Governo comprou ventiladores à China por 20 mil euros cada, mas em Portugal custam apenas 3500 euros? É Falso!

Verificação de factos do Polígrafo

A polémica estalou 24 horas depois da entrevista que o primeiro-ministro deu à TVI, focada no surto da Covid-19 em Portugal, no decurso da qual revelou que o Estado português pagou cerca de 9,2 milhões de euros à China para adquirir 500 ventiladores. Surgiram várias publicações nas redes sociais com a denúncia de que esse valor seria muito superior ao valor normal de mercado.

“Em Portugal os ventiladores são vendidos entre 2.500 euros e 3.500 euros mais IVA e já com transporte e custos de importação. António Costa disse na TVI que Portugal comprou 500 ventiladores por 10 milhões de dólares, ou seja cada um fica por 20.000 euros, que negócio é esse? A quem é que foram comprados? Que vígaros! Nem nestes tempos deixam de roubar os portugueses”, indica-se numa das publicações mais partilhadas.

Verdade ou mentira?

Em primeiro lugar, importa sublinhar que o autor da publicação não soube utilizar a calculadora, isto porque cada ventilador não custou 20 mil euros. Se os 500 ventiladores custaram 10 milhões de dólares, ou seja, 9,2 milhões de euros, cada aparelho custou cerca de 18.400 euros.

Em segundo lugar, há que conferir se no mercado, de facto, existem máquinas de ventilação que custem os invocados 3.500 euros. A resposta é afirmativa, mas os ventiladores a esse preço são os que se utilizam para o transporte de doentes de um ponto para outro e nunca máquinas adequadas a um doente que necessite de cuidados intensivos, como é o caso dos doentes que só sobrevivem com respiração artificial por terem contraído Covid-19.

O Polígrafo contactou a Dräger, uma das empresas que vende ventiladores em Portugal e que, apesar de não querer avançar detalhes, garantiu que 3.500 euros para um dispositivo de ventilação de cuidados intensivos “é um valor perfeitamente irreal, não é possível comprar por esse preço”.

Questionámos também Augustinho Santos, engenheiro na Iberdata, outra empresa que vende produtos hospitalares em Portugal, o qual alertou que os preços deste tipo de equipamentos não são fixos e dependem de acessórios, do propósito do uso e até da própria marca. “Isto é como compararmos a performance dos carros”, salienta.

Nesse sentido, Augustinho Santos, especialista precisamente, em equipamentos de cuidados intensivos e de anestesia, diz que “há ventiladores mais sofisticados que custam 20 mil euros”, mas um ventilador que consiga ser útil numa situação de “cuidados intensivos anda à volta dos 12, 13 mil euros, para responder a todas as situações”. No entanto, importa salientar que estes preços não contemplam o IVA. Ora, adicionando a um valor de 13 mil euros uma taxa de IVA de 23% (pode variar consoante a finalidade com que se compra), o preço total aproxima-se dos 16 mil euros.

É certo que o preço é mais baixo do que aquele que o Estado pagou ao comprar à China, mas não se conhecem os pormenores do negócio e se, por exemplo, houve custos de transporte e qual o valor deles. O engenheiro da Iberdata alerta que a pandemia, ou seja, a elevada procura destes aparelhos, neste momento, pode levar à subida do preço dos equipamentos, pelo que “20 mil euros é um preço justo, um número aceitável”.

Uma enfermeira de cuidados intensivos de um hospital de Lisboa também garantiu ao Polígrafo que o preço pago pelo Estado “não é escandaloso”, uma vez que, por exemplo, cada uma das máquinas com que trabalha na unidade hospitalar teve um custo de cerca de 17 mil euros.

Em conclusão, é falso que o Estado possa comprar ventiladores, fixos, para doentes de cuidados intensivos, por apenas 3.500 euros.

***

Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.

 

Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:

Falso: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.

 

Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:

Falso

Nota Editorial do Sul Informação: Este fact-check foi publicado originalmente no Polígrafo no dia 26 de Março, às 9h00 e pode ser lido aqui.

Comentários

pub