Produção de vinho no Algarve cai devido à seca e ao calor

Comissão Vitivinícola do Algarve alerta para a subida dos custos de contexto

A produção de vinho, no Algarve, deverá conhecer uma quebra, em 2022, em relação ao ano anterior, devido à escassez de água e às condições climatéricas que se fizeram sentir ao longo da atual campanha.

«Ainda não temos os resultados finais, as vindimas ainda estão a decorrer, mas o que prevemos é que tenha havido uma quebra», revelou Sara Silva, presidente da Comissão Vitivinícola do Algarve (CVA), ao Sul Informação.

Ainda assim, e tendo em conta que «há novas vinhas em produção, que poderão colmatar a quebra que tenha resultado das vinhas mais antigas», ainda não é possível perspetivar uma percentagem final.

Em volume, a perspetiva é que sejam produzidos «1 milhão e 500 mil litros».

Certo é que, este ano, a vindima começou muito cedo. E este é um fenómeno que «cada vez acontecerá mais», avisou Sara Silva.

«Já no ano passado começámos nos primeiros dias de Agosto. Este ano, começámos na última semana de Julho, mais para as uvas para brancos e espumantes. As temperaturas elevadas do mês de Julho resultaram nesta antecipação dos trabalhos», acrescentou a presidente da CVA.

 

Sara Silva

 

Em alguns casos, o calor que se fez sentir também fez com que houvesse «escaldão, não só aqui no Algarve mas também noutras regiões do país».

Mais do que um problema pontual, a seca é já um problema estrutural, para a vitivinicultura do Algarve.

«A chuva é fundamental para a produção de vinho de qualidade. Não somos uma cultura necessariamente de regadio, mas faz falta, é importante, e nem sempre consegue ser substituída por uma rega equiparada. Isso é uma das grandes queixas que vemos por parte dos produtores», disse Sara Silva.

«Não chove no Algarve, é uma realidade que nos assiste e isto tem resultado também na qualidade e rentabilidade que se possa ter da vindima. É cada vez mais notório que é fundamental arranjarmos algum tipo de solução que possa ser alternativa à chuva, embora esta nunca deixe de ser sempre muito importante», reforçou.

Além dos fatores do ambientais, este ano – e por tempo ainda indeterminado – também pesou «o desafio dos condicionamentos da energia, o aumento dos custos dos materiais secos. Isto tudo resulta em grandes desafios para atividades como a nossa, que são produções relativamente baixas».

A somar aos custos de contexto conjunturais, há os outros caraterísticos da região. «O custo da terra é elevado, o custo da mão de obra também, a produção é limitada…», enumera.

Isto leva Sara Silva a considerar que, apesar do Algarve já ter o preço de venda ao público médio mais elevado do país, ainda «fica aquém» das outras regiões, no que toca ao retorno real.

«O caminho dos vinhos baratos para Portugal terá de ficar lá atrás. O nosso caminho é este: situarmo-nos no segmento de vinhos premium, para podermos estar presentes noutros mercados», afirmou.

«É fundamental desbloquear as questões do preço. O que nós estamos aqui a vender é um vinho com base na nossa genuinidade, temos de valorizar os nossos produtos, colocá-los em destaque e saber vendê-los», rematou a presidente da CVA.

 

 

 



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