Morreu o professor catedrático João Pereira Neto, membro da Comissão Instaladora da UAlg

Foi membro da Comissão Instaladora da Universidade do Algarve

O professor catedrático João Pereira Neto morreu esta quinta-feira, dia 27 de Julho, de forma súbita, em Lisboa, aos 88 anos.

Nascido em Lagos em 1935, João Baptista Nunes Pereira Neto era professor catedrático jubilado do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa.

João Pereira Neto poderia até ter sido o primeiro reitor da Universidade do Algarve, mas declinou o convite «face ao condicionalismo político existente naquela época – particularmente ao poder ainda detido pelos oficiais revolucionários que o tinham saneado», recordava, em 2019, o número comemorativo dos 40 anos desta universidade da revista « UAlgZine».

Nessas circunstâncias, «passou a ser o número dois da Universidade do Algarve, ao lado de Manuel Gomes Guerreiro, professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa, que conhecera no exercício de funções na Comissão Instaladora da Universidade de Évora e de secretário de Estado do Ambiente».

Estava, assim, iniciada a Comissão Instaladora da UAlg, da qual fazia ainda parte António Manuel de Sousa Otto, técnico principal da secretaria de Estado do Ambiente.

A «UAlgZine» recordava igualmente que Pereira Neto foi autor, em 1981, de um estudo sociológico com vista à «definição das caraterísticas que a Universidade do Algarve deveria ter». Para isso foram «ouvidas mais de duas centenas de individualidades em todos os concelhos algarvios».

O Diário de Notícias refere, por seu lado, que João Pereira Neto foi fundador da empresa Antropus (entretanto extinta em 2012), uma das primeiras a realizar sondagens políticas em Portugal.

Fonte da família indicou que o corpo ficará em câmara ardente a partir das 16h00 de amanhã, sábado, na Igreja de Carnide, enquanto o funeral será domingo pelas 11 horas, com cremação em Casal de Cambra.

Segundo a biografia publicada no site do ISCSP, João Pereira Neto foi aluno do então Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (ISEU), no ano letivo de 1955/1956 e, logo após terminar a Licenciatura no Curso de Administração Ultramarina, foi convidado pelo professor Adriano Moreira em 1958 para assistente do ISEU e secretário-adjunto do Centro de Estudos Políticos e Sociais.

Em 1960, obteve o diploma em Altos Estudos Ultramarinos, onde elaborou a dissertação intitulada “O progresso Económico e Social das Populações Indígenas em África ao Sul do Saara”.

Em 1964, concluiu o seu doutoramento em Estudos Ultramarinos com a tese intitulada “Angola. Meio Século de Integração”, tese que lançou as bases de investigação posterior nos domínios da Antropologia Política, do Multiculturalismo, das relações Raciais, do Desenvolvimento e Mudança Cultural e da Cultura Organizacional da Administração Pública.

Também em 1960, foi convidado para Inspetor e Chefe de Repartição do Gabinete dos Negócios Políticos do Ministério do Ultramar.

 

 

Em 1968 e na sequência da aprovação em concurso de provas públicas para professor extraordinário do grupo de cadeiras designado por Estudo das Populações Nativas, foi-lhe concedido o título de professor agregado e, em 1970, foi aprovado no concurso de provas públicas para professor catedrático do 2.º grupo de disciplinas, intitulado Ciências Económicas e Povoamento.

Entre 1974 e 1980, esteve afastado da docência por razões políticas.

Ao longo de toda a sua carreira docente, assumiu a coordenação e regência de múltiplas disciplinas fundamentais na estrutura académica e científica do ISCSP, coordenou o Mestrado em Ciências Antropológicas e teve a seu cargo a pós-graduação em Islamismo.

Do ponto de vista do seu contributo enquanto docente, cumpre ainda destacar a sua colaboração com diversas instituições universitárias como é o caso da Universidade Internacional e Instituto Superior Politécnico Internacional, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Universidade do Algarve, Universidade de Évora, Universidade de Coimbra, Universidade de Nova de Lisboa, Universidade de Sevilha, Universidade Lusíada, Universidade Autónoma – Luís de Camões.

Foi autor de vários artigos e obras de referência e orientou e participou em júris de diversas provas públicas de mestrado, doutoramento e agregação nos domínios da Antropologia, Sociologia, Ciência Política e fez parte de júris constituídos para a avaliação de candidatos aos diversos graus da carreira de investigação científica e colaborou na Revista de Estudos Políticos e Sociais do ISCSP.

Desenvolveu ainda um amplo conjunto de atividades de investigação Científica junto do Instituto de Investigação Científica Tropical, do Museu da Sociedade de Geografia e assumiu responsabilidades de relevo na Comissão Nacional de Eleições, Associação dos Amigos do Tejo, Crédito Agrícola Mútuo, SIPEC – Sociedade Internacional de Promoção do Ensino e Cultura, S.A., APESP – Associação Portuguesa de Ensino Superior Particular e na CEP – Confederação do Ensino Particular e foi fundador da Associação Portuguesa de Antropologia e fundador da Associação Portuguesa de Sociologia, e sócio fundador e Presidente do Conselho Fiscal da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social e Sócio-gerente da ANTROPOS – Sociedade de Estudos de Sociologia e Antropologia.

Participou nos órgãos de gestão do Instituto, de onde se destaca a função de Presidente do Conselho Pedagógico do ISCSP, entre 1986 e 2005, e foi Investigador Integrado do Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP), na área da Antropologia.

Foi ainda militante do CDS/PP, partido do qual foi presidente do Congresso, presidente do Conselho Nacional e secretário-geral, bem como membro da Comissão Politica, membro eleito do Conselho Nacional, diretor do Centro de Estudos e secretário do Secretariado Técnico. Foi membro da Comissão Nacional de Eleições representando o CDS.

Jubilado desde 1 de setembro de 2005, o professor João Pereira Neto era secretário-perpétuo da Direção da Sociedade de Geografia de Lisboa e Vice-presidente da Academia Internacional da Cultura Portuguesa.

O ISCSP, na nota publicada no seu site, deixa um «sentido agradecimento por toda a dedicação e profundo compromisso que sempre assumiu perante o Instituto e toda a sua comunidade. Deixa-nos um legado imenso que o Instituto preservará para a posteridade».

 

 

 

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