Campanha «má» obriga citricultores a repensar a comercialização

Fileira dos citrinos fez um balanço da campanha deste ano, em Loulé

Os citricultores do Algarve estão a ter «uma campanha má» em 2019, que torna ainda mais urgente uma nova abordagem ao mercado, no que toca à comercialização. Quem o diz é José Oliveira, presidente da associação de produtores AlgarOrange, que fez recentemente o balanço do setor, na região.

Produtores de citrinos, empresários agrícolas, investigadores e técnicos do Algarve juntaram-se na mesma sala para realizar um balanço da campanha, uma prática que já faz escola noutras fileiras e noutras regiões do país, mas que se realizou pela primeira vez na região algarvia no dia 26 de Junho, nas instalações do NERA, em Loulé.

O desafio de realizar esta iniciativa partiu do COTHN – Centro Operacional e Tecnológico Hortofrutícola Nacional e foi dirigido à AlgarOrange, uma associação criada recentemente e que junta nove dos principais produtores de citrinos da região.

«Estes balanços de campanha são algo que fazemos desde a nossa criação. Começámos por fazer com as maçãs e as pêras, porque estávamos ali no Oeste, e passámos, depois, para a parte das prunóideas, na Beira Interior, com a cereja, a ameixa e o pêssego. Mais recentemente, temos feito no Ribatejo, com os hortoindustriais e com a batata», revelou Carmo Martins, secretária-geral do COTHN, à margem da sessão.

«Já há algum tempo que nós, devido à dinâmica do setor dos citrinos e aos desafios constantes com que a fileira se debate, achámos que era interessante trazer o modelo dos balanços para o Algarve. Com o aparecimento da AlgarOrange, criaram-se todas as condições para que isso pudesse acontecer», acrescentou.

 

Carmo Martins e José Oliveira

 

A associação de produtores foi criada numa altura em que o setor vinha de uma série de bons anos, em que cresceu consecutivamente e conseguiu bons preços para escoar a sua produção. No entanto, este ano mudou tudo, para pior.

«Esta campanha está a ser má para a maioria dos operadores. Estamos a falar da descida do preço de venda na ordem dos 25 cêntimos», revelou José Oliveira.

É que, diz, «a campanha começou um mês atrasada, porque as condições climatéricas não deixaram que as laranjas atingissem os valores de doce, acidez e brix que permitissem colocá-las no mercado».

Assim, a janela de comercialização das diferentes variedades, que costuma ser de três meses, diminuiu para dois. Com o aumento da oferta, o mercado reagiu «como nós sabemos que reage: com valores em baixa».

E basta a primeira variedade chegar mais tarde ao mercado para que toda a campanha fique condicionada. Isto porque, explicou José Oliveira, «quando a variedade seguinte começa a ir para o mercado, este ainda está a inundado pela anterior».

Este problema verificou-se com a variedade de Primavera, o que levou a que não se conseguisse bons preços nos primeiros tempos de colocação de laranjas nas bancas, como é habitual. O mesmo deverá acontecer com a variedade de Verão.

 

 

Apesar da má campanha deste ano estar, em grande medida, associada às condições climatéricas, o presidente da AlgarOrange não vislumbra que os preços possam voltar aos valores que chegaram a atingir em anos recentes.

Há alguns anos, e depois de uma quebra forte no setor, os citricultores algarvios investiram forte na renovação e apetrechamento técnico dos seus pomares.

Isso permite que, hoje em dia, se produza mais citrinos do que nunca, ainda que a área plantada tenha diminuído.

«Há uma quantidade enorme de pomares jovens a entrar em produção, que de ano para ano aumentam a quantidade de citrinos», avisou José Oliveira.

Com mais citrinos no mercado, a tendência é para que os preços desçam. Isso leva a que os produtores tenham «de pensar em novas estratégias de comercialização», que, para o dirigente da AlgarOrange, é, hoje em dia, «a mais importante variável do negócio».

Uma das grandes apostas da associação é a internacionalização, seja através de uma maior divulgação dos citrinos algarvios além-fronteiras, seja indo ter com os turistas que nos visitam.

«Nós, no Algarve, temos um número incrível de hotéis e restaurantes. Já viram o que seria ter metade desses estabelecimentos a consumir laranja para sumo? A indústria paga 6 cêntimos pela fruta, que é o que custa a apanha. Com a hotelaria, de certeza que conseguiríamos melhores preços», ilustrou José Oliveira.

Este desígnio está contemplado numa candidatura apresentada pela AlgarOrange a Fundos da União Europeia, tendo em vista a internacionalização do setor, cujos resultados devem estar a ser conhecidos a qualquer momento.

A Região de Turismo do Algarve dinamizou recentemente uma reunião em que juntou produtores e empresários do setor turístico, tendo em vista colaborações futuras entre os dois setores.

A ideia é fazer com que a principal indústria da região possa alavancar um setor tradicional e no qual o Algarve é uma referência nacional e internacional, o dos citrinos.

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