«Nunca faltaram medicamentos» no CHA, poderá é faltar «cuidado» de quem atende

O presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve (CHA)  garante que não há falta de medicamentos e […]

O presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve (CHA)  garante que não há falta de medicamentos e de material nos hospitais do Algarve. O que poderá haver é falta «de cuidado» de quem atende, ao não se preocupar em explicar ao doente que o medicamento estará disponível «dentro de horas», justifica Pedro Nunes.

«Não faltou, até hoje, nenhum medicamento para ninguém!», afirmou o responsável máximo pela estrutura que une os hospitais de Faro, Portimão e Lagos. «Faltou de manhã e veio à tarde, faltou à noite e havia no outro dia de manhã, não havia em Portimão e veio de Faro. Não faltou, verdadeiramente, nada», assegurou, no programa radiofónico «Impressões», dinamizado em conjunto pelo Sul Informação e pela Rádio Universitária do Algarve RUA FM (102.7 FM).

«Claro que um doente que chega ao hospital e não tem o medicamento – principalmente se a pessoa que fala com o utente não tiver o cuidado de dizer “agora não há, mas esteja descansado que logo à tarde já vem” e se disser “não me chateie, que eu não sei, nem tenho nada a ver com isso”(…) – se sente injustiçado, apesar de ir ter o medicamento dali por uma horas», ilustrou Pedro Nunes. «Há pessoas que, até a própria pressão as faz ser mais agrestes», concluiu, referindo-se aos profissionais de saúde.

Esta será, segundo  Pedro Nunes, a razão que justifica os (muitos) relatos de utentes que dizem ter visto tratamentos negados, por, alegadamente, não estarem disponíveis. O administrador do CHA recusa que haja «má vontade» da parte dos profissionais de saúde, mas afirma que «há aproveitamento de algumas pessoas e o falar de cor e o falar emocional».

Apesar das garantias, acabou por admitir que houve falhas, nomeadamente «uma hormona de tratamento do cancro», pela qual os doentes tiverem de esperar «cerca de uma semana para ter o tratamento», bem como em relação a quem sofre de «doença de Gaucher», que estará a sofrer as consequências do não cumprimento da lei por parte de um hospital de Lisboa, que passou a ser o único responsável a nível nacional pela terapêutica desta doença rara.

«Atrasámos a compra enquanto foi clinicamente possível. No dia em que me disseram que não era possível esperar mais, violei a lei e comprei o medicamento», contou.

Quanto à hormona usada no tratamento do Cancro da Mama, «o Hospital não é obrigado a fornecê-la, porque existe na farmácia da rua». «Só oferece porque o Algarve é uma zona pobre e o medicamento pode custar cerca de cem euros». A demora em adquirir esta hormona esteve ligado à falta de stock nas farmácias algarvias e ao facto de a compra deste medicamento «necessitar de uma autorização especial».

Pedro Nunes diz ainda que se colocou ao dispor dos responsáveis pela farmácia «24 sobre 24 horas, até ao fim de semana, para que não falte nenhum medicamento». «Foi dada ordem para comprar tudo o que era medicamento urgente. De todos os outros medicamentos, mesmo os que custam fortunas, foi dito que os que forem para o HIV e para o cancro não podem faltar», disse.

«Quando me dizem que faltaram agulhas, eu rio-me, pois sei que faltaram agulhas no serviço 1 às 17 horas e às 17h10 estavam lá agulhas vindas do serviço 2, 3 ou 4», disse. Tudo graças a uma nova figura criada, o enfermeiro de coordenação «que sabe tudo o que há no hospital e vai buscar onde é preciso».

«Esta fusão é um processo complicado. Tem que ter, por lei, um único responsável pelas farmácias todas, um único sistema de aprovisionamento [compras] e isso é muito difícil de fazer quando duas unidades têm sistemas informáticos completamente diferentes. Só no dia 1 de janeiro [de 2014] é que foi possível ter um único sistema informático e um sistema de aprovisionamento centralizado», algo que foi feito «em seis meses, quando noutros centros hospitalares demora anos».

Ao longo deste período, foi preciso mudar os códigos de aprovisionamento. «E não estou a falar em meia dúzia. Estamos a falar de 28 mil e 532 produtos diferentes, entre os quais 5 mil moléculas de medicamentos», revelou.

A entrevista a Pedro Nunes foi originalmente para o ar esta quarta-feira e pode ser novamente ouvida na íntegra amanhã, sábado, às 12 horas, em 102.7 FM ou no site da RUA FM.

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