Os Portugueses zangaram-se com o Algarve?

Gostava de ver esta zona do sul de Portugal tratada com o devido respeito e com a justiça que merece

Este tema gerou várias opiniões em diversos órgãos de comunicação social e pôs em destaque a redução de 4% dos turistas nacionais no Algarve este Verão. A diversidade de opiniões é grande, focando aspetos como os preços, a qualidade do serviços, a concorrência de outros destinos turísticos fora de Portugal com preços mais competitivos, a discriminação de atendimento entre o turista nacional e o estrangeiro, etc.

Vivendo num país democrático e com liberdade de expressão, não posso deixar de ficar indignado, para não dizer chocado, com tanta crítica injusta, pouco refletida, roçando mesmo o ressabiamento pacóvio.

O Algarve, assim como todo o país, sofreu uma subida de preços generalizado nos bens e serviços.

A classe média portuguesa empobreceu e isso não teve origem nos preços praticados pela oferta turística algarvia.

Portugal tem uma das maiores cargas fiscais da Europa e sofreu uma desvalorização salarial provocada pela inflação subjacente, somada ao aumento dos custos de produção das matérias primas e energia que resultam da guerra na Ucrânia.

A região apresenta, contudo, vários preços para os diversos segmentos económicos que a visita. Uma estadia em Quarteira tem um preço diferente da Quinta do Lago. Quando se compara os preços do Turismo, tem de estabelecer-se por regiões, pois há vários algarves e não apenas o “ALGARVE”.

Relativamente à concorrência de outros destinos, nomeadamente o sul de Espanha, qualquer turista tem a liberdade de escolher o que mais lhe convém, tendo em conta as suas expectativas financeiras, familiares ou outras.

Comparar, por exemplo, as praias do sul de Espanha com o Algarve, com todo o respeito por quem o faz, deve sofrer de síndroma de enviesamento proporcional. As praias no Algarve foram considerados das melhores do mundo; logo, as medidas de comparação estão no mínimo desproporcionais.

Tirando o fator estético, se falarmos no serviço, não vejo qualquer diferença, a não ser no salário do trabalhador espanhol, que é muito superior ao português.

A gastronomia é fraca? Um dos muitos entrevistados disse algo como ”Além do frango da Guia, o Algarve não tem mais nenhuma comida relevante.” Esta opinião infere de várias distorções. É como alguém dizer que no Porto só se come francesinhas e nada mais interessante!!

Uma delas é revelar, do emissor, uma total ignorância desta região. Podia falar-lhe de Santa Luzia, conhecida pela capital do polvo, para provar mais de 50 maneiras de cozinhá-lo com sabores inigualáveis, ou dos mormos de atum ou da feijoada de lingueirão ou até dos carapaus alimados.

Tal ignorância, apregoada no ar radiofónico, não se consegue colmatar em pouco tempo, e prefiro deixar esta entidade ao sabor da sapiência ilusória da gastronomia algarvia.

Quanto à discriminação de serviço e atendimento, que alguns intervenientes sentiram quando passaram as suas férias no Algarve, em relação aos estrangeiros, devido ao seu maior poder de compra, acredito que esse sentimento exista. Contudo, se estiver em Felgueiras, e estiver com um empresário que faz exportação de calçado e lhe aparecer um cliente português a encomendar 1000 pares de sapatos, e outro, um alemão, 100000, alguém acha que o patriotismo português iria imperar no Norte? Quem acham que seria primeiro atendido? Quem teria um tratamento mais pessoal?

Concluo que o Turismo, nomeadamente algarvio, tem sido o principal motor da economia portuguesa, no setor exportador. Acresço a este facto que a região algarvia tem sido a região mais discriminada negativamente em relação aos fundos comunitários, por ter sido considerada não elegível nalguns parâmetros.

Contudo, é uma região que vive de baixos salários, emprego sazonal. O SNS é dos mais exíguos em termos de recursos humanos e financeiros do país, por falta de investimento do Estado. Idem para os Transportes, Educação e Justiça.

É um facto que a ocupação do território no Algarve foi descoordenada, caótica nalguns casos e aberrante noutros. O seu território foi, ao longo dos anos, massacrado com construção, não obedecendo a qualquer plano. E o resto do nosso litoral centro e norte, está melhor?

Termino com esta declaração: A região algarvia tem sido tratada, e mal, como um quarto de hotel para o Turismo nacional. Gostava de ver esta zona do sul de Portugal tratada com o devido respeito e com a justiça que merece.

 

 

Autor: Armando Barata é economista e contabilista certificado

 

Nota: artigo publicado ao abrigo do protocolo entre o Sul Informação e a Delegação do Algarve da Ordem dos Economistas

 

 



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