Comité Insular da Culatra vai ajudar “barco” da transição energética a «chegar a bom porto»

Comité é composto por 17 entidades, desde organismos públicos a empresas, passando por associações

Foto: Fabiana Saboya| Sul Informação

Nasceu hoje um novo Comité Insular, que veio «meter-nos a todos no mesmo barco» e vai ajudar as entidades que lançaram o projeto de transição energética de âmbito europeu Culatra 2030 «a levar este barco a bom porto. É tão simples quanto isso».

A imagem criada por Sílvia Padinha, presidente da Associação de Moradores da Ilha da Culatra, sobre o protocolo assinado hoje por quase duas dezenas de entidades, desde organismos públicos a associações, passando por empresas, não podia ser mais adequada.

Afinal, estamos a falar de um projeto que visa tornar uma ilha-barreira da Ria Formosa num exemplo internacional da transição energética e da sustentabilidade, envolvendo a comunidade piscatória que habita no núcleo da Culatra.

Hoje, foi dado «mais um passo no caminho para a sustentabilidade que a humanidade tem que fazer» e para o qual os promotores deste projeto de transição energética, que é algarvio, mas também europeu, querem dar um contributo decisivo.

E se os habitantes da Culatra e a Universidade do Algarve, que deram o pontapé de saída neste processo, depressa convenceram outras entidades a associar-se ao projeto, nomeadamente a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional e a Câmara de Faro, a bola foi avançando e crescendo, com mais e mais parceiros a juntar-se à iniciativa.

 

Assinatura do protocolo de criação do Comité Insular da Culatra – Foto: Flávio Costa | Sul Informação

 

Desta forma, o protocolo que criou formalmente o comité foi assinado por representantes das três associações do núcleo da Culatra – a AMIC, a da Nossa Senhora dos Navegantes e o União Culatrense -, pela Câmara e pela União de Freguesias de Faro, pela CCDR e pela UAlg, pelas ONG Make it Better e  SMILO (Small Islands Organization), pela Agência Portuguesa do Ambiente, pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, pela Capitania do Porto de Olhão, pelas empresas Docapesca, Águas do Algarve, Fagar e Algar  e pela AREAL – Agência Regional de Energia e Ambiente do Algarve.

«A criação do Comité Insular representa o compromisso institucional com aquilo que já era a iniciativa Culatra 2030, um projeto que começou com o apoio da União Europeia, com o objetivo de criar uma comunidade energética sustentável na Ilha da Culatra», segundo André Pacheco, investigador da Universidade do Algarve e um dos mentores deste projeto.

Depois de ser escolhida pela Iniciativa Energia Limpa para Ilhas da UE da Comissão Europeia, em Fevereiro de 2019, para desenvolver um dos seis projetos piloto para a transição energética, a nível europeu, a Culatra elaborou uma agenda para a transição, assente em cinco pilares de sustentabilidade: água, energia, resíduos, biodiversidade e ecossistemas e o património cultural, aliado às atividades humanas.

«Depois disso, era necessário institucionalizar todo o processo e isso passa pelo compromisso das entidades que têm jurisdição ou responsabilidade sobre o território», explicou André Pacheco.

 

André Pacheco – Foto: Flávio Costa | Sul Informação

 

Daí este Comité Insular.

«Convidámos as sete entidades que têm jurisdição sobre o território, mais as empresas que têm responsabilidades na área dos resíduos, da água e da energia», resumiu o investigador.

Desta forma, quando for pensada uma solução de compromisso para a sustentabilidade, o caminho escolhido pode ser «validado por todas estas entidades, de modo passarmos aquelas barreiras que são, muitas vezes, as mais complicadas».

No fundo, trata-se de evitar situações em que «se obtém um parecer positivo de um lado e um negativo de outro, para depois ficarmos num vazio em que as coisas não avançam».

«Ao promover este diálogo antecipado, sabemos que tudo o que sair deste Comité Insular está já balizado em todos os decretos e em todos os regulamentos que existem para a gestão territorial, nomeadamente as condicionantes e obstáculos do facto de estarmos num território que integra o Parque Natural da Ria Formosa, a Rede Natura 2000 e a Reserva Ecológica Nacional», reforçou André Pacheco.

 

Sílvia Padinha – Foto: Flávio Costa | Sul Informação

 

«Penso que hoje, as entidades que aqui estiveram quiseram assumir um compromisso sério e todos nós sentimos isso. Estão a assinar, já não são só palavras. Consideram este projeto interessante e estão a assumir que querem fazer este caminho connosco, o que para nós é muito importante», disse, por seu lado, Sílvia Padinha.

Entretanto, os habitantes da Culatra, que serão sempre os elementos centrais de qualquer estratégia de transição energética para a ilha, já estão a avançar com alguns projetos.

«Tivemos as sessões do diagnóstico participativo, em que a população foi intervindo, no enunciar de problemas e procura de soluções. É muito importante envolver as pessoas e despertá-las para outras realidades que desconhecem», lembrou a presidente da AMIC.

«Depois, temos o Centro Social da Nossa Senhora dos Navegantes, que vai ter motos elétricas para fazer o apoio domiciliário, possivelmente já a partir do mês que vem. Até agora, eram usadas motas a gasolina, com o ruído e a poluição associadas», acrescentou.

 

Centro Social da Culatra – Foto: Fabiana Saboya | Sul Informação

 

Por outro lado a associação de moradores fez uma candidatura ao Mar 2020, para aquisição de um barco movido a energia solar.

«Com este barco, vamos dar o exemplo que é possível navegar na ria e não poluir. A embarcação terá capacidade para transportar quatro toneladas de carga. Isso permite que, em vez de estarmos a fazer vários transportes, podemos juntar os pequenos produtores e fazer o transporte de bivalves nesta embarcação coletiva», resumiu Sílvia Padinha.

E já há outros produtores com maior capacidade a seguir o exemplo. «Há dois viveiristas que  já concorreram a apoios para adquirir barcos movidos a energia solar».

A criação do comité foi, igualmente, o primeiro passo para a obtenção de uma certificação internacional de sustentabilidade, a atribuir pela SMILO, uma ONG com sede em França.

«Para a SMILO, estas pequenas ilhas tem certas particularidades e, como é o caso da Culatra, tem contextos sócio-económicos que são desafiantes. Não é fácil para uma comunidade piscatória manter a sua identidade perante a grande pressão do turismo», disse André Pacheco.

«Perante tudo o que poderia desvirtuar aquilo que é a Culatra e a mais valia que ela representa para a região, esta organização tenta proteger as comunidades, através de um selo qualidade que assenta nos cinco pilares: água, energia, resíduos, biodiversidade e ecossistemas e o património cultural», concluiu o investigador da UAlg.

 

Fotos: Flávio Costa | Sul Informação

 

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