ETIC_Algarve debate Violência Doméstica a partir das fotos de José Carlos Carvalho

Elemento integrante da Mostra de Fotografia de Faro

Foto: ©José Carlos Carvalho – Filomena Teixeira, 42, morta pelo marido a 25 de dezembro em Armamar

«Violência Doméstica: Aqui um Homem Matou uma Mulher» é o tema do debate que a ETIC_Algarve promove amanhã, 23 de Novembro, às 18h00, tendo como mote as fotografias de José Carlos Carvalho.

A iniciativa integra-se na MFA – Mostra de Fotografia do Algarve, que tem lugar em Faro e tem a ETIC_Algarve como parceira.

O debate vai começar com a visualização do projeto/reportagem “Aqui um Homem Matou uma Mulher” (retrato nacional da violência doméstica na última década), da autoria do fotojornalista José Carlos Carvalho.

O debate, que conta ainda com a participação de Manuel Albano, vice-presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, bem como de Sandra Esteves, membro do secretariado nacional do Movimento Democrático das Mulheres, e com moderação Elisabete Rodrigues, diretora do Sul Informação e formadora na ETIC_Algarve.

A entrada é livre, mediante inscrição.

 

AQUI UM HOMEM MATOU UMA MULHER
fotografias José Carlos Carvalho textos de Teresa Campos infografia Álvaro Rosendo

Enquanto morrerem mulheres às mãos de quem as prometeu amar, haverá sempre atualidade neste trabalho. Disse-o a secretária de Estado da Igualdade, quando a exposição “Aqui Morreu Uma Mulher” iniciou a sua digressão pelo país; bem o podemos repetir, no momento em que apresentamos uma versão revista e aumentada.

Como elemento integrante da Mostra de Fotografia de Faro, a agora chamada “Aqui um homem matou uma mulher” revisita o trabalho inicial que resultou de uma reportagem que nos levou a percorrer o país, de norte a sul, em 2015.

Passavam, então, 15 anos desde que o Parlamento aprovara a lei que tornava a violência doméstica um crime público. Ou seja, que qualquer pessoa pode denunciar.

Além disso, partia de uma indignação perante o número hediondo de 43 mulheres que, no ano anterior, tinham sido mortas às mãos de quem as prometera amar, fazendo de 2014 uma espécie de annus horribilis para as mulheres.

O que encontrámos foi uma situação absolutamente transversal a toda a sociedade portuguesa: a violência doméstica sobre as mulheres existe no litoral e no interior, no meio urbano e no meio rural, em todas as classes sociais, em todas as faixas etárias.

Em vésperas de se cumprir uma década desde esse momento, agora, ano de 2023, os números confirmam que não há alterações ao cenário da violência doméstica um pouco por todo o país.

Ao longo de 2015 haveríamos de retratar 28 casos de mulheres mortas em contexto de violência doméstica. Os números baixaram um bocadinho, no par de anos seguinte, mas, como já lembrava a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, no ano passado, rapidamente retornámos a triste trajetória pré-pandemia.

Neste ano de 2023, a contabilidade já atingiu 25 mortes.

Em média, são mais de duas mulheres mortas por mês.

Se fizermos as contas, o total são mais de 500 desde o ano em que a lei portuguesa nos passou a responsabilizar a todos pela denúncia de um crime desta natureza.

Legenda da fotografia:

Filomena Teixeira, 42 anos, Armamar.
O sítio chama-se Santa Cruz e há cruzes por todo o lado – mas não foram suficientes para manter a harmonia, nem mesmo na noite de Natal. Pelas 10 da noite, um homem, 40 anos, atirou de caçadeira sobre a mulher e suicidou-se em seguida.

Foi a filha mais nova, de 15 anos, e que ainda vivia com eles, que foi bater à porta de uma vizinha a pedir ajuda. «Acudam, que o meu pai matou a minha mãe». À porta da junta de freguesia da terra, Ana, sobrinha da vítima, mal consegue esconder as lágrimas quando lhe perguntamos pelas primas.

Liliana, 21 anos, a mais velha, está a trabalhar em Lisboa, Sofia, a outra, em sua casa. «Foi ela que escolheu: o meu pai é o seu padrinho».

Não são conhecidos os motivos da desavença, o caso está entregue à Judiciária de Vila Real.

 



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