Que cidades queremos?

Um pouco por todo o planeta reflete-se sobre o paradigma das cidades, no que se refere ao suprimento das necessidades […]

Miguel CaetanoUm pouco por todo o planeta reflete-se sobre o paradigma das cidades, no que se refere ao suprimento das necessidades das populações que as visitam e habitam. Necessidades essas que divergem bastante, dependendo do Continente em questão ou do estádio de desenvolvimento económico da sociedade em causa.

A cidade é uma entidade em constante mutação e evolução, como se de um ser vivo se tratasse. Cresce, transforma-se, altera suas funções, reorganiza-se, condiciona e é condicionada por quem as habita, numa simbiose na qual o Homem tem um papel central.

A cidade futura, a nossa, a do mundo ocidental desenvolvido, será a cidade do bem estar, centrada na qualidade de vida que proporciona. E é neste aspeto que reside o desafio para as próximas décadas.

O boom demográfico que se continuará a sentir no planeta até meados de 2050, estabilizando por aquela data, centrar-se-á sobretudo no Continente Africano, Médio Oriente e Ásia, assim indicam os estudos nesta área.

Esses estudos também mostram que as cidades vão sofrer uma procura cada vez maior, sendo que, por volta de 2050, cerca de 75% da população mundial estará a viver na urbe.

As cidades Europeias, contudo, serão substancialmente diferentes daquelas nos locais atrás referidos. Pois, se é bem verdade que a população irá duplicar, tal não acontecerá na Europa. As previsões até indicam que a Europa terá a sua população diminuída.

No contexto das cidades da América Latina, África, ou Ásia, as tecnologias terão um aspeto central no futuro.

Atualmente discute-se estratégias, investiga-se conceitos como “Metacidades”, bem como métodos e técnicas de observação para obter automaticamente o maior número de dados possível sobre os utilizadores, seja quanto aos locais que visitam, aos trajetos que fazem, ao tempo que neles permanecem, cruzando depois essas informações com elementos demográficos, culturais e sócio-económicos.

A observação, bem como o consequente cruzamento de dados, permitirá racionalizar recursos, melhorar a gestão das cidades e apoiar as tomadas de decisão no que ao planeamento se refere.

Por outro lado, o mundo desenvolvido que hoje conhecemos vive preocupado. Esse mundo, que tem visto regredir o número de filhos por casal e que irá sofrer uma considerável diminuição de população nas próximas décadas, tenta desesperadamente contrariar essa tendência (veja-se os recentes apelos à natalidade na Dinamarca), mas a breve trecho verá a sua população fortemente envelhecida.

Nesta parte do mundo, em vez da arquitetura dar primazia ao planeamento urbano para a expansão das cidades, passará a preocupar-se com a melhoria das suas condições de vida.

Aliás, não é à toa que assuntos como a reabilitação do edificado, a regeneração urbana, a requalificação dos espaços públicos, a melhoria da qualidade dos equipamentos públicos, a preocupação com a cultura, com a identidade do lugares, a mobilidade sustentável, a redução da velocidade nas cidades, os movimentos slow-living, etc., estão cada vez mais na ordem do dia.

As cidades futuras do mundo desenvolvido do século XXI competirão entre si pela sua sobrevivência, dada a estabilização da população versus o edificado atualmente existente, mais do que suficiente para suprir as necessidades da população, tentando atrair um universo limitado de utilizadores e, nesse sentido, desafiam a criatividade e o engenho de todos os que estão envolvidos nos processos de planeamento, desenho, decisão e implementação no terreno, nos quais deposita a chave para o seu sucesso futuro.

Não é também por acaso que há muito se afirma que a maior arma e o maior capital das cidades futuras será capital humano, o conhecimento e a criatividade. Teremos as múltiplas dimensões do Homem presentes na formulação do problema e na chave para a sua resolução.

Autor: Miguel Caetano
Arquiteto
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