CMRSul devolve o fôlego e a força aos que foram mais afetados pela Covid

Nova valência do CHUA vai acolher pessoas da região, mas também de outros pontos do país

Luís Palaré começa a sua terapia, Ana Paula já descansa depois dos exercícios que fez  – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Luís Palaré já está em casa, mas todos os dias se desloca de Faro até ao Centro de Medicina Física e de Reabilitação do Sul (CMRSul), em São Brás de Alportel, para continuar a sua recuperação. Já Ana Paula Cortes, está internada nesta unidade de saúde, à espera de ganhar forças e autonomia suficientes que lhe permitam regressar a sua casa.

Em comum, Luís e Ana Paula têm o facto de terem sido fortemente afetados pela Covid-19, de forma a necessitar de cuidados intensivos e de um internamento prolongado no Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA). Foram, também os primeiros “clientes” de uma nova valência oficialmente inaugurada esta quarta-feira, dia 3, no centro de reabilitação, direcionada para pessoas com sequelas físicas desta doença.

A partir de agora, o CMRSul passa a disponibilizar «até 25 camas» para acolher pessoas que a Covid-19 tenha debilitado, de forma a afetar a sua mobilidade ou a capacidade de fazer coisa que tomamos como adquiridas, como respirar normalmente, falar e, até, comer.

«Este é um serviço vocacionado especificamente para doentes Covid que estiveram internados nos cuidados intensivos e que perderam algumas capacidades, nomeadamente capacidades físicas e motoras. Podem ter tido, também, alterações quer da fala, quer da nutrição, pelo tempo de entubação que tiveram, e precisam de um processo de reabilitação mais intensivo para conseguirem voltar à sua vida normal, que é o que se pretende», resumiu Ana Castro, a presidente do Conselho de Administração do CHUA.

 

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Como já havia acontecido com o hospital de campanha que foi montado no Portimão Arena, a nova valência do CMRSul, uma das unidades do centro hospitalar, não será apenas para pacientes proveniente dos hospitais da região.

«Vamos ter até 25 camas destinadas à reabilitação destes doentes, que poderão receber pessoas de qualquer ponto do país. Desde que assim necessitem, podem ser referenciados, que nós os recebemos», assegurou Ana Castro.

«Nós fomos solidários quando foi para tratar a doença [acolhendo no Portimão Arena pessoas de outras regiões] e achamos que, neste momento, devemos sê-lo também na reabilitação dos doentes. Tudo isto faz parte. Não é só tratar a doença, temos, igualmente, de reabilitar. E nós tendo as condições, não nos parece legítimo não as aplicar a todos os doentes que delas possam precisar», reforçou a presidente do conselho de administração.

E o que vai o CMRSul fazer, exatamente?

«Essencialmente, iremos reabilitar as pessoas com melhor capacidade para recuperar, que geralmente são as pessoas mais jovens, e que necessitem de várias terapias diferentes, que exijam o internamento», explicou Luís Malaia, diretor do Centro de Medicina Física e de Reabilitação do Sul.

Ou seja, serão doentes «que estiveram por um período prolongado nos cuidados intensivos, decorrente da Covid-19, e que irão necessitar dos serviços de fisioterapia, terapia ocupacional, terapia da fala, psicologia e  enfermagem de reabilitação, para recuperar das diversas sequelas».

As debilidades em causa «vão desde alteração da voz e da fala por causa da ventilação mecânica, às alterações de memória, à capacidade de organizar o seu dia a dia, quer no trabalho, quer em casa e à capacidade de cumprir os seus autocuidados e necessidades da vida diária, como caminhar para ir às compras».

«Há uma grande perda da massa muscular. Também há um grande cansaço, um grande intolerância ao esforço, que exige um programa muito intensivo, com repetição por um período prolongado. Não estamos a falar em grandes cargas. A pessoa começa com a menor carga possível e vai subindo gradualmente. Esse esforço tem de ser distribuído ao longo do dia, para a pessoa conseguir tolerá-lo», acrescentou o médico fisiatra.

 

Luís Malaia, diretor do CMRSul – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Luís Palaré sabe bem do que é que o diretor do CMRSul está a falar.

Este farense de 52 anos soube que estava infetado com o novo coronavírus no dia 4 de Janeiro e menos de uma semana depois ficava internado no Hospital de Faro, onde se dirigiu por estar com diarreia.

«Pensava que ia lá só para tratar desse sintoma, mas não. Os médicos acharam que eu devia ficar internado na enfermaria.  Passados mais alguns dias, fui encaminhado para os cuidados intensivos, onde estive cerca de 15 dias. Mais tarde voltei para a enfermaria. Terei estado internado cerca de um mês», revelou.

«Ao fim desse mês, fui encaminhado aqui para o Centro de Reabilitação do Sul, onde fiz uma semana de internamento com reabilitação pulmonar e física, da parte muscular, para ganhar mobilidade e o mínimo de autonomia», acrescentou Luís Palaré.

A partir do momento em que ganhou autonomia, passou a fazer a fisioterapia pulmonar e física «em ambulatório. Venho cá todos os dias».

Apesar de clinicamente curado da Covid-19, Luís ainda hoje sofre com a doença. «Não tenho a mobilidade, nem a capacidade respiratória, nem o equilíbrio que tinha antes. E, em termos psicológicos, também afeta, na medida que temos dificuldades de lidar com certas situações que antes nos eram fáceis».

 

Luís Palaré – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Já Ana Paula Cortes ainda não obteve alta e não sabe quando a terá.

«Não sei quanto tempo ainda cá vou ficar, ainda ninguém me disse nada. Estou a recuperar, para depois, se Deus quiser, voltar um dia para casa», desabafa.

Esta paciente está internada há cerca de um mês no CMRSul, depois de ter passado pelos cuidados intensivos do Hospital de Faro, experiência da qual não tem memórias.

«Não sei quanto tempo fiquei lá, não me consigo recordar. Sei que estive nos cuidados intensivos porque me disseram. Mas não sei se estive com o tubo. Disseram-me que eu estive muito mal, isso sei. Mas, graças a Deus, melhorei», disse Ana Paula.

«Sei que depois vim para aqui, para o segundo andar [onde estava há algum tempo instalada uma unidade de retaguarda para doentes não-Covid do CHUA]. Estive lá três semanas, talvez. Depois, vim aqui para o primeiro piso para fazer exercício e reabilitação, para recuperar», contou.

Quando foi para a unidade de saúde de São Brás de Alportel, Ana Paula não conseguia andar sozinha. «Tinha de ter ajuda para me vestir e tomar banho. Agora já tomo banho sozinha, de pé, já me visto e já me calço sozinha».

 

Ana Paula Cortes – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Com estas camas que foram agora ativadas, o CMRSul voltou a trabalhar em pleno, algo que já não acontecia há cerca de 7 anos.

«Esta é capacidade que vai ficar instalada, para o futuro. Nós temos sempre a necessidade de reabilitar doentes, isto é uma reabilitação intensiva, é um programa completamente diferente daquilo que temos ao nível das outras unidades», assegurou Ana Castro.

«Neste momento, vamo-nos focar mais nos doentes Covid, porque é a grande necessidade. Mas vamos manter esta capacidade sempre, para as outras reabilitações, decorrentes de outras patologias, como são as vertebro medulares, os AVC e outras, porque esta capacidade faz falta, quer a nível regional, quer no país», concluiu a presidente do Conselho de Administração do CHUA.

 

Fotos: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

 

Ajude-nos a fazer o Sul Informação!
Contribua com o seu donativo, para que possamos continuar a fazer o seu jornal!

Clique aqui para apoiar-nos (Paypal)
Ou use o nosso IBAN PT50 0018 0003 38929600020 44

 

 



Comentários

pub