Mercado de Faro mantém viva a tradição

Estes espaços são uma mais-valia, não só na dinamização dos centros das cidades, mas também na preservação de uma riqueza cultural e humana

Foto: Rita Gonçalves | Sul Informação

É rara uma zona do Algarve que não tenha um. Os mercados municipais proporcionam muito mais do que uma montra de produtos, oferecem a experiência de conviver e conhecer as histórias de quem há tantos anos lá vende.

“Não trabalhava, estava em casa, armada em dondoca e comecei a trabalhar com a minha mãe”. Foi assim que começou o percurso da Dona Ilda Manuela no Mercado de Faro, há mais de 35 anos.

A escolha é pela diversidade, qualidade e muitas vezes, pelos melhores preços. O cliente procura produtos típicos e conselhos de quem os sabe preparar.

Estes espaços são uma mais-valia, não só na dinamização dos centros das cidades, mas também na preservação de uma riqueza cultural e humana que vai para além das memórias e mantém viva as tradições e as relações que existem entre vendedores e clientes que, todos os dias as partilham.

Das frutas aos legumes, das carnes e peixe ao pão, o Mercado de Faro continua a preservar o trabalho de quem lá vende e de quem tem testemunhado a sua grandeza e importância ao longo dos anos. Continua também a resistir ao tempo, ao desenvolvimento desenfreado de espaços descaracterizados e desumanizados onde só o consumismo impera e interessa.

 

Foto: Rita Gonçalves | Sul Informação

 

Há sempre boa disposição na banca do senhor José João, que desde muito cedo que tem gosto por mercados e é um sítio onde se sente bem. Já vendeu no mercado de Olhão e agora, 12 anos depois, ainda se mantém no de Faro, onde oferece uma variedade de produtos como fruta, legumes, produtos agrícolas, frutos secos…

Um negócio que revive memórias todos os dias graças aos clientes que por lá passam, pois, mesmo havendo ‘caras novas’ todos os dias, há sempre pessoas conhecidas de há muitos anos que se identificam com a rotina do mercado, com os produtos e se afeiçoaram a quem os sabe atender e ouvir.

“Como é um sítio de passagem, há sempre um novo cliente que vem aqui à Loja do Cidadão. Ou vai comprar peixe ou vem comprar pão e depois aproveita e dá uma voltinha. É sempre um ambiente muito amigável” dizia o senhor José João.

Uns produtos são de produção própria e outros vindos dos abastecedores, como por exemplo hortas, assim se obtém a qualidade e a frescura que se procura no mercado de Faro.

Tal como na maioria dos estabelecimentos comerciais, também no mercado se sofreu com a pandemia.

 

Foto: Rita Gonçalves | Sul Informação

 

Só que, ao contrário do que aconteceu com a maioria das lojas, no caso da Dona Ilda, no início da pandemia de Covid-19, as vendas até subiram. É que, devido ao congestionamento e difícil acesso a supermercados, as pessoas procuravam outras soluções.

Mas foi sol de pouca dura: “ao princípio vendemos, mas depois fui abaixo, mas no início vendemos mesmo a sério, constatou a vendedora.

Atualmente, o aumento dos preços nos produtos energéticos e alimentares está igualmente a causar um impacto negativo nas vendas. O Instituto Nacional de Estatística (INE), confirmou, no dia 11 de Novembro, que a inflação se situou em 10,1% em Outubro. Ou seja, esta foi a subida de preços mais elevada desde Maio de 1992.

“A partir do momento em que a inflação sobe, as coisas ficam mais caras e as pessoas perdem poder de compra, ou seja, é mais complicado comprar como se comprava antes. O mesmo dinheiro é muito menos produto, disse o Senhor José, partilhando a D. Ilda a mesma opinião.

Da conversa com estes dois vendedores, compreende-se o contraste entre gerações e a flutuação que as vendas têm vindo a sofrer ao longo dos anos, sempre associadas a períodos de crise ou de crescimento económico e agora, também, ao período pandémico da Covid-19.

Com altos e baixos, a verdade é que o Mercado de Faro tem hoje menos vendedores tradicionais, a par de novos espaços e novas funções.

É importante preservar, valorizar esta profissão de vendedor para não se perder a tradição, a ligação às origens, a proximidade com a terra e o mar, que é bem característica da região algarvia, para se partilhar as histórias e os ensinamentos, para se beber o conhecimento de pessoas que dedicaram e continuam a dedicar a vida a esta atividade com energia e alegria, de alma e coração.

 

 

Texto e fotos de Rita Gonçalves, realizados no âmbito do curso de Fotografia Profissional 21|23 da ETIC_Algarve, Escola de Tecnologias, Inovação e Criação do Algarve.
 

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