Algarve tem «uma das mais altas» incidências de cancro da mama do mundo

Centro de Mama do CHUA, criado há ano e meio, propõe intervenção interdisciplinar e quer criar uma Day Clinic

«A incidência do cancro da mama no Algarve é de 130 casos por 100 000 habitantes, uma das mais altas do mundo», revelou Gabriela Valadas, coordenadora clínica do Centro de Mama do Centro Hospitalar Universitário algarvio (CHUA).

«Esta taxa de incidência aumenta consideravelmente com a idade até aos 70 anos, ocorrendo cerca de 60% dos casos entre os 45 e os 69 anos», acrescenta aquela responsável, citando dados do Registo Oncológico Nacional 2018.

O CHUA trata mais de 420 casos de tumor da mama por ano. «Não existe outro cancro com números desta grandeza no Algarve. Somos o 4º centro com maior número de casos no país», sublinha a médica especialista.

O cancro da mama é de longe o cancro mais diagnosticado nas mulheres em todo o mundo. Em Portugal, surgem cerca de 7 500 casos novos de cancro da mama todos os anos

Neste que é o Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama, o Centro algarvio dedicado a esta doença salienta a importância do rastreio, que se realiza desde 2005 na região, por iniciativa da Associação Oncológica do Algarve e da ARS Algarve, de forma alternada, ano sim, ano não, no Sotavento e no Barlavento.

São rastreadas mulheres entre os 50 e os 69 anos, de dois em dois anos. Os aparelhos utilizados são mamógrafos digitais, mas, mais recentemente, com tomossíntese, o que, segundo salienta Gabriela Valadas, «torna o rastreio da mama do Algarve o rastreio com o equipamento mais avançado no país, com a emissão de muito pouca radiação».

Cerca de 60% das mulheres que são convidadas vão de facto fazer o seu rastreio, sendo que, em alguns locais, a adesão chega «perto dos 80%».

Os dados de 2019, último ano sem covid, indicam que «foram convidadas cerca de 30 mil mulheres para o rastreio, tendo aparecido cerca de 18 500».

Mas o rastreio é de facto importante: «a taxa de deteção que corresponde a cerca de 4 cancros diagnosticados por cada 1.000 mamografias», revela a responsável pelo Centro de Mama do CHUA.

 

Para mais porque «os casos de tumores referenciados pelo rastreio correspondem normalmente a casos em estádios iniciais da doença, portanto mais favoráveis no tratamento e prognóstico».

No entanto, acrescenta Gabriela Valadas, o rastreio tal como é feito atualmente, deixa de fora muitas mulheres. «Estão a aparecer-nos cada vez mais casos em mulheres dos 40 anos 50 anos ou com mais de 70 anos, que não são abrangidas pelo rastreio», revela.

«Muitas destas mulheres, quando recebem um diagnóstico, ficam perdidas», admite. Se não têm médico de família ou não conseguem fazer mamografia em tempo útil no Serviço Nacional de Saúde, muitas vezes «não sabem o que fazer a seguir».

É também para lhes poder dar um maior acompanhamento que foi criado há um ano e meio, no CHUA, o Centro de Mama.

Este Centro «recebe as senhoras não negativos do rastreio, bem como toda a patologia mamária identificada pelo médico assistente, benigna, com suspeita de malignidade ou já com biopsia de doença maligna».

Uma das inovações que o Centro de Mama do CHUA quer criar é «um espaço físico acolhedor e de acesso fácil, dedicado à Senologia, em Faro e Portimão, com gabinetes e um espaço onde os especialistas se podem reunir para discutir os casos».

O projeto inclui ainda «um espaço dedicado a uma “Day Clinic” de Mama, para um diagnóstico mais rápido, uma consulta de senologia seguida de uma avaliação por um Radiologista de mama, podendo realizar uma mamografia e/ou ecografia mamária, uma biopsia com avaliação histológica por anatomia patológica, tudo num espaço de proximidade», explica Gabriela Valadas, na sua entrevista ao Sul Informação.

«Este espaço dedicado à patologia mamária, quando instituído, ficará ao mais alto nível e igual ao que já se faz na Europa, preparando este Centro para a sua acreditação nacional e internacional», garante a especialista.

 

 

Depois, numa lógica de acompanhamento de todas as pessoas, do princípio ao fim do processo e em todas as fases possíveis, Gabriela Valadas explica que «todos os casos com suspeita de malignidade ou já com diagnóstico por biopsia são avaliados por uma equipa multidisciplinar, ou seja, os principais especialistas são de Cirurgia, Radiologia, Oncologia e Radioterapia, que se reúnem semanalmente para discutir caso a caso».

Nesta reunião, «determina-se a melhor sequência de tratamentos para cada pessoa em concreto. Se o caso beneficia de quimioterapia prévia, cirurgia ou não, bem como se a mama pode ser tratada com uma cirurgia oncoplástica que conserva a mama ou se o caso requer tirar tudo, com proposta de reconstrução imediata ou mais tarde, são assuntos a estabelecer nestas reuniões multidisciplinares».

As áreas de apoio são igualmente importantes, nomeadamente a Fisiatria/Fisioterapia e Psiquiatria/Psicologia.

Há também «uma Enfermagem dedicada que acompanha as pessoas em todas as fases, bem como um secretariado que apoia na gestão das consultas de Senologia, nos serviços de meios complementares de diagnóstico e na gestão dos exames necessários». O objetivo é descomplicar, tanto quanto possível, uma situação que já é difícil para as mulheres.

O Centro da Mama do CHUA «tem cirurgiões habilitados a realizar todo o tipo de cirurgia, desde a cirurgia oncoplástica, recorrendo a todas as técnicas da cirurgia plástica mamária para tratar a doença e conservar a mama, bem como praticamente toda a cirurgia de reconstrução imediata com recurso a implantes», adianta a sua coordenadora clínica.

«A pesquisa de doença na axila é realizada no Centro com equipamento de última geração, recorrendo a nanopartículas superparamagnéticas de óxido de ferro, método fiável e seguro para a colheita de gânglios para avaliação prognóstica da doença».

Também ao nível do equipamento o CHUA está bem servido no Algarve: «a Radiologia, em Faro, tem um mamógrafo adquirido recentemente, de última geração, e a de Portimão, a partir deste Dezembro, também irá substituir o seu mamógrafo por um de última geração, com capacidade para realizar tomossíntese e mamografia com contraste».

O projeto de um Centro de Mama do CHUA foi desenvolvido pelos responsáveis dos Núcleos de Senologia dos polos hospitalares de Faro e de Portimão do CHUA e pela responsável pela área de Imagiologia Mamária no polo de Faro, correspondendo a uma aspiração que esperam ver concretizada.

O objetivo é criar uma unidade multidisciplinar especializada no cancro da mama, que evite a compartimentação em serviços estanques, que dificulta a abordagem mais global e interdisciplinar que o tratamento exigido por este que é o cancro mais diagnosticado no Algarve.

 

 

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