Tese de Mestrado em Arquitetura “transforma” Convento de S. Francisco em Núcleo de Artes

Antigo convento está classificado como Imóvel de Interesse Público, mas é propriedade privada e a sua degradação acentua-se

A tese de Mestrado em Arquitetura de Bruno Silva, defendida no Instituto Manuel Teixeira Gomes (ISMAT), apresenta uma proposta para a reabilitação do degradado Convento de São Francisco, em Portimão, transformando-o num Centro de Juventude e novo Núcleo de Artes. A tese foi feita sob a orientação da professora doutora Ana Bordalo.

«Tendo em conta o estado de degradação em que se encontra» o antigo Convento de Nossa Senhora da Esperança, também conhecido por Convento de São Francisco, o autor considera que o tema da sua tese de Mestrado poderá ser importante para «consciencializar a população da cidade para a urgente necessidade de recuperar este espaço histórico», já que «o seu desaparecimento poderá causar um vazio arquitetónico irreparável para cidade de Portimão».

«Este estudo pretende despertar a consciência para a valorização do Património, através do desenvolvimento de uma proposta de reabilitação e regeneração do Convento de São Francisco, em Portimão, em Centro de Juventude e novo Núcleo de Artes, classificado como imóvel de interesse público, no ano de 1993, e que se encontra em elevado estado de degradação»

Nesse sentido, a tese de Mestrado defende a transformação do convento «num novo espaço», de modo a «devolver-lhe dignidade, com uma estratégia de intervenção onde o respeito pelas memórias locais é fundamental, mantendo o seu traçado, de forma a restabelecer a sua história e a sua relação com a frente marítima da cidade de Portimão, à qual pertence».

Em simultâneo, a proposta de intervenção «tem a premissa de estabelecer a contemporaneidade, quer através da proposta de reabilitação estabelecida, quer através da sua relação com o novo volume, destinado a Centro de Artes».

«Para o desenvolvimento do projeto de arquitetura que esta dissertação apresenta, foi imprescindível entender as funções primordiais que estão na essência do espaço do convento, ou seja, os princípios pelos quais se regiam os frades franciscanos, que o habitavam: a forte ligação com a natureza; a vivência de uma vida simples; e uma forte conexão com o interior pessoal e espiritual», explica o autor.

«De forma a manter esse espírito de proteção e cuidado sobre o próximo, foi desenvolvido um programa de centro de acolhimento para crianças e jovens, um espaço que vai acolher os mais desprotegidos e guiá-los no seu crescimento pessoal e espiritual», acrescenta.

O novo Núcleo de Artes, destinado a oficinas criativas, pretende «colmatar um vazio que existe na cidade, propondo-se como ponto de viragem nas dinâmicas culturais e sociais na comunidade local com interações e ações na partilha de conhecimentos e experiências criativas».

 

Com raízes que remontam a 1530, o Convento de São Francisco nasceu de uma doação de casas feita por Simão Correia, capitão de Azamor, aos Frades Observantes da Província Franciscana de Portugal, que se estabelecem no local somente em 1541.

O terramoto de 1755 causou sérios danos à estrutura, com a derrocada da abóbada da igreja e de numerosas dependências conventuais, o que levou à transferência temporária da comunidade religiosa para a Igreja do Corpo Santo, na então Vila Nova de Portimão.

A partir de 1834, com a extinção das ordens religiosas, o convento passou a ter outras funções, o que contribuiu para a sua lenta destruição, sendo desde então propriedade de privados.

Em 1993, o Convento de São Francisco recebeu a classificação de Imóvel de Interesse Público.

Tendo em conta essa classificação como Imóvel de Interesse Público, o Convento, que é propriedade privada de uma família, não pode ser expropriado pela Câmara de Portimão. Devido ao tipo de classificação, de nível nacional, a expropriação só pode ser feita pelo Estado.

Por outro lado, os proprietários pedem um valor extremamente elevado pelo imóvel. Há dois anos, o Convento estava à venda no site de uma imobiliária de luxo por 8 milhões de euros.

Estas duas situações têm impedido a reabilitação do edifício histórico e já inviabilizaram mesmo a sua aquisição para aí instalar um Centro de Altos Estudos Turísticos do Algarve, um projeto anunciado em 2011, mas que nunca avançou.

 



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