Certezas & Incertezas: notas de viagem de início do ano

«Uma certeza: nós não temos Turismo a mais, temos é os outros setores a menos»

No Algarve e no país, temos à nossa frente um ano complexo, recheado de incertezas, que exige de todos os cidadãos ativos e desde logo, dos empresários, uma atitude realista e muita coragem.

Não se pode viver de ilusões ou de meras esperanças. Nem de promessas políticas.

Os desafios atuais do Algarve exigem duas linhas de ação.

Uma, imediata, é enfrentar e superar de forma consistente a conjuntura negativa que vivemos desde 2020.

Outra, mais de fundo, é apontar para uma estratégia efetiva, e não apenas no papel, para o futuro da região.

 

2023. Certezas & Incertezas

O Algarve parte em 2023 com uma certeza muito positiva.

Depois de dois anos (2020/2021) de forte quebra da economia, concretamente no Turismo e em todos os setores que nele convergem, em 2022, apesar das dificuldades, assistiu-se a uma forte recuperação que aproximou a região aos valores de 2019.

Trata-se de uma importante certeza a reter: a capacidade de resistência e a consistência da estrutura económica do Turismo e das empresas e setores que nele convergem. E a coragem dos empresários que acreditaram na sua atividade.

Para 2023, a principal certeza que podemos apontar para a economia da região consiste num conjunto de incertezas incontornáveis, das quais depende a sua evolução e, muito em concreto, o Turismo, desde logo à escala europeia.

São conhecidas: para além da guerra na Ucrânia, sem fim à vista, e o seu reflexo na crise económica (custos da energia, inflação, taxas de juro, recessão em mercados emissores, etc.) que condicionam a decisão dos consumidores. O peso destes fatores pode diminuir, manter-se ou até aumentar. Há opiniões, nem sempre inocentes, a defender as diferentes hipóteses. Certeza: as incertezas estão aí.

Certeza: em qualquer dos casos impõe-se a necessidade da mobilização e ação das empresas e empresários.

As empresas com atividade direta ou indiretamente ligadas ao Turismo não podem ser meros espetadores, nem definir a sua atitude na base de informações de ocasião, muitas vezes oportunistas no sentido positivo ou negativo, que geram ilusões ou pessimismo, mas acompanhar permanentemente as posições de fontes institucionais.

As instituições públicas têm muita responsabilidade e não podem lançar opiniões avulsas de mera propaganda. Devem agir de forma regular, com coerência e responsabilidade.

O que exige, por parte dos empresários, uma vigilância permanente dos sinais de todos os fatores económicos e políticos, que determinam a evolução dos comportamentos dos potenciais consumidores.

Certeza: os empresários devem aproveitar os momentos difíceis da atual conjuntura, para melhorar a atividade das suas empresas, racionalizar custos, atualizar a estrutura tecnológica, apostar na formação, aproveitar os programas de apoio, melhorar a sua oferta e a capacidade competitiva, com o objetivo de se preparar para eventuais conjunturas negativas e os novos desafios da concorrência.

Os empresários devem reforçar as relações e a iniciativa conjunta entre as diferentes Associações Empresariais da região e com as Instituições regionais representativas.

 

Estratégia. Futuro da região

Certeza: o Algarve apresenta três vetores estruturais em relação ao futuro da região, que nos devem preocupar.

Desenvolvimento económico: o Algarve revela um forte desequilíbrio estrutural, com um peso muito elevado do setor relacionado direta e indiretamente com o Turismo (alojamento, restauração, imobiliária, comércio, serviços, etc.) e um insuficiente peso de setores da indústria, da agricultura e do mar, o que fragiliza o conjunto da economia da região. Sempre com uma certeza: nós não temos Turismo a mais, temos é os outros setores a menos.

Certeza: o que exige a necessidade de consolidar uma Estratégia que, para além de reforçar os setores ligados ao Turismo, aponte para a diversificação da estrutura económica da região, aproveitando recursos endógenos e apostando nas novas tecnologias, numa perspetiva de desenvolvimento sustentável. Não o fazer, não só gera incertezas sobre o futuro da economia da Região, como fragiliza o próprio Turismo.

Certeza: necessidade de uma verdadeira Regionalização. O Algarve para construir um futuro coerente, necessita de um instrumento político regional de gestão da região. Não chegam descentralizações e municipalizações.

Certeza: o Algarve necessita de liderança política legitimada democraticamente, capaz de afirmar politicamente o peso da região na economia nacional.

Certeza: estou consciente da dificuldade de atingir estes objetivos, desde logo pelos vários corporativismos de natureza diversa que pesam sobre a realidade da região.

Certeza: não irei desistir de lutar por eles ao lado dos algarvios.

 

Autor: Vítor Neto é empresário

 

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