Aos 20 anos, a Contramaré mostra que está de novo viva

A Contramaré, que começou por ser um cineclube em 1994, numa altura em que Portimão não tinha nenhuma sala de […]

Emídio FreireA Contramaré, que começou por ser um cineclube em 1994, numa altura em que Portimão não tinha nenhuma sala de cinema regular, tornou-se pouco depois numa associação cultural mais abrangente. Há dias, entre 26 e 28 de Dezembro, a Contramaré preparou um programa especial para comemorar os 20 anos de existência, na zona antiga da cidade.

Nessas comemorações, um dos grandes destaques foi o músico Alexandre Bernardo, que acompanhou à guitarra os filmes do célebre artista portimonense e seu avô Júlio Bernardo – um dos pioneiros do cinema e ícone da fotografia no Algarve.

Mas houve muito mais, em Portimão e Ferragudo, entre teatro, concertos, atuação de DJs e do comediante portimonense “Môce dum Cabréste”, uma oficina de ilustração e escrita criativa para crianças, passeio de barco no Arade, visitas guiadas pela cidade e, claro, cinema. Tudo para mostrar que, depois de sair da adolescência, a Contramaré está viva e recomenda-se!

Emídio Freire, fundador da Contramaré e que agora anda entre Portimão e Barcelona, recordou, em entrevista, que a  ideia de criar um cineclube surgiu «devido à paixão de um grupo de pessoas pela sétima arte».

MartaEm 1994, «Portimão não tinha nenhum cinema em atividade, embora ainda existisse o saudoso edifício do antigo cinema da cidade, que, no ano seguinte, iria comemorar o seu centenário. Portanto, tudo se parecia encaixar. A Contramaré, que começou por ser um cineclube, deu os primeiros passos na programação cinematográfica. Em 1995, organizou a comemoração do centenário do cinema, ocupando vários espaços da cidade e tendo como polo central uma exposição no, também destruído, antigo mercado da Alameda.Desta atividade, resultou também a alteração da Contramaré para Associação Cultural, tornando assim a sua atividade mais abrangente».

Com esta transformação, a atividade da Contramaré também evoluiu. E assim, além da programação do cineclube, a Contramaré «também criou uma secção de música chamada “off-cine”, que programou vários concertos, mostras e workshops durante vários anos», recorda ainda o seu fundador.

Mais recentemente, contudo, «devido à falta de local apropriado, a Contramaré apostou na realização de workshops de música, cinema e vídeo. O concurso de Curtas-metragens foi também uma das últimas atividades com impacto a nível regional, tendo um dos filmes premiados neste concurso sido selecionado para o Festival de Curtas de Vila do Conde», salienta Emídio Freire.

Mas foi sempre um percurso pejado de dificuldades. «As associações deste tipo existem graças a um equilíbrio muito instável entre a vontade de um grupo de pessoas com um objetivo em comum e a estratégia de política cultural para o município.  Ou seja, tem de existir, de facto, um grupo de pessoas com vontade suficiente para pôr as coisas em prática – o que nem sempre acontece.  Tem também de existir uma política cultural que promova o associativismo como uma mais-valia para o município, apoiando-o de forma estruturante. O desequilíbrio entre estes dois fatores provocou, ao longo dos tempos de existência da Contramaré, um grande desgaste e o seu quase desaparecimento», acrescenta.

contramaréE houve mesmo momentos de grande frustração para a Contramaré. Emídio Freire recorda que o momento mais frustrante «foi quando conseguimos um apoio significativo para a aquisição de equipamento de projeção de cinema e estabelecemos um protocolo com o Boa Esperança Atlético Clube Portimonense. Neste protocolo, a Contramaré responsabilizava-se pela aquisição de todo o equipamento e o Boa Esperança pelas alterações necessárias para que o referido equipamento pudesse ser instalado. O equipamento foi adquirido pela Contramaré e ainda se iniciou a instalação do som. Entretanto a direção do referido clube mudou. E o projeto de termos, no centro da cidade, um espaço para a projeção de cinema de qualidade acabou.
Nunca conseguimos reaver o equipamento. Este poderia ter sido, sem dúvida, o grande ponto de viragem para a nossa atividade. Não aconteceu».

E agora? Emídio Freire está confiante: «embora a história da Contramaré não seja hoje visível na nossa cidade, a sua atividade conseguiu contagiar muito jovens, hoje adultos, que podem dar outra oportunidade. Se fazia sentido criar, em 1994, uma associação cultural, hoje, em 2014 ainda mais sentido faz». «Se a maré te leva para onde não queres ir, tens de remar Contramaré» diz, recordando o lema da associação.

Marta Gonçalves: a Contramaré tem «bastantes projetos em andamento, alguns dos quais se baseiam em sinergias entre artistas ou associações locais e nacionais»

Para Marta Gonçalves, a atual presidente da Contramaré, «o futuro passará por encontrarmos um local físico para trabalhar, uma vez que, nestes vinte anos, sempre estivemos dependentes ou de equipamentos municipais ou de locais comerciais para desenvolver atividades».

A dirigente assegura que a associação tem «bastantes projetos em andamento, alguns dos quais se baseiam em sinergias entre artistas ou associações locais e nacionais».

«Estamos preocupados em recuperar de alguma forma a nossa identidade. Acima de tudo, o futuro chama-nos unidos para colmatar as carências sentidas no nosso território, ao nível cultural, artístico, social, turístico e económico», conclui Marta Gonçalves.

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