Definir as grandes prioridades da ciência na Antártida: porque é importante e porquê só agora?

Setenta e cinco cientistas e decisores políticos de 22 países reuniram-se para concordar nas prioridades da investigação na Antártida para […]

antartida 2Setenta e cinco cientistas e decisores políticos de 22 países reuniram-se para concordar nas prioridades da investigação na Antártida para as próximas décadas. É a primeira vez que a comunidade científica Antártica formulou tal visão coletiva, obtida através de debates, discussões e votações.

As perguntas lógicas a responder desde já são: porque é importante isso agora? Quais são essas prioridades científicas? O que é preciso para responder satisfatoriamente a essas prioridades?

A Antártida é maior do que o continente europeu, e as mudanças que estão a ocorrer agora nessa região, como a perda de gelo, mudanças na circulação das correntes e a melhoria da camada de ozono possui consequências globais, em todo o planeta.

O que acontece lá pode afetar-nos em Portugal, no Japão, nos Estados Unidos ou em Moçambique, seja através, por exemplo, pelo aumento do nível das águas do mar, através das condições climáticas ou nas mudanças da biodiversidade.

Além disso, a região Antártica também possui recursos marinhos e terrestres que precisam de ser bem geridos ou protegidos.

Nessa reunião que ocorreu em Abril de 2014 na Nova Zelândia, os participantes reduziram mais de 1000 questões científicas propostas pela comunidade científica, para as 80 mais importantes.

Estas questões mais importantes, publicadas na última edição da revista Nature, caíram em 6 grandes temas, desde em definir a influência da atmosfera e do Oceano Antártico no resto do planeta (por exemplo como é que as interações entre o oceano, a atmosfera e o gelo controla a taxa das alterações climáticas?), a compreender como, onde e porquê as camadas de gelo, que estão no continente, estão a diminuir, a conhecer melhor a historia geológica da Antártida (registos do gelo, rochas e sedimentos são necessários para compreender o passado climático), a compreender como a vida na Antártida evoluiu e sobreviveu, a observar o espaço e o Universo (esta é uma das melhores regiões do planeta para observar o espaço) a reconhecer e mitigar a influência humana na Antártida.

Para responder às 80 questões mais importantes, é necessário promover as colaborações e cooperações entre nações, maximizando o retorno científico e reduzindo o impacto humano na região.

Também é necessário que os programas científicos possuam financiamento estável e a longo prazo, e que o acesso ao continente para fazer ciência melhore.

Para mais, medidas de proteção ambiental da Antártida precisam de ser reforçadas. Por exemplo, devido o aumento do turismo, o risco de introdução de espécies não indígenas e de acidentes poderá aumentar.

O Tratado da Antártida, que é responsável pela governação da região, também tem sido testado com o aumento de pressões associadas ao ambiente e a interesses económicos.

O futuro deverá passar por encorajar a criação de projetos internacionais e interdisciplinares, cooperação na partilha de dados e disseminação do conhecimento para os decisores políticos e o público.

Sem dúvida, comunicar a importância global da Antártida é uma prioridade e explicar como a região afeta e é influenciada pela nossa vida diária, deverá ser também o dever da comunidade científica.

Agora, caro leitor, já sabe dizer o porquê da importância da Antártida para o planeta!

 

Autor: José Xavier
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

Artigo:
Kennicutt II, M. C., Chown, S. L., Cassano, J. J., Liggett, D., Massom, R., Peck, L. S., Rintoul, S. R., Storey, J., W. V., Vaughn, D. G.,Wilson, T. J., Sutherland, W. J., Allison, I., Ayton, J., Badhe, R., Baeseman, J., Barrett, P. J., Bell, R. E., Bertler, N., Bo, S., Brandt, A., Bromwich, D., Cary, C., Clark, M. S., Convey, P., Costa, E. S., Cowan, D., DeConto, R., Dunbar, R., Elfring, C., Escutia, C., Francis, J., Fricker, H. A., Fukuchi, M., Gilbert, N., Gutt, J., Havermans, C., Hik, D., Hosie, G., Jones, C., Kim, Y., Le Maho, Y., Lee, S., Leppe, M., Leichenkova, G., Li, X., Lipenkov, V., Lochte, K., López-Martínez, J., Lüdecke, C., Lyons, W. B., Marenssi, S., Miller, H., Morozova, P., Naish, T., Nayak, S., Ravindra, R., Retamales, J., Ricci, C. A., Rogan-Finnemore, M., Ropert-Coudert, Y., Samah, A. A., Sanson, L., Scambos, T., Schloss, I., Shiraishia, K., Siegert, M. A., Simões, J., Sparrow, M. D., Storey, B., Wall, D. H., Walsh, J. C., Wilson, G., Winter, J.-G., Xavier, J. C., Yang, H. (2014). Six priorities for Antarctic science. Nature 512: 23-25

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