1954, um fotógrafo Benfiquista em Portimão

O fotógrafo também fez imagens de Portimão, nomeadamente da então famosa Feira de Agosto

Roland Carlos de Oliveira, nascido a 25 de Março de 1920, foi durante décadas o fotógrafo oficial de O Benfica, o título mais antigo da imprensa desportiva nacional, tendo lançado o 1º número em 1942.

Roland trabalhou inicialmente para a prestigiada revista Stadium, depois de Nunes de Almeida e o premiado Amadeu Ferrari (1909-1984), pioneiros da fotografia desportiva, por lá terem deixado marcas indeléveis em capas fantásticas. Foi também o primeiro repórter de imagem do jornal Record.

Sabemos que Roland Oliveira percorreu o país a fotografar individualmente jogadores de futebol para a Agência Portuguesa de Revistas, quando acompanhava o seu Glorioso nos jogos fora.

São objetos de puro colecionismo, sobretudo para os “maluquinhos da bola”, as cadernetas cheias de cromos com retratos dos campeões das sucessivas épocas desportivas, muitas vezes apenas os rostos dos futebolistas em corpos de caricatura repetida.

Durante os 50 anos de fotógrafo da voz desportiva benfiquista, foi também mestre dos mais novos que se iniciavam na imprensa desportiva do clube. Ainda que a fotografia encarecesse as edições e, como tal, nem sempre se publicava, era óbvio o interesse mediático que alimentava o fervor clubístico da “chama imensa”.

A fotografia do golo era uma recordação inolvidável que se guardava para a posteridade, a da equipa enchia orgulhosamente as paredes das tascas e das barbearias.

Apesar de ser muitas vezes considerado o fotógrafo de Eusébio, o seu nome raramente surge referido nos créditos fotográficos.

Podemos constatar isso mesmo nos conhecidos bancos de imagem da era digital que vendem imagens do “Pantera Negra” a preços adequados ao mundo do futebol, sem referirem o verdadeiro autor dos “bonecos”.

Além de recordar o fotógrafo benfiquista, é nosso propósito neste artigo revelar aos leitores três fotografias (6×6) quase inéditas que Roland Carlos de Oliveira captou em Portimão, em 1954, com a sua Roleiflex e que generosamente nos foram dadas a conhecer pelo professor Nuno Loureiro, da Universidade do Algarve, responsável pelos ENFOLA (Encontros de Fotografia de Lagoa).

O interesse destes clichés reside sobretudo na temática em que se podem inscrever: feiras e mercados. Embora se trate de fotografias da esfera familiar do fotógrafo, já que em duas delas julgamos tratar-se da esposa e filha num momento de descontração e de férias, a sua evidência permite reconhecer a área ribeirinha de Portimão, onde se desenrolava anualmente, por três dias, a Feira de Agosto.

Ali, um pouco de tudo se vendia, sobretudo melancias que, para muitos, davam igualmente nome à feira, estendendo-se os tendeiros desde a Praça Bivar até ao largo Heliodoro Salgado.

A qualidade fotográfica parece atestar a qualidade dos barros, provavelmente vindos das olarias de Lagoa. A estranha ausência de gente em duas das fotos remete-nos para um final de tarde, reforçado pelo comprimento das sombras.

Num dia aziago, já com 83 anos, ao tentar fotografar a partir de ângulo inédito o Estádio da Luz, empoleirado num muro do Centro Comercial Colombo, Roland Oliveira perdeu o equilíbrio e sofreu a queda que o paralisou.

O seu eterno amor ao clube da águia e o entusiasmo com a nova ampliação do Estádio levaram-no sempre a querer fazer melhor.

Desta vez, não foi suficiente cauteloso perante os riscos que os fotógrafos correm ao tentar alinhar o olho, o coração e a cabeça.

Impossibilitado de “fazer mais bonecos”, a principal razão da sua vida, deixou de ter vontade de continuar a viver.

Em Junho de 2016, uma exposição fotobiográfica de Roland Oliveira ilustrou a inauguração da reabertura da antiga sede do Benfica, na rua Jardim do Regedor, sob a curadoria de Paulo Catrica.

Faleceu no dia 7 de Setembro de 2017.

 

Autor: Carlos Osório
Professor do ensino secundário e Investigador da História Local

 

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