«Oh mãe», os IRIS fazem 45 anos

Este sábado, 3 de Fevereiro, há um concerto no Teatro das Figuras, em Faro

Domingos Caetano – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

Naquele dia 24 de Junho de 1979, tudo correu mal. Com umas colunas feitas «à mão», o primeiro concerto dos “IRIS” foi um desastre e acabou com a banda recém criada a ser «posta na rua». A má experiência não terminou com o sonho daqueles «moços pequenos» que foram crescendo e ganhando nome na música portuguesa. Até chegarem a 2024, ano em que celebram 45 anos de existência. A festa começa já este sábado, 3 de Fevereiro, com um concerto no Teatro das Figuras, em Faro. 

Da formação inicial, apenas uma pessoa se mantém: Domingos Caetano, 68 anos, vocalista, e cara da banda.

Foi do sonho deste fuzetense de gema que nasceu a ideia de fundar os IRIS, como o próprio relembra ao Sul Informação. 

«Olha, eu comecei a tocar sozinho em casa. Depois, descobri que, aqui na Fuzeta, havia outro rapaz que tocava guitarra e então juntei-me a ele para me ensinar alguma coisa. Acabámos por descobrir que tocar em conjunto era fantástico», conta, sempre sorridente.

Domingos está numa das salas do Cinema Topázio, no centro da vila, que transformou em quartel-general da escola de música que fundou. É, a par dos “IRIS”, a “menina dos seus olhos”.

A paixão que tem pela música, garante, mantém-se intacta, passem os anos que passarem.

«Nessa altura, quando comecei a tocar, tinha 18 anos. Acabámos por descobrir também um baterista e fomos juntando as peças do puzzle. Sempre com muita paixão! Na altura, eu faltava às aulas e passávamos o dia a tocar. Começávamos às 8h00 e terminávamos às 20h00 para chegarmos a casa a horas como se tivéssemos vindo da escola», conta, entre risos.

Quando nasceram em 1979, os “IRIS” eram uma banda à procura do seu lugar na cena musical algarvia, movidos pela paixão… e por muita carolice.

 

 

O primeiro concerto desta longa caminhada aconteceu a 24 de Junho de 1979, data que Domingos Caetano não esquece. Foi na Luz de Tavira, não muito longe da Fuzeta.

Sem dinheiro para comprar material de som, os então integrantes da banda, decidiram fazer as próprias colunas com a ajuda «de um rapaz que percebia qualquer coisa».

«Lá fomos nós todos contentes… Só que o ruído de fundo era tanto que não se ouvia a malta a tocar. O resultado? Fomos postos na rua, claro», conta Domingos.

Nem essa primeira má experiência os demoveu: «não desistimos, aliás: recusámo-nos a desistir!», acrescenta prontamente.

A primeira fase foi «a dos bailes». «Era fantástico. Éramos os reis do Algarve: íamos a todo o lado. Depois, tivemos também a fase mais fina, dos hotéis, em Vilamoura ou Albufeira», recorda.

Até que, chegados aos anos 90, veio o sucesso nacional. Sem que tal fosse sequer projetado.

Tudo mudou quando os “IRIS” começaram a lançar CDs. No primeiro, em 1995, está o single “Oh mãe”, versão da música “The House of the Rising Sun”, dos “The Animals”, que logo ficou nas bocas de toda a gente.

Quem nunca ouviu: «Oh mãe, aquêle moce batê-me»?

«De repente, ligam-me a dizer que o disco estava em 4º no top nacional. A partir dos CDs, tudo mudou: começámos a ter concertos em todo o país, a trabalhar com cachets que nunca imaginávamos. Foi um sucesso de que não estávamos à espera», confessa Domingos.

Mais tarde, em 1997, vem o segundo CD… e o segundo single de sucesso. “Atira Tó’Mar”, versão do original “Knocking On Heaven’s Door”, de Bob Dylan, foi uma das músicas mais tocadas desse ano.

 

 

Os “IRIS” ficaram, para sempre, «agarrados» a essas duas músicas: «até somos, de certa forma, vítimas desses dois temas», brinca Domingos.

Mas a carreira da banda algarvia não se esgota nessas duas músicas, tal como os “IRIS” mostrarão este sábado em Faro.

«Eu sou um defensor da nossa cultura algarvia e, por isso, até um corridinho vamos ter! Será um concerto essencialmente de músicas que não tocamos em lado nenhum, mas de que os fãs gostam», perspetiva o vocalista.

O facto de esses dois grandes sucessos terem um marca vincadamente algarvia – na grafia, no sotaque de Domingos – nem sempre foi bem aceite na cena musical portuguesa.

«Houve muita gente a pegar apenas na parte depreciativa devido ao sotaque, por exemplo. E nós, quando aparecemos, somos concorrentes do que já lá estavam. Mas sempre nos negámos a sair do Algarve: é claro que é mais difícil porque estamos longe dos grandes centros, mas, embora dê mais trabalho, se nós passarmos uma semana fora do Algarve… sentimos saudades», diz o vocalista.

E depois destes 45 anos?

Domingos Caetano tem uma certeza: «não temos intenções de parar».

Na calha, está mais um CD de originais e, claro, os 50 anos da banda, na qual este fuzetense de gema, que um dia sonhou em ter uma banda, já pensa.

 

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