes anos todos, já falhámos. Devíamos estar já a pensar na próxima reposição e ainda nem fizemos esta», disse.
O presidente da Junta de Freguesia de Quarteira, que é também candidato do PS à Câmara de Loulé nas próximas autárquicas, frisou ainda que «a Junta e a Câmara, neste momento, não podem fazer nada porque já fizeram tudo o que podiam».
«A Câmara ajudou nos estudos, porque os molhes também vão ser refeitos, deu todo o apoio que podia dar, mas o resto agora não depende de nós, depende da APA», reforçou ao nosso jornal.
A operação prevista para o troço de Quarteira ao Garrão, com um investimento total aprovado de 14,9 milhões de euros, consiste na alimentação artificial deste troço, numa extensão de 6,6 quilómetros, combinando a reposição de areias com a proteção das arribas.

Em Abril do ano passado, após a primeira grande destruição, Óscar Ferreira, doutorado em Dinâmica Costeira e investigador do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da Universidade do Algarve, explicou ao Sul Informação que a zona de Quarteira/Forte Novo é uma área do Algarve com «o perímetro de costa conhecido e muito bem estudado», e que, por isso, já se previa que tal acontecesse mais cedo ou mais tarde visto que, principalmente depois da construção da Marina de Vilamoura, se desencadeou um fenómeno de erosão naquela zona costeira, «que começou a ter um recuo de cerca de três metros por ano».
«Para aliviar esse recuo e impedir alguma destruição de ocupação existente ou continuidade de recuo, em 2010 foi feita uma realimentação [de areias] de grande dimensão entre a zona de Quarteira e as Dunas Douradas, depois de Vale do Lobo. Essa realimentação tinha um tempo de vida estimado de entre 10 a 12 anos», explicou Óscar Ferreira. Só que esse tempo terminou em 2020 e, por isso, «a areia que lá foi depositada já foi toda removida pelo mar e foi transportada em direção à Praia de Faro».
«Durante estes quase 14 anos, houve ali uma zona tampão que foi a tal areia que foi colocada. Essa área foi agora toda erodida e por isso passámos a ter a erosão da arriba e da duna, que já tinha acontecido anteriormente», explicou ainda, em entrevista ao nosso jornal, há um ano.
Fotos: Mariana Carriço | Sul Informação (situação a 13 de Março de 2025)









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