José Eduardo Agualusa foi contando, em crónicas, contos e até entradas do seu diário, os «anos confusos» que vivemos. Reuniu tudo num livro: “O Mais Belo Fim do Mundo”. Lançada durante a pandemia, a obra ganhou o Grande Prémio de Crónica e Dispersos Literários que o escritor angolano recebeu esta quinta-feira, 26 de Maio, em Loulé.
José Eduardo Agualusa não tem dúvidas: «todos os prémios têm importância» mas este, em particular, ganhou outra relevância.
E porquê?
Porque, nas seis edições anteriores, foi atribuído a nomes de que Agualusa é «admirador».
«São escritores de que gosto, que leio, como a Lídia Jorge, e, por isso, é uma alegria grande para mim», reconhecia aos jornalistas, ainda antes da cerimónia começar na manhã de hoje.

O autor, nascido em Angola, mas com ascendência portuguesa e brasileira, tinha chegado há momentos a Loulé, mas algo já o tinha encantado.
«Aquilo de que mais gosto nestas cidades do Sul é a luz, a claridade. Este céu incrível é a primeira boa surpresa, mas precisaria de mais tempo para passar umas férias e aproveitar mais», disse, entre risos.
Quanto à obra – este “Belo Fim do Mundo” -, é, nas palavras do escritor, um «livro que dá testemunho destes anos confusos que vivemos».
Por isso, ao longo das cerca de 430 páginas, temos um pouco de tudo: desde a memória, bem real da Covid-19, até reflexões sobre Bolsonaro ou Trump, «caminhando entre a ficção e o ensaio», como se lê na sinopse.
A crónica – estilo que Agualusa pratica há vários anos, primeiro no Público, agora na Visão e jornal brasileiro Globo – é, de resto, «um bom exercício para um ficcionista».
«Às vezes, há personagens, ideias que me surgem em crónicas e que depois retomo em romance. Isso aconteceu no “O Vendedor de Passados”», livro publicado em 2004 pelo autor.

Sobre o facto de este Grande Prémio de Crónica e Dispersos Literários, da Associação Portuguesa de Escritores, contar com o apoio de uma autarquia longe dos grandes centros urbanos, José Eduardo Agualusa disse que, para um escritor, «não há periferias».
«Tudo é centro e em todos os lugares encontramos motivos para a escrita e para a literatura, mas acho que, sem dúvida, cada vez mais, é preciso criar iniciativas culturais fora dos grandes centros», considerou.
Este galardão, com o qual José Eduardo Agualusa ganhou 10 mil euros, também serviu para o escritor ter um um género de lançamento público deste livro, publicado durante a pandemia.
«Fiquei contente também por isso porque o livro terá um outro olhar, uma outra atenção que não teve quando foi lançado», concluiu o escritor.
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