Em Monchique, a «doença tem de esperar até ao fim de semana»

Câmara Municipal de Monchique (PS) já pediu uma reunião ao ministro da Saúde

A situação não é nova, mas todos concordam que «se tem vindo a agravar nos últimos tempos». O Centro de Saúde de Monchique tem falta de médicos e os utentes desesperam por uma consulta – há quem vá, de madrugada, para a porta tentar a sua sorte. Ao fim de semana, o reforço de clínicos de outros concelhos é uma ajuda, mas insuficiente. A própria Câmara Municipal (PS) já pediu uma reunião ao ministro da Saúde. 

Ana Pinto, habitante em Monchique, fala do «desespero» em que se tornou o Centro de Saúde.

«Telefonamos a pedir uma consulta e não conseguimos. Pedimos uma receita de medicamentos e demoram duas semanas. Para conseguir um atendimento, há quem vá às 6h00 para lá. Eu estou sem médico de família há seis anos, por exemplo», descreve a utente ao Sul Informação. 

Num concelho envelhecido, as falhas no Centro de Saúde são, admite, um «constrangimento ainda maior». Quando precisa de ir ao médico, Ana Pinto reconhece que, muitas vezes, o privado «tem de ser a solução». Ou isso ou espera «até ao fim de semana», quando há mais profissionais no Centro de Saúde de Monchique.

Desde 2018, que todos os concursos que são abertos, para colocar médicos nesta unidade, ficam desertos.

Contactada pelo Sul Informação, a Direção Executiva do Agrupamento de Centros de Saúde (ACeS) do Barlavento explicou que «anualmente são abertas vagas para o Centro de Saúde de Monchique, mormente em três momentos, isto é, duas vezes/ano para recém-especialistas (1.ª e 2.ª época) e uma vez/ano para especialistas por mobilidade».

Só que… ninguém quer ir para Monchique.

A Administração Regional de Saúde e o ACES Barlavento reconhecem o problema que se vem agudizando desde 2017, quando «dois dos quatro médicos que se encontravam alocados à UCSP de Monchique (Centro de Saúde e respetivas Extensões de Saúde) se aposentaram».

Durante um ano, esses dois médicos ainda aceitaram continuar a dar atendimento, mas atualmente, segundo a ARS/Algarve, há, no Centro de Saúde de Monchique, apenas duas médicas de medicina geral e familiar que têm, a seu cargo, «3000 utentes».

Há, ainda, um terceiro médico externo, contratado por uma empresa de prestação de serviços.

Só que este profissional, de acordo com o ACeS, «assegura a atividade assistencial na Extensão de Saúde de Marmelete (à segunda-feira de manhã), na Extensão de Saúde de Alferce (à quarta-feira de manhã) e o Serviço de Atendimento Complementar no Centro de Saúde de Monchique à terça-feira à tarde, quinta-feira à tarde e sexta-feira à tarde, abrangendo cerca de 2 500 utentes sem médico de família atribuído».

A isto acresce outro facto: as duas médicas «têm períodos do ano que se encontram ausentes, sobretudo para gozo de férias, mas também por motivos de saúde».

As ausências, que o ACeS Barlavento classifica como «imprevisíveis», aumentam (ainda mais) os «constrangimentos» do Centro de Saúde de Monchique, «obrigando a que, nestes períodos, o outro médico externo tenha de assegurar o atendimento igualmente àqueles utentes quando o seu médico de família está ausente».

 

Paulo Alves

 

Ao fim de semana e feriados, por estranho que possa parecer, a situação melhora porque a «muita da atividade assistencial desenvolvida no Centro de Saúde de Monchique é assegurada por médicos dos diversos concelhos da área de influência do ACeS Barlavento».

Certo é que, para o socialista Paulo Alves, a situação desta unidade de saúde se tem «agravado de dia para dia, principalmente em termos de recursos humanos».

Contactado pelo Sul Informação, o presidente da Câmara de Monchique explicou que já reiterou um «pedido de reunião com o senhor ministro da Saúde» devido a estes problemas.

«Foi algo que já tínhamos feito aquando da sua visita ao Algarve e agora voltámos a solicitar essa reunião», acrescentou o autarca.

Paulo Alves diz que, da parte da Câmara Municipal, também há soluções há vista.

«Na próxima reunião autárquica vamos levar um regulamento que quer ajudar a fixar aqui os médicos, nos próximos concursos, com ajudas em termos de alojamento, deslocação, etc», adiantou o edil de Monchique.

De resto, está a decorrer, atualmente, um concurso de 10 vagas para médicos não especialistas para a área do ACeS Barlavento: uma delas é para o Centro de Saúde de Monchique e Extensões de Saúde de Alferce e Marmelete.

Haverá solução à vista?

 

 



Comentários

pub