Festival que era para ser Adentro passa a “F” sem o programador saber

A data estava marcada há meses, existiam conversações avançadas com a Câmara de Faro e até houve várias reuniões entre […]

Festival Adentro 2011A data estava marcada há meses, existiam conversações avançadas com a Câmara de Faro e até houve várias reuniões entre produtora farense Blind Note e a autarquia para coordenar a organização do Festival Adentro, festa que ia para a quarta edição.

Mas, nas mesmas datas e no mesmo local, na Cidade Velha de Faro, surgiu o «Festival F», com programa fechado pela Câmara e outros parceiros, com o programador do entretanto cancelado Festival Adentro a só ter sido informado do facto no passado dia 6 de agosto.

«Foi um processo lamentável. Se a ideia era acabar com o Festival Adentro, investir num festival repleto de estrelas e entregar a organização a outras pessoas, poderiam tê-lo feito de uma forma clara. Houve várias ocasiões para isso, no entanto, todo este processo foi conduzido ao arrepio de qualquer sentido de decoro e ética profissional», considerou Pedro Bartilotti, numa nota de imprensa que a Blind Note enviou às redações.

Contactado pelo Sul Informação, o vereador da Cultura e vice-presidente da Câmara de Faro Paulo Santos garantiu que a decisão de mudar o figurino e de avançar com um novo festival se deveu à vontade de fazer um festival mais abrangente, com bandas conceituadas da nova música portuguesa, em vez do estilo World Music associado ao Festival Adentro.

Para isso, foi decidido criar «um novo festival, que será organizado pelo Teatro Municipal de Faro, em parceria com a Antena 3 e a Antena 1, com vários apoios». Um deles será o do bar Castelo, que acolherá um dos palcos do evento, e será, segundo Paulo Santos, «um dos financiadores».

O festival «F», nome escolhido para o novo festival, terá entrada paga, ainda que «o valor seja simbólico, tendo em conta a qualidade das bandas que vão estar presentes».

Pedro Bartilotti: “Entendemos que todo o processo foi conduzido com alguma leviandade e com desrespeito pelas pessoas da terra, empresas, artistas, colaboradores de todas as edições do festival e pelos agentes culturais da cidade”

Quanto à não inclusão de Pedro Bartilotti no processo de decisão, Paulo Santos defendeu que este «é um evento da Câmara e sempre foi» e que tudo terá a ver com visões divergentes quanto ao conceito. «Pedimos-lhes para apresentarem sugestões, o que eles fizeram, mas optámos por outras soluções. Ele afastou-se por não concordar com o estilo de música que nós escolhemos», assegurou o vereador da cultura da autarquia farense.

Tiago Bettencourt, Dead Combo, The Legendary Tiger Man, Samuel Úria e Luísa Sobral são alguns dos nomes que constam do cartaz, que já foi divulgado à porta da Festa da Ria Formosa. O problema, na visão de Pedro Bartilotti, foi essa divulgação ter acontecido «apenas três dias depois da produção do Festival Adentro ter sido confrontada com o seu cancelamento».

O empresário farense adiantou que, nos últimos meses, «se reuniu várias vezes com a pasta da Cultura a fim de preparar atempadamente a organização da 4 ª edição do Festival Adentro».

«Decidiu-se, então, que o festival se realizaria nos dias 5, 6 e 7 de Setembro, por isso fomos avançando com todos os preparativos necessários e inerentes à produção, que incluíam os contactos e as pré-reservas com os artistas. Acertou-se uma reunião com a autarquia para finais de julho para discutir os últimos detalhes, tendo a Vereação da Cultura sugerido que fosse equacionado um reforço do orçamento, acompanhado de um refresh do conceito do Festival Adentro com base nalgumas sugestões da autarquia», contou.

As condições estariam acertadas, entre as quais a introdução de entradas pagas, uma velha aspiração dos promotores do Festival Adentro, que até agora tinha sido negada pela autarquia, que sempre fez depender o seu apoio ao festival da manutenção das entradas livres. Mas a Blind Note acabou agora por ser colocada à margem do processo, alega a produtora farense.

Após esta última reunião, e apesar de várias tentativas, os promotores não obtiveram «qualquer resposta a emails ou retorno às tentativas de contacto telefónico». A informação de que o Adentro «ia dar lugar a um novo festival, cujo cartaz e programação já estavam praticamente concluídos e negociados», à «total revelia» da Blind Note, só surgiu a 6 de agosto.

Paulo Santos confirma a existência destas reuniões e de conversas no sentido de reeditar o Festival Adentro nestas datas, mas, insistiu, a autarquia optou «por um festival com dimensão e público alvo diferente». «O Festival Adentro não ficou riscado do mapa», assegurou.

Paulo Santos: “O Festival Adentro tem vindo a definhar de ano para ano, embora não por culpa da organização”

«Procurámos incluir a Blind Note no novo conceito, mas eles declinaram a nossa proposta, como era o seu direito», acrescentou. Não adiantou, ainda assim, de que forma isso iria acontecer, acrescentando apenas que foram «equacionados vários cenários».

«Entendemos que todo o processo foi conduzido com alguma leviandade e com desrespeito pelas pessoas da terra, empresas, artistas, colaboradores de todas as edições do festival e pelos agentes culturais da cidade. Muito mais haveria para dizer, mas o objetivo não é ingressar em lamúrias, mas esclarecer a nossa cidade, bem como quem acompanha o nosso trabalho, dos porquês do abrupto cancelamento do Festival Adentro», concluiu a Blind Note, na posição pública que tomou.

Já Paulo Santos diz ter «todo o respeito pelo Pedro Bartilotti, como empresário da área cultural farense e pelo trabalho que tem desenvolvido na cidade», mas considerou que «o Festival Adentro tem vindo a definhar de ano para ano, embora não por culpa da organização», algo que alegou, «foi mais evidente no ano passado».

Já este novo conceito, com os parceiros com que conta, tem «possibilidade de se afirmar no contexto regional» e de evoluir para uma dimensão «que o Vila Adentro demonstrou que não conseguiria ter».

 

 

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