Exposição e conferência no Museu de Portimão mostram as prisões por dentro

Esta é a primeira vez que o projeto “the portuguese prison photo” é apresentado a sul do Tejo

Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo – Foto de Peter Schulthess

A exposição “the portuguese prison photo project“, patente de 19 de abril a 1 de setembro, e a conferência “Prisões e regimes de detenção em Portugal: antes e depois de 1974”, nos dias 19 e 20 de abril, são as duas iniciativas que o Museu de Portimão vai receber, no âmbito de um projeto internacional.

A conferência, que tem acesso livre, mas inscrição obrigatória, será pautada por várias intervenções, de representantes da administração prisional portuguesa, de investigadores e dos órgãos de observação nacionais e internacionais, que colocarão no centro da reflexão um tema da atualidade, mas com fortes ligações ao período da ditadura portuguesa.

Depois da Revolução dos Cravos de 1974, tudo mudou – também na detenção? O que mudou para sempre? Quanta atenção foi dada às questões relacionadas com a prisão e a detenção após a Revolução? De que forma a vida nos estabelecimentos prisionais foi afetada por estas mudanças? E a longo prazo? Como foram estas alterações vistas pelas organizações ativas ao nível da prevenção da tortura? Que mudanças estão planeadas em termos de política penitenciária?

Estas são apenas algumas das questões que serão abordadas na conferência por palestrantes e moderadores considerados referências nesta área. É o caso dos investigadores Maria João Raminhos Duarte, Francisco Bairrão Ruivo e Paulo Adriano, de Domingos Abrantes (antifascista e membro do PCP, que foi preso político antes do 25 de Abril de 1974), do investigador prisional suíço Daniel Fink, dos fotógrafos Luís Barbosa e Peter Schultess, de Gilda Santos, especialista em Criminologia, de Paulo Pinto de Albuquerque, que foi Juiz do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem e é Professor Catedrático de Direito na Universidade Católica, ou de Julia Kozma, consultora internacional de Direitos Humanos, entre outros.

Será uma oportunidade para refletir sobre as condições de vida nas prisões antes e depois de 1974, sendo esta a primeira vez que o projeto é apresentado a sul do Tejo.

 

Estabelecimento Prisional da Guarda – Foto de Luís Barbosa

 

No dia de abertura da exposição “the portuguese prison photo project”, na sexta-feira, 19 de abril, uma primeira conferência abordará o tema das prisões, dos regimes prisionais e da vida na prisão antes da revolução de 1974. Três contribuições tratam das pessoas politicamente presas e das suas condições de vida, uma primeira sobre os presos do Algarve, uma segunda de forma mais geral sobre os regimes prisionais durante o tempo do governo fascista em Portugal, e uma terceira dá a palavra a um combatente da resistência e testemunho contemporâneo. Por último, são analisadas as condições prisionais dos presos não políticos no Portugal conservador antes da revolução de 1974.

Na segunda parte do primeiro dia da conferência, serão apresentados os objetivos, ideias de projetos e exposições anteriores, juntamente com informações sobre exposição que será inaugurada. Os dois fotógrafos falam sobre sua abordagem e suas imagens. Por fim, são comentados alguns resultados de um projeto de pesquisa sobre visitantes realizado durante duas exposições anteriores.

O segundo dia da conferência, 20 de abril, centrar-se á na influência da Revolução de 1974 nas condições prisionais e no desenvolvimento dos regimes prisionais em Portugal. Além dos representantes da administração prisional portuguesa, os representantantes dos órgãos de observação nacionais e internacionais (NPM; CPT; SPT) tomam a palavra.

A conferência é organizada pela equipa do “the portuguese prison photo project”, que inclui professores da Universidade do Porto, como Gilda Santos, Cândido da Agra e outros, em conjunto com a equipa do Museu de Portimão.

É patrocinada pela Gefängnisforschung.Schweiz, com o apoio das Universidades do Porto e Lausanne (Suíça), bem como da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP).

No primeiro dia, a conferência, que é de acesso livre e gratuito, mas com inscrição prévia a fazer clicando aqui, terá início às 14h00 e terminará às 18h00. Já no segundo dia, a sessão decorrerá durante a manhã, das 10h00 às 13h15.

Já está disponível, para visualização e download, o Livro de Resumos da Conferência (PDF).

 

Estabelecimento Prisional de Lisboa – Foto de Peter Schulthess

 

Imagens inéditas mostram-se em Portimão

Esta é a quarta vez que a exposição “the portuguese prison photo project” é apresentada ao público, sendo o Museu de Portimão a primeira instituição a recebê-la no sul de Portugal.

A estreia desta mostra decorreu em 2017, no edifício da antiga prisão do Porto, que alberga atualmente o Centro Português de Fotografia (CPF).

A segunda foi realizada em 2019, no Museu do Aljube Resistência e Liberdade, em Lisboa, enquanto a terceira teve lugar no Arquivo Nacional Torre do Tombo, em 2021/2022, também na capital portuguesa.

Lançado por Daniel Fink, investigador prisional suíço, este projeto juntou os fotógrafos Luís Barbosa e Peter Schulthesse, a historiadora prisional Maria José Moutinho Santos, o antigo diretor do Museu do Aljube Resistência e Liberdade Luís Farinha, e investigadores prisionais de universidades de Portugal e da Suíça para uma cooperação única.

A DGRSP autorizou os fotógrafos a captar imagens no interior das suas prisões.

A exposição oferece, desta forma, uma visão transversal dos estabelecimentos prisionais de Portugal, dos maiores aos mais pequenos, dos mais antigos aos mais recentes, incluindo também as prisões para homens, jovens delinquentes ou mulheres.

As imagens mostram as condições de vida nestes espaços, numa realidade desconhecida para grande parte da população.

Luís Barbosa tenta mostrar o ponto de vista dos reclusos, colocando o ambiente em destaque, através de um conjunto de imagens a preto e branco. Aliás, as primeiras fotografias registadas por si, em 2017, levaram a que lhe fosse atribuído o prémio de melhor trabalho fotográfico da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), em 2018.

Por sua vez, Peter Schulthess documenta as prisões numa vertente mais institucional, utilizando imagens de alta resolução e a cores para revelar diferentes pormenores.

A mostra fotográfica será inaugurada no dia 19 de abril e estará patente até 1 de setembro.

Poderá ser visitada no seguinte horário: terça-feira das 14h30 às 18h00 e de quarta-feira a domingo das 10h00 às 18h00 até 31 de julho e a partir de 1 de setembro; terça (19h30-23h00), quarta a sábado (13h00-23h00) e domingo (15h00-23h00), apenas durante o mês de agosto.

A exposição e a conferência integram a a programação dos 50 Anos do 25 de Abril em Portimão, que decorre sob o mote “Portimão, Terra Democrática”. O objetivo global é «reforçar a memória coletiva e enfatizar a relevância atual dos valores e das conquistas da Revolução dos Cravos na construção e afirmação de um país progressista e igualitário».

 

Estabelecimento Prisional de Viseu – Foto de Luís Barbosa

 

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