Linha de apoio do Governo pode ajudar a revelar segredos da cisterna do Castelo de Alferce

Cisterna tem uma parede com um túnel que é um mistério para os arqueólogos

O arqueólogo Fábio Capela – Foto: Nuno Costa|Sul Informação

A cada campanha arqueológica, o Castelo de Alferce, no concelho de Monchique, revela-se mais um pouco, mas ainda há muito para descobrir. Se, este Verão, as escavações incidiram na entrada norte do recinto fortificado superior e numa zona da muralha, em 2020, a cisterna concentrou uma boa parte dos trabalhos.

Sobre esta estrutura, «um espaço de vida», descobriu-se, por exemplo, que, nas paredes, há inscrições, grafitos, mas que há também uma parede com uma abertura, um túnel, cuja finalidade não é conhecida.

Depois da campanha do ano passado, a cisterna foi novamente coberta e esta foi uma das várias questões que ficaram por responder.

Para que essa resposta possa ser encontrada, é preciso financiamento e, da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), chegou, esta semana, uma boa notícia: uma linha de apoio financeiro extraordinário para Projetos de Investigação Plurianual em Arqueologia (PIPA), como aquele que está a ser desenvolvido no Alferce.

 

Cartela com inscrição em árabe

 

Fábio Capela, o arqueólogo da Câmara de Monchique e coordenador dos trabalhos, espera que os 10 mil euros que esta linha de apoio prevê para cada um dos projetos apoiados, cheguem, até porque, como explicou ao Sul Informação, «o projeto do castelo de Alferce é totalmente promovido e financiado pela Câmara Municipal. Não temos qualquer outro apoio financeiro. Temos apoios logísticos, mas dinheiro só temos do Município. Ora, até agora, a autarquia tem apoiado, mas, no futuro, pode ser mais complicado. Por isso, quando eu soube dessa notícia fiquei esperançado».

Com os 10 mil euros, revela Fábio Capela, «conseguiria fazer várias datações, que custam mais ou menos 500 euros. Relativamente à cisterna, os 10 mil euros chegariam e sobrariam para consolidar e restaurar a parede Oeste da cisterna e, assim, permitir não só a valorização do monumento, como prosseguir a investigação arqueológica».

Essa investigação pode explicar «porque está lá aquele túnel. Mas, para o escavarmos, temos que desenterrar a cisterna e consolidar a estrutura. Por tudo isto, é aliciante pensar nesse valor».

 

A cisterna a descoberto, em Setembro do ano passado. Foto: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

 

Seria aliciante por motivos científicos, mas também seria aliciante para os futuros visitantes daquele espaço que está em vias de ser adquirido pela Câmara Municipal de Monchique.

«A cisterna é aquele sítio emblemático, o sítio da vida. Onde aquelas pessoas tinham a água. Mas aqui temos um sítio ainda mais especial. É uma cisterna que, a dada altura foi desativada, e que está repleta de grafitos, inscrições e símbolos. Alguns foram realizados aquando da secagem da argamassa de revestimento, outros numa fase posterior. Por isso, eu acho que será um ex-libris do Castelo de Alferce», considera o arqueólogo.

Até porque, explica, «a ideia de futuro é a de criar condições para que as pessoas possam visitar o espaço, visualizarem essas inscrições e grafitos», conclui Fábio Capela.

O projeto de investigação no Cerro do Castelo de Alferce é promovido pelo Município de Monchique, em parceria com a Universidade do Algarve, a Universidade de Évora e o Campo Arqueológico de Mértola, contando ainda com o apoio de várias entidades, nomeadamente a Junta de Freguesia de Alferce.

 

 



 

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