Estará a “galinha de ovos de ouro” do Algarve a empobrecer a região?

A diversificação da economia regional do Algarve é um desígnio que tem de, efetivamente, dar passos largos na sua consolidação na região

Durante a apresentação do Plano de Desenvolvimento Social do Algarve, no final do ano passado, foi indicado que os índices de pobreza no Algarve se encontram relacionados com o excesso de dependência do principal setor económico na região: o Turismo.

De facto, existe uma enorme concentração do mercado de trabalho na hotelaria e similares e esse facto explica, em parte, a razão pela qual os índices de pobreza no Algarve se encontram acima da média nacional, pois este setor é fortemente marcado pela sazonalidade, pelo trabalho a tempo parcial e por salários abaixo da média nacional.

Tem sido notória, todavia, a influência do turismo nos resultados da economia algarvia e o seu contributo positivo para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional nos últimos anos. Contudo, o principal motor de crescimento da economia da região permanece o mesmo há décadas.

O Algarve já não é considerada uma região em desenvolvimento, até porque, à semelhança da região de Lisboa, as duas são as regiões mais ricas em PIB per capita.

Aliás, no caso do Algarve, este possui um PIB mais elevado do que o resto do país, apesar de o salário médio ser de 1.106,30 euros, mais baixo que o do continente, que, em média, é de 1.294,10 euros, de acordo com os dados do INE.

Esta situação deve levar-nos a questionar se o modelo económico levado a cabo na região é adequado às reais necessidades do território e das suas populações.

Julgo que é unânime que a diversificação da economia regional do Algarve é um desígnio que tem de, efetivamente, dar passos largos na sua consolidação na região, a bem de se melhorar, principalmente, os indicadores de pobreza e de bem-estar.

Para tal, encontra-se em vigor, para o período de 2021-2027, o Programa Regional Algarve – Algarve 2030, que é um instrumento financeiro que dispões de 780,3 milhões de euros de fundos europeus e que pode reorientar e modernizar a economia algarvia, pois este programa destina-se a promover a sustentabilidade ambiental, a competitividade e diversificação da economia, a valorização do território e das pessoas, com foco na sua qualidade de vida.

Para uma efetiva diversificação da economia regional, julgo que o primeiro eixo (1A) do Programa Regional do Algarve 2030, o eixo da Inovação e Competitividade, e o quarto eixo (4A), das Qualificações, Emprego e Inclusão, são os que têm de ser mais alavancados para terem o devido impacto na região.

Afirmo isto pois, quanto mais inovação houver, mais novos produtos e/ou serviços podem surgir, ou podem ser concebidas novas formas de produção, criando assim novos conhecimentos que possam ser transferidos para o meio empresarial, ajudando à dita diversificação da economia.

No que toca às qualificações, emprego e inclusão, são áreas que a região precisa de reforçar para dar suporte à diversificação da economia, pois, só através de uma maior interação entre o conhecimento e a prática, se consegue efetivamente diversificar o ecossistema empresarial do Algarve.

Além do mais, e segundo os dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, em 2021/2022, o Algarve é a região do país que tem a mais baixa taxa de escolarização no ensino superior, com cerca de 24,5% (bem abaixo dos 41,4% da média nacional). Precisará, portanto, de um impulso para o reforço das qualificações, para que possa dar novos passos na tão afamada diversificação da economia.

Os desafios para o Algarve nos próximos anos são de enorme importância para o desenvolvimento económico e social da região, pois vivemos um tempo de disponibilidades de apoios financeiros comunitários inigualável.

Contudo, para se superar esses desafios, é preciso arriscar, pois só quando arriscamos ir longe demais é que descobrimos até onde é possível ir.

 

 

Autor: Ricardo Proença Gonçalves é licenciado em Gestão de Empresas e Pós-Graduado em Gestão de Unidades de Saúde, pela Faculdade de Economia da Universidade do Algarve. Detém também um Executive Program em Controlo de Gestão e Avaliação de Performance pela Nova SBE. É igualmente membro efetivo da Delegação Regional do Algarve da Ordem dos Economistas e membro do think tank «Thinking Algarve».

Nota: artigo publicado ao abrigo do protocolo entre o Sul Informação e a Delegação do Algarve da Ordem dos Economista

 

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