Andam desde Abril a percorrer zonas costeiras da Europa, do Báltico aos países nórdicos, passando pelo Reino Unido, Irlanda, norte de França e Espanha. Na passada semana, a equipa da expedição TREC – “Traversing European Coastlines” esteve no Algarve a recolher sedimentos e amostras de água que a ajudarão a criar um mapa dos ecossistemas costeiros da Europa.
O grupo de investigadores internacionais e as suas viaturas – duas carrinhas, uma pickup e uma embarcação – estacionaram na Universidade do Algarve, junto ao edifício onde funciona o Centro de Ciências do Mar do Algarve (CCMAR), o local que lhes serviu de base nesta penúltima jornada de recolha de material, antes de uma pausa de alguns meses.
Este projeto científico, inédito a nível europeu, é liderado pelo Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL na sigla em inglês) e pretende produzir conhecimento que será aberto a todos os que o quiserem usar para os mais variados tipos de projetos científicos, em diferentes áreas.
O Algarve é o segundo local que a expedição visita em Portugal, depois de uma passagem pelo Porto. A escolha da região algarvia esteve relacionada, segundo Kiley Seitz, microbiologista do solo norte-americana e investigadora no EMBL, com o facto de ser possível recolher dados numa zona de confluência entre a Costa Atlântica (Ocidental) e a Costa Sul, quase mediterrânica.
«É onde estamos a sair do Atlântico e começamos a ir em direção ao Mediterrâneo. Estamos a tentar cobrir muitos gradientes diferentes e, como temos esta transição neste local, vamos conseguir ter uma boa visão do impacto da água e da terra, de como é movida para dentro e para fora do oceano», refere a investigadora.
No Algarve, foram recolhidas amostras em três locais, nomeadamente em Sagres, na zona de Faro e na foz do Guadiana, em Vila Real de Santo António.
O material obtido e sujeito a uma primeira intervenção pela equipa do TREC servirá para perceber qual o impacto da atividade humana nos ecossistemas costeiros e na sua evolução. Neste projeto específico, a grande novidade é que dará uma visão global do continente europeu, uma vez que a expedição cobrirá desde o Mar Báltico ao Mediterrânico, passando pelo Mar do Norte e pelo Oceano Atlântico.
«Nunca houve um projeto como este», disse Kiley Seitz, que espera que o projeto «seja um ponto de partida para este tipo de coleta de dados em grande escala»,
Entre o material recolhido estão amostras de solo, sedimentos, águas rasas e organismos. Também se procura informação sobre a presença de poluentes, salinidade, níveis de oxigénio e qual o seu impacto na biodiversidade.
A recolha é feita em terra e no mar por uma equipa multidisciplinar e os materiais são preparados para transporte e armazenamento no laboratório móvel do TREC, que conta com um forno para secar as amostras, capacidade de armazenamento de frio e diverso equipamento de ponta.
Após esta primeira intervenção, as amostras são enviadas para a sede do EBML, em Heidelberg, na Alemanha.
«Todos os nossos dados serão tornados públicos e esperamos poder começar a fazer perguntas muito maiores e a trabalhar com pessoas muito diferentes para definir onde ir a partir daqui», disse a cientista.
No final, o EBML espera poder desenvolver metodologias «para biorremediação», ou seja, para usar organismos no combate à poluição e mitigação do impacto humano nas zonas costeiras e nos oceanos.
A expedição TREC é dirigida pelo Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL), juntamente com a Fundação Tara Ocean, o Consórcio Tara OceanS e o Centro Europeu de Recursos Biológicos Marinhos (EMBRC).
No total, a iniciativa reúne mais de 150 equipas de investigação de mais de 70 instituições de 29 países europeus.
Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação
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