Bispo do Algarve pede cristãos na «linha da frente» do combate à crise da Covid-19

Vive-se, nas palavras de D. Manuel Quintas «uma emergência social no Algarve»

O Bispo do Algarve enviou uma nota pastoral a todas as comunidades católicas, onde pede que os cristãos estejam «na linha da frente», comprometidos e empenhados no combate às «emergências sociais», resultantes da crise económica provocada pela Covid-19». 

D. Manuel Neto Quintas diz que a economia mundial «está há muito desequilibrada», situação essa que foi «agravada ainda mais por esta pandemia», olhando igualmente para a situação portuguesa.

«No caso português, a economia entrou em recessão, registando uma queda no Produto Interno Bruto de 16,5% no 2º trimestre deste ano, segundo o Instituto Nacional de Estatística, sendo que a crise que se vive é já reconhecida como mais grave que a crise financeira de 2012, em termos dos efeitos negativos sobre as economias e o aumento do desemprego», escreve o Bispo.

No Algarve, que possui «uma estrutura produtiva muito centrada no turismo e nas suas áreas afins», o problema agrava-se mais ainda, existindo um «aumento invulgar do desemprego nesta época do ano, com o aumento a rondar as 100 mil pessoas, o que corresponde a nível nacional, a mais 29% de desempregados (406.665 desempregados)», afirma o prelado algarvio.

«Os números espelham as várias histórias de vida, de muitas mulheres e homens que trabalhavam no Verão para conseguirem sobreviver o resto do ano e que agora viram, de forma abrupta, o seu sustento suspenso ou reduzido, encontrando-se sem quaisquer perspectivas de melhoria no curto prazo», diz.

Estes dados são confirmados pelas diversas instituições e organizações ligadas à Igreja, como a «Cáritas Diocesana e as Cáritas Paroquiais, os Vicentinos, os grupos sócio caritativos paroquiais, os refeitórios sociais», que registam um considerável e expressivo aumento no número de pessoas que têm vindo a apoiar.

Vive-se, por isso, nas palavras de D. Manuel Quintas «uma emergência social no Algarve», que não poderá ser ultrapassada, citando o Papa Francisco, sem aquilo que «é realmente importante e necessário», ou seja, a «solidariedade e fraternidade» e que nos permitirá «não esquecer o valor inestimável de cada vida humana, a riqueza da vida dos idosos, a redescoberta do papel da família, o papel do Estado, mas também o da sociedade civil».

Para que essa solidariedade se cumpra, o Bispo do Algarve aponta caminhos para a região.

«O Algarve tem carências elevadas nas respostas sociais e na área da saúde, que urge colmatar. Não só o sistema económico e social vigente deve colocar a pessoa humana no centro da sua atuação, mas a saúde pública deve procurar a equidade e ser reforçada na região. É tempo de fazer diferente», considera.

«É tempo de valorizar o que é nosso, não esquecendo as festas e tradições, ainda que as vivendo de modo distinto, consumindo produtos locais, fazendo aqui as suas férias, usufruindo da gastronomia regional na restauração, visitando os nossos monumentos e museus, cumprindo sempre as normas de segurança e os cuidados previstos para este tempo. Deste modo, estaremos a construir a comunhão e a ajudar o próximo, estaremos a reerguer a economia do nosso Algarve, sem deixar de beneficiar do necessário descanso, bem como do convívio e da presença reconfortante dos que mais gostamos».

Assim, para D. Manuel Neto Quintas, «todos deverão ter um papel neste momento, a começar pelos governantes», que o prelado considera serem capazes de «avaliar e compreender a realidade especial que se vive nesta região e encontrar fórmulas apropriadas para ajudar a preservar empregos e fazer a economia retomar o seu crescimento», sem «normas administrativas complexas e exigentes» que não se compadecem com a situação presente.

Do mesmo modo, a Igreja Diocesana quer «deixar a todos uma palavra de esperança» e «ser parte ativa não só na reflexão sobre este problema, que é de todos», como também na «mobilização para a linha da frente, no apoio aos mais necessitados, para reerguer a vida pública, familiar e cristã».

«Estamos todos no mesmo barco», diz o Bispo do Algarve, e é nesse espírito de comunhão, que nos faz a «todos, sem exceção, parte da grande família humana», que nos leva «enquanto cristãos», a sermos desafiados a «criar sinergias solidárias e fraternas, geradoras da esperança que anima e fortalece».

 



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