Tragédia shakespeariana à portuguesa

Em particular no Algarve, precisamos de propostas de diversificação da economia

A crise foi desencadeada pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça, ao afirmar que é uma certeza que a corrupção está instalada em Portugal e tem expressão forte na administração pública, criticando ainda a falta de vontade política em fazer do setor judicial uma prioridade.

Deste modo, avisando que havia qualquer coisa no ar, ou contribuiu para criar um cenário para o que se vinha preparando, ou avisou o PS do que aí vinha.

No dia seguinte, a Procuradoria teve que agir de imediato, quando já haveria destruição de provas face ao aviso. A ser verdade, será curioso que PJ tenha sido mantida fora do processo.

Parece que há uma espécie de golpe judicial, mas ao serviço de quem? Uma guerra entre o sistema judicial e o político? Uma ação controlada por forças de direita infiltradas no aparelho judicial? Ou mais simplesmente, afastando teorias da conspiração, que o sistema judicial está atento a um nível corrupção tal, em que a bronca iria acontecer mais dia menos dia, eventualmente um pouco mais tarde, após a aprovação do Orçamento de Estado (OE)?

A luta interna no sistema é brutal e o Presidente da República (PR) consumou o golpe palaciano. Efetivamente, não há razão para dissolver o Parlamento. Por muito que o PR ache que a maioria do PS é devida ao Costa, isso é a opinião dele, mas não tem suporte constitucional.

Além do mais, não dissolve o Parlamento, apenas promete que o vai dissolver dentro de meses, permitindo fazer aprovar um OE que de facto interessa à direita, aproveitando oportunisticamente a maioria do PS que diz já não reconhecer.

E, todavia, marca eleições sem ter dissolvido o Parlamento.

O PR, ao visitar o monumento aos Távora, mostra simbolicamente que quem se mete com o “rei” está morto. É a “vichysoise” do tempo do Paulo Portas, mas é muito mais refinada.

O PR logra ainda parar os protestos da sociedade, deixando sem interlocutor médicos, professores, etc.

A direita quer parar o país e está a conseguir.

Também vale a pena pensar que o Primeiro Ministro se demite por um parágrafo sem conteúdo, salvo se o PR lhe comunicou o que está por se saber.

Será que está farto de ver à volta dele um “pântano” que já não controla, tal como o Guterres? Ou como o Sócrates, é ele o pivot?

O que se vê é que os governos do PS ficam sempre manchados pelo lodo. A melhor governação do PS foi enquanto esteve condicionado pelos acordos com BE e o PC, mas, hoje, falar em geringonça é arqueologia. Ela correspondeu a um contexto muito concreto. Já foi!

A esquerda não pode ser associada a um partido trespassado pela corrupção e ainda por cima com um programa neoliberal. A esquerda não pode perder-se a debater o que se passa nos corredores do poder, assim contribuindo para afastar o povo do que verdadeiramente interessa.

O programa que precisamos é de luta por um SNS que responda às necessidades e denuncie o projeto subreptício para o seu desmantelamento; é por um programa que resolva o problema da habitação; por salários dignos; pela taxação das grandes fortunas e reverter os lucros excessivos dos bancos para os empréstimos para a compra de casa.

Um programa que não alinha com a escalada militar, ainda que se solidarize com os agredidos.

Em particular no Algarve, precisamos de propostas de diversificação da economia, atraindo indústrias. A crise da água exige soluções que passam pela reconversão da agricultura, pela reutilização e por captura de águas desaproveitadas em que se inclui a redução de perdas.

 

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