Manuel Pizarro veio ao Algarve encontrar-se com autarcas «em situação desesperante»

Falta de médicos é um grave problema em concelhos como Monchique, Aljezur e Vila do Bispo. Castro Marim preocupa-se com obras na USF

«É desesperante a posição de um autarca que vê a população sofrer por esta necessidade básica, que são os serviços de saúde primários». A frase é de Paulo Alves, presidente da Câmara de Monchique, mas o sentimento será extensível aos seus “vizinhos” de Vila do Bispo e Aljezur, que também receberam ontem, dia 23, a visita de Manuel Pizarro, ministro da Saúde, no âmbito da iniciativa “Saúde Aberta”.

A falta de profissionais de saúde, nomeadamente de médicos de família, foi a principal preocupação manifestada ao membro do Governo pelos executivos camarários destes três concelhos.

Não foi, de resto, por acaso que Monchique, onde atualmente só se encontra ao serviço um médico, de nacionalidade cubana, foi o primeiro concelho a ser visitado no âmbito desta iniciativa, durante a qual os 16 concelhos algarvios receberam o ministro ou um dos seus dois secretários de Estado.

Manuel Pizarro revelou que o escolheu Monchique para começar o périplo pela região exatamente por ser o concelho «com maiores dificuldades», tendo em conta que, num município que já de si tem poucos médicos, dois dos existentes estão de baixa prolongada.

 

 

Ontem, em declarações à TSF, Paulo Alves, presidente da Câmara de Monchique, apelidou a situação como «crítica» – como já o havia dito ao Sul Informação.

A falta de resposta dos cuidados primários de saúde, nomeadamente a dificuldade em assegurar consultas médicas, que obriga as pessoas a irem «às 4 da manhã para a porta do Centro de Saúde», é ainda mais sentida num território «de baixa densidade, com uma população envelhecida e uma extensão territorial grande».

O ministro prometeu soluções e disse aos jornalistas que, apesar de o Algarve não estar na lista das regiões com discriminação positiva, «que dizem respeito aos hospitais de interioridade», haverá «outros programas para os médicos de família em várias zonas do país e também nesta zona do Algarve».

«Estou convencido que os próximos meses serão muito positivos para os cuidados de saúde primários no Algarve, porque desta visita vão resultar medidas concretas, que vão fazer com que haja mais profissionais e mais acesso à saúde, que é aquilo que todos queremos», revelou o ministro, mais tarde, numa passagem pelo concelho de Portimão.

Para já, e no que diz respeito a Monchique, o Ministério «abriu um concurso para o poder recrutar para o quadro» o único médico que está ao serviço, que já está a ser apoiado pela Câmara, no que à habitação diz respeito.

 

 

Ali bem perto, também foi possível fixar médicos, com a ajuda da autarquia.

«Em Vila do Bispo, temos um casal de jovens médicos de família, oriundos do Norte do país, que se fixaram no concelho. Houve um concurso do Ministério da Saúde e o apoio da Câmara Municipal, que facilitou o acesso a habitação», segundo o ministro.

Ainda assim, salientou a Câmara de Vila do Bispo numa nota de imprensa, Rute Silva, a presidente da autarquia, não deixou passar a oportunidade para «transmitir a sua preocupação com a falta de recursos humanos, quer de médicos, enfermeiros e de assistentes técnicos no Centro de Saúde, referindo que os dois médicos existentes ao serviço são insuficientes para dar resposta aos cuidados de saúde primários solicitados, assim como o serviço de enfermagem».

«A aquisição de uma viatura de apoio domiciliário, a implementação, em Vila do Bispo, do projeto “Consultas Descentralizadas – CHUA + Proximidade”, que consiste em assegurar consultas de especialidade no Centro de Saúde, a abertura de um serviço de atendimento permanente (SAP), com consulta de recurso/reforço e consulta do dia/aberta, a remodelação das instalações da extensão de saúde de Budens e a aposta na modernização e segurança dos sistemas informáticos de forma a não registar as falhas de marcação de consultas recorrentes resultantes das quebras do sistema atual foram outras das preocupações manifestadas», acrescentou a Câmara.

 

 

O executivo municipal de Aljezur, que foi outro dos concelhos visitados pelo ministro – que também esteve em Portimão, Lagos e Faro -, também se mostra preocupado com a «falta de médicos de saúde geral e familiar», mas também com «o funcionamento da Unidade de Saúde Móvel de Aljezur, o melhor aproveitamento dos equipamentos da sala de fisioterapia e do gabinete do médico dentista, adquiridos pelo Município de Aljezur, e a preocupação com o modelo de transferência de competências para o município, na área da saúde».

Em Castro Marim, não esteve o ministro Pizarro, mas o secretário de estado da Saúde Ricardo Mestre, que se reuniu com o executivo da Câmara Municipal e visitou a USF – Baesuris.

O presidente Francisco Amaral manifestou a sua preocupação em relação às obras de reabilitação desta USF de Castro Marim.

Para a Câmara Municipal, se a transferência de competências na área da saúde «representa um acompanhamento mais próximo à população, representa também um compromisso financeiro muito mais elevado do que aquele que é passível de ser enquadrado na candidatura apresentada ao Plano de Recuperação e Resiliência».

 

 

Também médico de formação e ainda em regime de voluntariado no Hospital de Faro, Francisco Amaral aproveitou para sublinhar as debilidades, sobejamente conhecidas, do SNS no Algarve que tem «consultas externas com anos de lista de espera e com a marcação de exames auxiliares de diagnóstico a demorar vários meses», em que «não há dermatologista há dois anos» e em que se «enviam cheques cirurgia para hospitais, todos eles acima do Porto».

Trata-se de uma situação «pouco razoável», na opinião do autarca castromarinense, sobretudo tratando-se da população do interior, com muitas dificuldades de mobilidade.

Sobre o território de Castro Marim, «embora estejamos razoavelmente em termos de cuidados de saúde primários», Francisco Amaral referiu a extensão de saúde do Azinhal onde não há médico há dois anos.

Pelo seu lado, o secretário de Estado da saúde sublinhou que o objetivo é «conseguir que o SNS chegue a toda a gente», apontando a transferência de competências como caminho para potenciar sinergias que até já acontecem com as autarquias.

O presidente da Câmara de Alcoutim elogiou esta primeira edição da iniciativa Saúde Aberta, dizendo esperar que «estas visitas e escutas ativas no terreno continuem para que se possa combater a comorbilidade SNS e mudar de paradigma».

 

Leia mais um pouco!
 
Uma região forte precisa de uma imprensa forte e, nos dias que correm, a imprensa depende dos seus leitores. Disponibilizamos todos os conteúdos do Sul Infomação gratuitamente, porque acreditamos que não é com barreiras que se aproxima o público do jornalismo responsável e de qualidade. Por isso, o seu contributo é essencial.  
Contribua aqui!

 



Comentários

pub