João Porfírio, um algarvio que está a fotografar a guerra na Ucrânia

Sul Informação falou com o fotojornalista algarvio que está em Lviv desde quinta-feira

Foto: Cátia Bruno, publicada no Twitter

João Porfírio está em Lviv, na Ucrânia, desde quinta-feira. Ao serviço do Observador, o fotojornalista algarvio já esteve em bunkers, em estações de comboios e até numa fábrica de cerveja onde agora se fazem cocktails molotov. Atrás da câmara, tem fotografado uma guerra em que as imagens que não lhe saem da cabeça são «as despedidas emotivas entre familiares». 

A ida para a Ucrânia, de João Porfírio, natural de Portimão e editor de fotografia no Observador, foi uma sucessão «de constrangimentos».

A história é contada na primeira pessoa, numa conversa telefónica com o Sul Informação na manhã de hoje, dia 28.

O fotojornalista e a repórter Cátia Bruno, também do Observador, já tinham viagem marcada para quinta-feira, o dia em que a guerra começou.

«O nosso voo era às 6h00 com destino a Kiev, mas a Ucrânia começou a ser invadida por volta das 3h00. Aí percebemos que o espaço aéreo ia estar fechado e que não haveria maneira de chegar a Kiev de avião», conta João Porfírio.

A solução acabou por ter de ser encontrada no momento.

«O que fizemos foi aproveitar uma das escalas. Fizemos Lisboa-Roma, Roma-Munique e Munique-Cracóvia. Chegados à Polónia, alugámos um carro e foi assim que atravessámos a fronteira», relata.

A viagem foi longa, cerca de seis horas, com grandes filas na fronteira, mas a equipa de jornalistas conseguiu chegar a Lviv, uma cidade ucraniana próxima da Polónia.

Logo na primeira noite, veio o primeiro susto. «Ouvimos duas grandes explosões que soubemos, mais tarde, terem acontecido numa área militar», diz o algarvio.

Desde então, apesar de a noite passada ter sido mais calma, o som de fundo do dia a dia destes dois jornalistas portugueses tem sido o mesmo.

«Os alarmes de ataque aéreo ouvem-se várias vezes, durante o dia, à noite, nuns altifalantes espalhados pelas ruas e há bunkers públicos, para onde as pessoas se dirigem», conta.

 

Foto: João Porfírio | Observador

 

O próprio João Porfírio passou as primeiras noites em Lviv nesses bunkers.

«Os avisos eram constantes, de 30 em 30 minutos. Foram momentos muito tensos, entre estar com um ouvido na porta a ver se havia alguma explosão e ir olhando as redes sociais para saber mais informação», diz.

Apesar da tensão, a equipa de jornalistas do Observador tem ouvido «muitos relatos» de esperança por parte dos ucranianos.

«As pessoas acreditam e estão bastante confiantes de que a Ucrânia vai ganhar à Rússia. No fundo, que vão voltar a ter o seu país de volta», explica.

Desde quinta-feira, o fotojornalista algarvio já esteve em vários locais, mas identifica facilmente as imagens «mais dramáticas» que tem visto.

«São as despedidas entre maridos e mulheres, entre filhos. Como a Ucrânia ativou a lei marcial, os homens entre os 18 e os 60 anos não podem sair do país e são momentos duros», confessa João Porfírio.

Com Portugal, o fotojornalista tem conseguido manter «contactos diários».

 

Cátia Bruno e João Porfírio

 

«As telecomunicações nunca falharam porque, atualmente, as guerras também se fazem na Internet. Tenho falado diariamente com a minha família e com os meus amigos, muitos deles em Portimão», conta.

Com o Governo, os contactos também são diários. «Os representantes do Ministério dos Negócios Estrangeiros perguntam-nos sempre como estamos, quem está connosco», diz.

Agora, a equipa de enviados do Observador aguarda o que sairá das negociações entre Ucrânia e Rússia que aconteceram na manhã de hoje, na Bielorrússia.

«Se houver um cessar-fogo, iremos mais para Leste. Se não acontecer, provavelmente a zona onde estamos, em Lviv, vai ser ainda mais cercada e a opção será fugir porque não há heróis em lado nenhum e não há nenhuma fotografia que valha qualquer tipo de risco que possa vir a correr», conclui João Porfírio.

 

 

 



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