Quatro dezenas de jornalistas concentraram-se em Faro em dia de Greve Geral

“Nós somos o país da Europa que per capita menos dinheiro coloca no apoio ao jornalismo livre e independente, no momento em que o jornalismo é mais necessário”

Perto de quatro dezenas de jornalistas concentraram-se na tarde de ontem, 14 de Março, dia de Greve Geral e nacional dos jornalistas, junto à doca de Faro.

Presentes no protesto estiveram jornalistas da imprensa regional – Sul Informação, Jornal do Algarve e Barlavento -, e das delegações no Algarve dos órgãos nacionais, das televisões (RTP, SIC, TVI/CNN, CMTV), às rádios (TSF), aos jornais (Público, JN) e à Agência Lusa.

Também se juntaram antigos jornalistas, um estudante de Mestrado e ainda amigos e apoiantes da luta dos Jornalistas, como um familiar de uma camarada da TSF, representantes da Tertúlia Farense, do Cineclube de Faro e do Sindicato dos Enfermeiros. Foi uma concentração inédita na história do jornalismo, na região algarvia.

No caso do Sul Informação, além de nada termos publicado ao longo do dia, a greve contou com a adesão dos 4 jornalistas, bem como dos dois colegas da área Administrativa e da Publicidade. Foi mesmo greve total no Sul Informação!

Ontem, dia da primeira Greve Geral dos Jornalistas desde 1992, a informação esteve parada em muitos órgãos de informação – no Algarve, foi o caso do Sul Informação, do Barlavento e do Jornal do Algarve.

Mas, a nível nacional, muitos órgãos de informação estiveram parados ou a meio gás. As televisões, mesmo continuando as suas emissões informativas, foram dando conta do andamento da greve.

«À meia-noite de quinta-feira, 14 de Março, não houve noticiário na Antena 1 nem na TSF. “É meia-noite no continente e na Madeira, menos uma hora nos Açores. Na Antena 1, jornalistas estão em greve geral.” Estava dado o tiro de partida para a primeira greve geral de jornalistas em mais de 40 anos», escreveu o Sindicato dos Jornalistas.

Foram mais de quatro dezenas de órgãos de comunicação social (OCS) cujos jornalistas aderiram à greve e estiveram parados durante este dia 14 de março. A agência Lusa anunciou a suspensão da linha ao final da manhã, depois de não publicar nenhuma notícia desde a meia-noite.

«O impacto da greve geral, aliás, começou ainda antes nas redações. Muitas chefias, preocupadas com a adesão, anteciparam dias de fecho de jornais, fizeram convites antecipados para programas, trocaram turnos para acautelar faltas de “prováveis” grevistas, ou reforçaram-nos para atenuar o impacto da paralisação», acrescentou o Sindicato.

Luís Simões, presidente do Sindicato dos Jornalistas (SJ), disse, em declarações ao ECO, que os números da adesão à greve foram “muito expressivos e acima do que perspetivávamos”, havendo “redações sem ninguém“.

“Obviamente sabíamos que a greve ia ter uma grande expressão, mas não antecipei que esta fosse tanta, o que diz bem – e esta é a parte má -, do momento que estão a viver os jornalistas“, acrescentou.

 

 

A adesão foi transversal aos diversos meios de comunicação, em todo o país. “Da SIC ao Público, passando pela TVI e Antena1, indo para a grande parte dos jornais e rádios regionais, [a greve] está a ser transversal. Está a sentir-se também muito vincadamente no online, onde os jornalistas têm que responder ao segundo e são pressionados para trabalhar a 200 à hora”, disse Luís Simões.

Hoje, dia 15, há jornais que não saíram para as bancas, nomeadamente o Setubalense ou o Diário de Notícias, para o qual, no início desta semana, foi anunciado um despedimento coletivo.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas avisou: “os efeitos da greve têm de começar no dia 15 e temos de nos esforçar todos para começar a acabar com esta degradação das condições de trabalho, salariais, e com a precariedade”.

Em relação ao poder político, Luís Simões salientou: “temos uma mensagem muito clara, que é evidente. Nós somos o país da Europa que per capita menos dinheiro coloca no apoio ao jornalismo livre e independente, no momento em que o jornalismo é mais necessário para compreendermos o mundo porque a desinformação cresce todos os dias”.

Neste sentido, são reivindicadas ao poder político propostas de apoio ao jornalismo, como a implementação de um voucher para usar em assinaturas de jornais (recaindo assim a escolha sobre quem consome), ou apoios que se aplicam no campo fiscal. “Temos um governo a ser formado, quando se esclarecer um pouco melhor a situação, lá estaremos para falar com todas as forças políticas“, disse o líder do SJ.

Segundo a lista publicada pelo Sindicato, entre os meios de comunicação social sem produção de notícias, estiveram o Jornal do Fundão, o Sul Informação, o Barlavento, o Jornal do Algarve, o Fumaça, 7 Margens, 7 Montes, Baluarte de Santa Maria, Setenta e Quatro, Setubalense, Almada Online, Coimbra Cooletiva, Rádio Cova da Beira, Rádio Universitária do Minho (RUM), a RTP Madrid, SIC Évora, Visão, Diário de Notícias e as revistas Caras e Activa.

Houve ainda fortes perturbações na produção de noticiário em dezenas de outras redações como a do Expresso, Renascença, Público, Observador, TVI/CNN Portugal e SIC/SIC Notícias.

Além de não haver notícias, houve concentrações de jornalistas um pouco por todo o país: no Porto, em Coimbra, em Faro, em Évora, em Ponta Delgada e, culminando esta jornada de luta com uma grande concentração no Largo Camões, em Lisboa, já à noite.

Ao longo do dia, muitas foram as mensagens de apoio que os Jornalistas foram recebendo, de sindicatos, de associações cívicas, de autarcas, de estudantes de jornalismo, do Presidente da República. Dos partidos, hoje mensagens de apoio dos líderes do PS, PSD, LIVRE, Bloco de Esquerda e PAN. O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Paulo Raimundo, rejeitou prestar declarações aos jornalistas à saída de uma reunião com Marcelo Rebelo de Sousa, em “solidariedade com a greve dos jornalistas”.

A Greve Geral dos Jornalistas, aprovada por unanimidade e aclamação pelos cerca de 500 jornalistas presentes na sessão de encerramento do Congresso dos Jornalistas, foi marcada para dia 14 de Março, para depois da Eleições Legislativas, para que não houvesse acusações de aproveitamento político. Quando foi marcada não se fazia ideia de como a data seria tão importante, neste período pós eleitoral.

 

Clique aqui para ver a lista (provisória) do impacto da greve em todo o país

Para perceber as razões desta greve, leia este artigo do Pedro Lemos

ou este artigo do Nuno Costa

 


Greve dos Jornalistas foi notícia em todo o mundo
A greve geral do jornalistas em Portugal foi alvo da atenção da imprensa internacional, em vários continentes.

Em França, a Agence France Press noticiou a greve, numa notícia que teve repercussão no Le Figaro, que destacou “um setor em grandes dificuldades” e recordou o despedimento coletivo anunciado pela Global Media para o DN.O site Euronews noticiou que a “greve nacional de jornalistas parou, a 100%, quatro dezenas de órgãos de comunicação social portugueses”.Segundo a Executive Digest, o Sloboden Pečat, jornal diário da Macedónia também se referiu à greve.

No Brasil, o site UOL lembrou que “rádios como a Antena 1, da estatal RTP, veicularam à meia-noite uma mensagem informando os ouvintes sobre a paralisação. A Lusa deixou de publicar notícias e avisou aos clientes de seus serviços”.

Em África, duas publicações online referiram-se aos protestos inéditos dos jornalistas portugueses, o NewsNow Nigeria e o Sahel Standard.

Nos Estados Unidos da América, o site financeiro online Barron’s falou das concentrações de Jornalistas planeadas em todo o país.

Em Macau, o Macau Business destacou que “a última greve geral de jornalistas portugueses ocorreu em 1982” e que o protesto desta quinta-feira se deveu “aos baixos salários e à insegurança no emprego”.

Também no continente asiático, neste caso na Malásia, o Lumi News Malasya sublinhou que os grevistas apelaram “a um aumento salarial para fazer face à inflação e ao cumprimento das leis laborais relativas ao pagamento de horas extraordinárias”.

 

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