Quercus e LPN destacam Reserva na Lagoa dos Salgados como um dos melhores factos de 2021

Proposta de classificação ainda está em discussão pública

Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação (Arquivo)

A proposta de criação da Reserva Natural da Lagoa dos Salgados, situada no litoral entre os concelhos de Albufeira e Silves, é destacada como um dos pontos positivos de 2021 pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e pela Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza.

Segundo um comunicado, em estilo de balanço do ano transato, a LPN realça que «2021 acaba de forma muito positiva com a proposta de criação da Reserva Natural da Lagoa dos Salgados, que poderá vir a tornar-se na primeira área protegida terrestre a ser criada em Portugal em mais de 20 anos».

«São ótimas notícias porque o nosso país e o mundo precisam de mais áreas dedicadas à conservação da Natureza. Mas tão marcante como este desígnio, é garantir que a gestão destas áreas se torne mais efetiva».

A LPN espera que, em 2022, «se veja concretizada a intenção de atribuir à Lagoa dos Salgados o estatuto de Reserva Natural, bem como às restantes áreas que visam proteger o bem comum em terra e no mar, dando-lhes não apenas um novo título, mas também os meios para que se exerça a sua devida proteção».

Também de acordo com o balanço do ano de 2021 feito pela Quercus, a decisão de vir a criar uma nova área protegida, no Algarve, «lamentavelmente a primeira que deverá ser criada no espaço de 21 anos», é «um sinal positivo».

«A Lagoa dos Salgados e o Sapal de Armação de Pêra reúnem um conjunto excepcional de valores naturais, com particular destaque para a avifauna aquática, tendo-se tornado um dos locais de observação de aves mais visitados do país e assumindo hoje um papel estratégico do ponto de vista paisagístico, turístico e ecológico da região».

Este é, para a Quercus, «o corolário de uma luta e de um empenho decidido no objetivo da sua proteção e salvaguarda que, esperamos, venha a servir de exemplo para outras zonas semelhantes num futuro próximo».

Numa altura em que a Covid-19 continua no topo das preocupações, a Quercus recorda que «o eclodir das pandemias está associado à perda da biodiversidade, à destruição de habitats selvagens e às alterações climáticas».

«São estas algumas das razões pelas quais o Governo e todas as autarquias, tal como as empresas, têm mais do que nunca a responsabilidade de reforçar estratégias e investimentos rumo à promoção de uma verdadeira estratégia nacional para a biodiversidade e de conservação das áreas protegidas e a proteger, incluindo os vastos recursos oceânicos nacionais», explica.

No dia em que foi publicada a Lei de Bases do Clima, «que reconhece vivermos na atualidade uma situação de “emergência climática”», a Quercus recordou ao Executivo que «a neutralidade carbónica deve ser atingida o mais tardar em 2040 se queremos garantir a segurança climática às gerações vindouras, isto é, assegurar que a temperatura global se mantém abaixo dos 1,5ºC».

«A aplicação em curso de verbas massivas, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), continua a subestimar fortemente o potencial das medidas ambientais e climáticas na promoção dos empregos verdes e numa recuperação económica sustentável e com visão de futuro, de que são exemplos a aposta nas monoculturas intensivas e nas culturas de regadio, geradoras de poluição, escassez hídrica e destruição da paisagem».

 

 

Nos factos positivos apontados pelas duas entidades está também a aprovação da Lei de Bases do Clima, que «condensa orientações para a política climática portuguesa» e assume «metas nacionais de redução de emissões de gases doe efeito de estufa mais ambiciosas que as anteriores, admitindo a antecipação da neutralidade carbónica do país», sublinha a LPN.

Também o facto das Nações Unidas almejarem «ver 30% dos oceanos com algum estatuto de proteção» foi apontado como positivo pela LPN, «uma matéria na qual são visíveis os esforços nacionais para que a meta se concretize».

«A nova Área Marinha Protegida (AMP) da Corrente do Atlântico e da bacia do monte submarino Evlanov ao largo dos Açores, e a expansão da Reserva Natural das Ilhas Selvagens, criada há 50 anos, que a tornará na maior AMP da Europa e de todo o Atlântico Norte realçam o papel que as regiões ultraperiféricas podem desempenhar neste contexto».

Também no Algarve «se procura criar o Parque Natural Marinho do Recife do Algarve – Pedra do Valado, a primeira com origem num processo participativo, iniciado pela LPN em 2014 e que recentemente renasceu».

Portugal assume assim «um lugar cimeiro» na conservação dos oceanos, e a recente atribuição do Prémio Pessoa 2021 a Tiago Pitta e Cunha «veio precisamente reforçar esta missão nacional».

Já nas «más notícias, e o que permanece por resolver em 2022», segundo a LPN, estão «os planos estratégicos e estruturantes que vimos ser apresentados e que deixaram vazia a esperança de que a defesa do ambiente pesasse determinantemente nas decisões que irão moldar os próximos anos».

«O PRR, apesar de incluir aspetos positivos, apresentou investimentos com impacte ambiental negativo, como a aposta no projeto do Empreendimento de Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos do Crato (barragem do Pisão), e deixou vazio o seu pleno aproveitamento para a correção de problemas ambientais».

Outro dos pontos negativos prende-se com «o avanço da exploração do litoral que tem continuado a permitir a destruição de património, sobretudo no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, onde até habitats protegidos por legislação europeia desapareceram sob o mar de estufas».

«A agricultura intensiva e a construção de empreendimentos hoteleiros em áreas de elevado valor natural e paisagístico progridem a passos largos em todo o país, com particular relevo para as culturas de regadio no Alentejo e Algarve e para os planos para a costa entre Tróia e Melides».

A criação da Reserva Natural da Lagoa dos Salgados já tinha sido apontada como um dos seis factos mais positivos no Ambiente em 2021, de acordo com o balanço do ano feito pela ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável.

 



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