Especialistas: Portugal poderá ter condições para desconfinar a 15 de Março

Ministra da Saúde não se compromete com datas

Os especialistas preveem que Portugal atinja, a 15 de Março, condições para iniciar o desconfinamento, que deverá ser faseado. Esta é uma das conclusões da reunião que voltou, esta segunda-feira, a juntar epidemiologistas e especialistas em saúde pública e decisores políticos, no Infarmed, em Lisboa. O Governo vai anunciar, na quinta-feira, as medidas para o desconfinamento.

A previsão de Baltazar Nunes, epidemiologista do Instituto Doutor Ricardo Jorge, é que, a 15 de Março, Portugal esteja «muito perto dos 60 casos por 100 mil habitantes» e com uma taxa de ocupação para as unidades de cuidados intensivos que é «desejada».

Segundo o matemático Óscar Felgueiras, que também participou na reunião do Infarmed, o nível de incidência da Covid-19 deve estar abaixo dos 60 casos por 100 mil habitantes para que as medidas de confinamento possam ser aliviadas.

Óscar Felgueiras, da Administração Regional de Saúde do Norte e professor na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, apresentou, no encontro, um plano para a redução das medidas restritivas que propõe a criação de cinco patamares de risco.

O patamar de “risco 5” (elevado) seria equivalente a 240 casos por 100.000 habitantes e o patamar de “risco 4 (alto) de 120 casos/100 mil habitantes.

O patamar de “risco 3” (médio) seria de 60 casos por 100 mil habitantes, de “risco 2” (baixo) de 30/100 mil e “risco 1” (muito baixo) era o equivalente a zero casos.

«O objetivo é atingir um nível abaixo dos 60 casos por 100 mil habitantes a 14 dias numa situação em que haja uma certa estabilidade», salientou.

Óscar Felgueiras observou que, no final de Outubro, se entrou “numa zona vermelha”, onde a incidência de 14 dias subiu para um patamar acima dos 240 casos por 100 mil habitantes.

Para tentar evitar esse tipo de situação, o especialista propôs a utilização de «um indicador adicional» que poderá ser o crescimento a 14 dias. O crescimento que é «mais estável» e, tendo em conta os patamares de baixa incidência propostos, acaba por «conferir mais estabilidade à adoção de medidas».

Para o investigador, uma aceleração do número de casos deve aumentar o patamar de risco, propondo que a partir de 240 casos seja o patamar máximo.

«Nos 120 [casos] com um crescimento de 30% há um salto do patamar quatro, para o cinco e por aí fora, sendo que, nos patamares mais baixos, eventualmente a situação pode diferir no sentido em que há uma linha verde nos patamares mais baixo».

O que este plano propõe é que haja a possibilidade de o indicador de risco reduzir: «com um crescimento negativo de 30%, baixar-se-ia um patamar de risco, com um crescimento acima de 60% isso implicaria uma subida de dois patamares de risco, exceto no nível de incidência mais baixo, onde por vezes existem perturbações pequenas que não tem demasiada expressão».

A situação viável é estar no “risco 2”, que será essencialmente uma situação continuamente controlada em que se está já ou nos 60 casos por 100 mil habitantes a 14 dias ou a aproximar-se, que é «a situação atual».

Por seu lado, Raquel Duarte, pneumologista, defendeu um plano de desconfinamento com base numa escala de risco entre “muito baixo” e “muito alto” com algumas medidas diferenciadas em termos concelhios e outras que devem ser aplicadas em todo o país.

Depois de ouvir os especialistas, o primeiro ministro António Costa considerou ter «uma base científica mais sólida» para tomar decisões, após os especialistas terem convergido sobre critérios na reunião do Infarmed.

«É importante encontrar uma metodologia que pudesse partilhar com a comunidade qual é a sustentação científica dos riscos diferenciados, porque isso ajuda toda a gente a perceber as medidas adotadas e facilita a adesão. Sinto-me com ferramentas para ter um processo de decisão mais sustentado», destacou.

Já Marta Temido, ministra da Saúde, no final da reunião realçou que se mantém «a tendência decrescente da pandemia» com o número de casos diários a diminuir tal como o número de internamentos.

Também o RT (Risco de Transmissão) atingiu o valor mínimo em Fevereiro mas está, segundo a governante, «novamente a subir», apesar de ser o mais baixo da União Europeia.

Sobre o anúncio das medidas de desconfinamento, Marta Temido realçou que, como tem sido habitual, os partidos serão ouvidos sobre os dados partilhados na reunião do Infarmed e o Conselho de Ministros irá anunciar e comunicar as decisões para o desconfinamento.

Ainda assim, a governante lembrou que há ameaças a ter em conta e realçou que nenhuma das apresentações dos especialistas apontou para datas, apenas para contextos.

 



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