“Hamster Clown”, um teatro sem texto onde o fantástico se sobrepõe à realidade

Espetáculo estará em cena esta sexta-feira, sábado e domingo, 16, 17 e 18 de Julho, no Cineteatro Louletano, em Loulé

Foto: Rúben Bento | Sul Informação

Entre a evolução do rato para o homem, num planeta distante do sistema solar, surge “Hamster Clown”. Um ser fechado no seu próprio labirinto, que não fala, mas diz muito sobre sonhos e pesadelos, e que vai lutar contra polvos gigantes, enxames de abelhas, corujas assustadoras e aspiradores endiabrados, para, talvez, poder vir a usufruir da sua liberdade. O espetáculo estará em cena esta sexta-feira, sábado e domingo, dias 16, 17 e 18 de Julho, no Cine-Teatro Louletano, em Loulé.

Depois de trabalhar no Cirque du Soleil, o palhaço Rui Paixão junta-se, pela primeira vez, ao encenador Ricardo Neves-Neves, para trazer a palco a peça “Hamster Clown”, um espetáculo original em que não existe uma única fala e no qual o fantástico se sobrepõe ao realista.

Esta peça conta a história de uma figura, proveniente da evolução entre o hamster e o ser humano e entre o homem e a mulher. Ou seja, «uma coisa meio alienígena», de tons arroxeados, com três pares de mamilos e uma cauda, em que «os espectadores irão identificar várias características e desvios, inspirados em questões ligadas ao drag queen», explicou o encenador Ricardo Neves-Neves, numa sessão aberta à imprensa na qual o Sul Informação participou.

Hamster Clown é um solo dinâmico que traz a palco vários universos alternativos, com uma cenografia pensada ao detalhe, num jogo de luzes, sons e efeitos visuais, com representação levada ao exagero, em que o espectador tem de estar focado em tudo o que vê e ouve para não perder nenhuma peça do puzzle.

 

Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

O convite para esta peça surgiu por parte de Ricardo Neves-Neves a Rui Paixão, sem que se conhecessem pessoalmente. Logo começaram a avançar com conteúdos para este espetáculo que, desde início, tinha um propósito definido pelo encenador: «fazer teatro sem texto».

As ideias começaram a surgir com «uma figura perdida na floresta que tinha de caçar um coelho ou um veado e que o comia», avançando para um género de rato ou hamster, «uma coisa meio alienígena, que identificamos que não é do nosso planeta», diz Ricardo Neves-Neves.

A narrativa foi sendo construída ao longo dos vários ensaios, incluindo um «conjunto de ideias que todos recolhemos aqui e ali» e que, agora, «fazem parte do espetáculo».

Num teatro sem texto, como este, apenas «existiam imagens» que lhes permitiram seguir «ideias radicalmente diferentes». Nenhum dos dois tinha um conceito definido sobre o que gostava de fazer neste espetáculo, «do que queria falar», o que tornou todo este projeto ainda mais «mágico», afirma Rui Paixão.

 

Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

Apenas com algumas pequenas experiências no mundo da representação teatral, Rui Paixão aceitou então o desafio de construir e de representar este “Hamster Clown”, revelando que esta acaba por ser a sua «verdadeira estreia como ator».

O palhaço explica que uma personagem com esta dimensão «demora muito tempo a ser preparada, até porque há uma adulteração daquilo que conheço como o meu corpo», o que implica algumas dificuldades na construção deste “hamster”.

Rui Paixão confessou que teve de começar «a ouvir música da Lady Gaga» para aprender, pela primeira vez, a usar saltos altos. Também o uso de uma prótese, que dificulta a respiração do ator, o uso de luvas, de uma peruca, e o grande trabalho de make-up que tem de ser feito são outros desafios constantes que Rui Paixão enfrenta em cada espetáculo.

«Cada dia, é um dia focado apenas no teatro», exclama.

A peça até pode começar só às 21h00, mas Rui Paixão chegará ao Cine-Teatro bem mais cedo: às 16h00. Segue-se, então, um processo de preparação de quatro horas, em que «duas são apenas para fazer a make-up do personagem», o que torna tudo «num processo muito grande».

Mesmo assim, acredita que, «numa altura em que as pessoas raramente se surpreendem, porque têm acesso a tudo», este espetáculo vai atrair bastante curiosidade, sobretudo com a sua transfiguração.

«Gosto dessa ideia de ser uma coisa fora do comum, estranha, de não ter medo do teatral, de ir ao teatro ver uma coisa que é excecional, fora do quotidiano, que não vejo se não for a uma sala de espetáculos. É para isso que pago bilhete: para ver algo que não veria na rua», salienta Rui Paixão.

 

Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

Rui Paixão admite que, nesta peça, «o que as pessoas vão ver não é um texto que não está a ser dito ou que está a ser mimado», mas, sim, «uma série de imagens» que cada espectador irá «ampliar para vários significados».

«Tudo o que se vê [em palco] é enorme porque, sem a palavra, tudo o que queremos dizer tem de ser colocado em cena. Não podemos falar disso e esperar que as pessoas imaginem. Temos de mostrar!».

Por isso, toda a parte estética, de cenografia, de vídeo e som, foi pensada ao detalhe, pois «todos os pormenores têm leitura, todos os movimentos do corpo, a inclinação da cabeça, o lugar para onde se olha, tudo», afirma o ator.

 

Foto: Rúben Bento | Sul Informação

 

A peça estará em cena no Cine-Teatro Louletano esta sexta-feira, sábado e domingo, 16, 17 e 18 de Julho, podendo comprar bilhetes através da bilheteira online do espaço.

A sessão de sábado (17) irá contar com audiodescrição, de modo a que mesmo os cegos possam assistir ao espetáculo.

Este instrumento será utilizado pela primeira vez no Algarve, numa parceria com a Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), para que «ninguém fique de fora», ainda para mais «num espetáculo bastante visual como o “Hamster Clown”», explica Ricardo Neves-Neves.

A peça tem interpretação de Rui Paixão, encenação de Ricardo Neves-Neves, cenografia de José Manuel Castanheira e figurinos de Rafaela Mapril.

Depois de ter estreado em Lisboa, e desta passagem por Loulé, o “Hamster Clown” seguirá para Ovar (30 de Julho), Odivelas (15, 16 e 17 de Outubro), Braga (Setembro/Outubro) e Ílhavo (Outubro).

Esta é uma co-produção entre o Cine-Teatro Louletano, Theatro Circo de Braga, Centro de Arte de Ovar, Centro Cultural Malaposta, 23 Milhas, Culturproject, Teatro do Elétrico e São Luiz Teatro Municipal.

 

Fotos: Rúben Bento | Sul Informação

 



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