Vai ocupar «uma área equivalente a 160 estádios de Futebol em plena Reserva Ecológica Nacional», no concelho de Tavira, «rica em biodiversidade» e que é uma «zona de infiltração máxima do aquífero Peral-Moncarapacho», mas, segundo o Estudo de Impacte Ambiental deste projeto da Iberdrola Renewables Portugal, que está em consulta pública até 20 de Julho, os impactos que a Central Fotovoltaica de Estoi terá são «pouco significativos».
Esta conclusão dos autores do estudo choca com a visão de moradores e caçadores da zona de influência da central que a Iberdrola quer construir, mas também da associação de defesa do ambiente Pro Barrocal Algarvio (Probaal), que contestam este projeto antes mesmo dele ser oficialmente conhecido.
Para a associação, que se pronunciou no âmbito da consulta pública em curso – cuja data de encerramento chegou a ser 30 de Junho, mas que acabou por ser prolongada até 20 de Julho -, este estudo é «pródigo em ocultações e estranhas confissões».
E uma delas tem a ver com os recursos hídricos, que a Probaal considera ser uma das grandes questões associadas a este projeto,
No estudo, dizem, é assumido «que a rede de aproximadamente 175 000 painéis solares serpenteia vários pequenos ribeiros e cobre as suas cabeceiras».
O mesmo documento também admite «que é preciso escavar, despedregar, erradicar matos… enfim, destruir tudo aquilo que favorece a pluviosidade e permite que a água que corre para aquele vale se infiltre no aquífero Peral-Moncarapacho, o qual também carrega parcialmente o aquífero da Luz de Tavira», acusa a Probaal.
«Precisamos de energia, mas precisamos, mais ainda, de água. E toda a energia do mundo, não nos vai dar a água que precisamos», defende.
Paralelamente, os autores do EIA «ignoram ou desvalorizam o facto de que esses painéis precisam de ser limpos com água (ou químicos tóxicos). Será que nunca viram no Algarve o efeito das poeiras do deserto?», questiona a associação.
As questões ligadas aos aquíferos já eram a principal preocupação da Probaal, de caçadores e da população local, nomeadamente os habitantes do Cerro do Leiria, em Tavira, em Maio de 2021, ainda antes do projeto ser oficializado.
Na altura, o Sul Informação falou com várias pessoas, entre cidadãos nacionais e estrangeiros, que denunciaram as intenções da Iberdrola e tentaram “matar” o projeto antes que houvesse um projeto, algo que acabaram por não conseguir.
A população, caçadores e elementos da Probaal chamaram a atenção, ainda em 2021, para outra questão que é também uma «confissão» que é feita no estudo: a de que parte do terreno onde será instalada a central «foi comprado em 1999 por uma empresa mineira, que agora o passou para a Iberdrola, quer por arrendamento, quer por venda».
«Será que a Tecnovia, S.A. se esqueceu de dizer à Iberdrola que a população se uniu duas vezes em duas décadas para lutar pela preservação do Património e valores naturais daquele território?», perguntam, na pronúncia que fizeram, na consulta pública.
«A Iberdrola também tomou a medida invulgar de comprar muitos hectares de terra ao longo do local proposto, tornando a Central de Estoi uma das poucas em que o promotor é também o proprietário, uma vez que o terreno é normalmente arrendado e não comprado», diz ainda a associação de defesa do ambiente.
Ou seja, no caso concreto do projeto da Central Fotovoltaica de Estoi, a decisão dos promotores de «ir para uma área de Reserva Ecológica Nacional e Reserva Agrícola Nacional, que é zona de infiltração máxima de um aquífero» está associada «a puras decisões de gestão».
No estudo, cujas peças podem ser consultadas online, é descrito que está em causa uma Central Fotovoltaica «com uma potência de 69 MVA, com 14 MVA de armazenamento por baterias, equivalente a uma potência pico 94,63 megawatt-pico, estimando-se uma produção média de cerca de 144 gigawatt/horas (159 GWh no primeiro ano)».
O empreendimento, que ocupará cerca de 154 hectares, «é pioneiro na região do Algarve, uma vez que conta com o armazenamento de energia solar produzida, em baterias», lê-se no resumo não técnico do estudo.
Nas conclusões, o ênfase é dado aos aspectos positivos, ligados à socioeconomia e à promoção de energias renováveis, apesar de se apontarem consequências negativas ao nível da biodiversidade e da paisagem.
Preveem-se impactes ambientais «devido à destruição da vegetação por instalação da central fotovoltaica», que só serão «significativos se afetarem Habitats de Interesse Comunitário)» e por causa da «perturbação da fauna (só significativo se afetar fauna protegida)».
Quanto aos aspetos positivos, estão ligados à «criação de emprego», «dinamização da economia local» e «diversificação do tecido económico municipal», bem como ao clima e alterações climáticas – «energia de fonte renovável e diminuição do risco de incêndio».
O EIA também contempla a construção de uma linha elétrica, que ligará a central à subestação de Estoi da Rede Elétrica Nacional (REN), no concelho de Faro, com uma extensão estimada de 6,5 quilómetros, «distribuídas por 21 apoios».
«A área de implantação localiza-se na freguesia Santa Catarina da Fonte do Bispo, no concelho de Tavira.
(…) No que se refere ao projeto da linha elétrica e corredor de estudo, estes abrangem a União das Freguesias de Conceição e Estoi, no concelho de Faro, a União das freguesias do Moncarapacho e Fuseta, no concelho de Olhão, a freguesia de São Brás de Alportel, no concelho de São Brás de Alportel, e a freguesia de Santa Catarina da Fonte do Bispo, no concelho de Tavira», lê-se ainda no Estudo de Impacte Ambiental.
Os interessados em conhecer em pormenor o projeto, podem consultar todas as peças no site Participa.pt, incluindo mapas e o Resumo Não Técnico do EIA.
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