Sal de Castro Marim vai ser berço para ervas marinhas

Projeto venceu o “Prémio Promove 2023” da Fundação “La Caixa

Uma maternidade de ervas marinhas, ou seja, um ecossistema que permite o sequestro de carbono a uma taxa 30 vezes mais eficiente do que a floresta, vai nascer nas salinas de Castro Marim. O projeto “Sal C – Valorização das Salinas para o Sequestro de Carbono e Mitigação das Alterações Climáticas” foi apresentado esta quinta-feira, 30 de Novembro, e, além da vertente ambiental, também vai aumentar a cadeia de valor deste ex-libris castromarinense. 

Este é um projeto liderado pela BlueZ C Institute – Associação para a Conservação Marinha e Economia do Carbono, uma start-up e spin off da Universidade do Algarve, que conta com parceria do Município de Castro Marim, Eurocidade do Guadiana e a empresa MadeinSea.

A apresentação acabou por decorrer também numa data simbólica, uma vez que, desde esta quinta-feira, dia 30, que está a decorrer a COP28, a cimeira do clima organizada pela ONU, no Dubai.

Em declarações ao Sul Informação, Rui Santos, presidente do BlueZ C Institute, explicou que o projeto nasceu da «necessidade que temos de ter maternidades de ervas marinhas porque estão em declínio global».

«É preciso parar isso e tentar fazer o restauro deste ecossistema que é chave no sistema costeiro, não só pelo sequestro de carbono, mas pela purificação da água e retirada dos nutrientes», acrescentou, à margem da apresentação que decorreu no Revelim de Santo António, perante dezenas de pessoas.

 

 

E como é que será feita a plantação das ervas marinhas?

Segundo Rui Santos, serão aproveitados os «tanques de entrada, que todas as salinas têm, para plantar as ervas marinhas».

«Não fazia sentido irmos buscar as ervas a populações naturais. Por isso, vamos aproveitar um tanque de piscicultura do Instituto Português do Mar e Atmosfera, que está coberto de ervas marinhas, para as usar», enquadrou o também professor da Universidade do Algarve.

Por enquanto, apenas será usada uma salina – a “Made In Sea”, fundada em 2018, mas o objetivo é que a ideia se expanda.

«Isto é uma prova de conceito. Se funcionar, e nós vamos medir tudo, isto pode ser exportado para qualquer empresa salineira que haja no sul da Europa», disse Rui Santos.

Além da componente ambiental, este é um projeto que também ajudará na própria produção de sal.

«Pode-se pensar que tem implicações negativas, mas antes pelo contrário: os impactos serão positivos porque a água vai ser filtrada antes de ser evaporada para o sal. Se houver microplásticos, vindos da água do mar, também serão filtrados», garantiu o também coordenador do grupo de investigação Algae-Marine Plant Ecology.

 

 

Esta é, nas palavras de Rui Santos, uma relação «win-win» – « a empresa ganha porque a água que entrará para fazer o sal é mais limpa e pura e tem, ainda, a componente de impacte ambiental positivo».

Além disso, o projeto vem aumentar a cadeia de valor de uma das atividades mais relevantes na economia castromarinense – a salinicultura tradicional -, uma vez que promove a rentabilização das salinas, ao transformar uma atividade sazonal numa atividade permanente e criando novos postos de trabalho qualificados.

O “Sal C – Valorização das Salinas para o Sequestro de Carbono e Mitigação das Alterações Climáticas”, que tem um investimento total de 200 mil euros, apoiados em 75% pela Fundação “La Caixa”, começou em Novembro, mas a plantação das ervas marinhas acontecerá apenas na Primavera.

Filomena Sintra, vice-presidente da Câmara de Castro Marim, também marcou presença na apresentação pública deste projeto, onde contou que é, desde a primeira hora, apoiante desta iniciativa.

«É um dia muito feliz para Castro Marim. O sal é uma das coisas mais valiosas que temos no Baixo Guadiana e tenho a certeza de que este projeto vai ser o incubador de muitos outros neste nosso território», concluiu.

 

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