Sandro William Junqueira lança «A Sangrada Família», uma saga do medronho e fogo

Ezequiel: «Quando falamos nunca falamos sobre o que desejávamos. Estamos sempre a falar de outra coisa»

Apresentação do livro, ao ar livre, no Monte da Lameira

«A Sangrada Família», o mais recente romance do escritor Sandro William Junqueira, foi lançado no sábado, dia 10 de Julho, no Monte da Lameira, perto de Alferce, na serra de Monchique, pouco antes de ali começar o espetáculo-maratona especial «Para acabar em beleza (ou talvez não)», que fecha a primeira parte das “Noites do Medronho”.

A nova obra é, no fundo, uma adaptação para romance da história das famílias Capote e Monteiro, «equidistantes em terras e riqueza, inimigas em medronho», numa espécie de Romeu e Julieta à moda da Serra de Monchique. Nas 195 páginas do livro, o leitor irá conhecer (ou reencontrar) Ezequiel, Teodoro, Manuel e Filomena, as quatro personagens desta saga familiar, plena de ódio e violência.

Quem acompanhou os espetáculos do «Lavrar o Mar» do ciclo do «Medronho», que começaram em 2017 e terminam agora, irá recordar nestas páginas as falas daquelas personagens, interpretadas magistralmente, entre as paredes das destilas alquímicas de Alferce e nos cantos e recantos do Monte da Lameira, pelos atores António Fonseca, Estêvão Antunes, Pedro Frias e Rita Rodrigues.

No romance, fala-se de medronho, mas fala-se também de fogo, de família, de amor, de ódio. «Aqui a maldade é fermentada e o amor é destilado. Há natureza bruta, bruta labuta, filhos carnívoros, alcateias, velhos que cheiram mal, cuecas que cheiram a fruta e palavras que passam de boca em boca, neste ou noutro lugar, na ficção ou na vida, com estes ou outros nomes».

É a terra onde os homens bebem medronho para não chorar. Como diz Manuel, «nesta serra, os homens não choram: bebem medronho. Chorar faz muito barulho. Se bebermos medronho, ao menos o sofrimento cresce em silêncio na pança. Sem medronho, os homens começam a chorar para fora. A derramar o gargalo. Porque o medronho perfeito é aquele que atinge o ponto de lágrima».

É a serra onde a idade se conta pelos incêndios, como também diz Manuel. É é ainda ele que desabafa: «estas árvores já atravessaram o inferno muitas vezes. E depois ressuscitam. Ali ao fundo. Conseguem ver? O preto engolido pelo simples esforço da erva (…) Preto e preto e preto para depois ficar tudo verde. A vida encontra sempre uma maneira».

 

No lançamento do livro de Sandro William Junqueira, que junta num romance esta saga pouco burguesa que foi espetáculo durante quatro anos, foi lançado a Afonso Cruz, o autor dos textos da outra parte da saga, a das mulheres, que tem vindo a ser contada em Marmelete, ao longo dos mesmos quatro anos, o desafio para que também ele ponha em romance o que escreveu.

Aliás, amanhã, dia 16, e ainda a 17, 23 e 24 de Julho, será apresentado em Marmelete, ao ar livre, o espetáculo «Mulheres da Serra», com os textos de Afonso Cruz levados à cena durante os três anos anteriores, mais um texto, inédito, a pôr um ponto final na história. Serão cinco horas e tal de teatro intenso, vivido à luz dos candeeiros de petróleo. E, pelas ruas da vila, será possível conhecer ou reencontrar as atrizes Leonor Cabral, a Inês Rosado, a Sofia Moura e a Marta Gorgulho, as tais mulheres da serra.

No entanto, mesmo que o leitor tenha ficado interessado, saiba que os bilhetes para este drama serrano há muito estão esgotados. Se quiser conhecer estas quatro mulheres da serra ou saber como acaba a sua história, resta-lhe esperar que Afonso Cruz aceite o desafio para verter a sua saga em livro.

«A Sangrada Família» de Sandro William Junqueira, foi lançado pela editora Caminho e custa 12,5 euros. O livro só chega às livrarias no dia 21 de Julho.

 

 



Comentários

pub