Proteja-se! Pela sua saúde!

O que pode contribuir para explicar que algumas pessoas se protejam e outras não?

A chegada da pandemia a Portugal implicou mudanças nas rotinas e a adoção de medidas preventivas com o objetivo de contribuir para o controlo da infeção.

Em teoria, este controlo deveria ser simples. Afinal, depende essencialmente do comportamento individual.

No entanto, a realidade não o mostra. O que pode contribuir para explicar que algumas pessoas se protejam e outras não? Ou que algumas pessoas, que adotaram comportamentos preventivos, tenham deixado de o fazer?

As respostas a estas questões devem ser analisadas através dos contributos dos modelos da Ciência Psicológica que demonstram a existência de diferentes fatores na explicação destas diferenças individuais.

Poderíamos pensar que a informação seria suficiente para as pessoas seguirem as recomendações e adotarem as medidas preventivas. No entanto, se, por um lado, o conhecimento (informação científica, por contraponto à desinformação, incluindo as fake news) é importante, os estudos mostram que, por si só, não se traduz necessariamente em mudança. Que outros fatores podem explicar estas diferenças?

As crenças, ideias não fundamentadas, acerca da infeção, das medidas de proteção, tratamentos ou potenciais vacinas, que podem ser influenciadas pelo conhecimento.

Perceber que estamos em risco de ficar infetados. Perceber que, se ficarmos infetados, isso pode ser grave e ter consequências para a nossa saúde.

As atitudes dos outros, em particular as pessoas significativas, a par da pressão dos grupos sociais.

A oportunidade, a par do esforço, para conseguir implementar as medidas. Planear o que fazer quando encontramos barreiras (por exemplo, quando num espaço comercial, o dispensador está vazio ou avariado). A confiança, nas autoridades e na capacidade para gerir as dificuldades.

A intenção e compromisso com a adoção destas medidas, a par da motivação/prontidão para a as manter.

Contudo, existem também variáveis emocionais que podem influenciar a adoção de comportamentos preventivos. O medo, reação emocional natural a situações de ameaça e de incerteza como a que vivemos, pode cumprir uma função de proteção, se contextualizado. A fadiga da pandemia, que pode contribuir para que algumas pessoas possam diminuir o seu compromisso para manter os comportamentos preventivos.

Num momento em que estão já demonstradas as consequências psicológicas da pandemia, colocando em causa a saúde mental, estes aspetos assumem particular relevância.

Sabemos que haverá sempre pessoas que terão dificuldade em adotar comportamentos de saúde. No entanto, concorde-se ou não com as medidas, tenhamos ou não dificuldade em perceber porque se alteram algumas recomendações (na verdade, a explicação é simples, as recomendações alteram-se em função das evidências), está em causa o papel do nosso comportamento na sociedade. No acesso a cuidados de saúde. No acesso ao trabalho e/ou à escola. No acesso às pessoas que são importantes para nós e às atividades significativas.

Está em causa a nossa responsabilidade individual. Perante os outros, perante nós próprios. Cabe-nos, neste momento tão desafiante para todos, ser ativamente responsáveis.

Proteja-se. Pela sua saúde!

Boas Festas, em segurança!

 

Autora: Marina Carvalho é Psicóloga Clínica e da Saúde, Especialista em Psicoterapias; Diretora do Departamento de Psicologia e Educação Física do ISMAT; Assistente Principal de Saúde no Serviço de Psiquiatria do CHUA – Unidade de Portimão; Investigadora Integrada no Instituto de Saúde Ambiental – Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

 

 


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