Abstenção foi a grande vencedora das eleições autárquicas no Algarve

No Algarve e no país, nunca os níveis de abstenção foram tão altos como nestas Eleições Autárquicas. Mas também subiram […]

No Algarve e no país, nunca os níveis de abstenção foram tão altos como nestas Eleições Autárquicas. Mas também subiram os votos em branco e nulos, cujas percentagens foram muitas vezes mais altas que as obtidas por algumas das candidaturas.

Os números não enganam: no domingo, 60,09% dos algarvios decidiram que nenhuma das propostas que lhes foram apresentadas pelos partidos, coligações ou movimentos de independentes mereciam o seu voto. O Algarve teve mesmo a terceira mais alta taxa de abstenção do país, com 52,43%, a que se juntam 4,67% de votos em branco e 2,99% de votos nulos.

Se em relação às Autárquicas de 2009 houve um aumento de cerca de 10% na abstenção, os números são ainda mais altos no que diz respeito aos votos em branco, que subiram de 1,82% para 4,67%. Ou seja, mais do que duplicaram.

Vendo concelho a concelho, a abstenção voltou a ser mais forte nos municípios mais urbanos, do litoral, e menos significativa nos mais rurais, de interior. Basta ver que a abstenção foi mais alta em Albufeira (58,99%), Olhão (58,44%) e Portimão (57,61%), e mais baixa em Alcoutim (24,20%) e Monchique ((29,08%).

Os votos em branco tiveram como campeão o concelho de Portimão (5,72%), seguido de Lagos (5,71%), Faro (5,60%) e Albufeira (5,47%). Talvez por terem sido municípios onde a disputa eleitoral foi grande, com muitas candidaturas em presença, mas onde, pelos vistos, o desencanto do eleitores também foi grande.

O politólogo António Costa Pinto, em declarações ao «Público», salientou que «alguns observadores previam que os fatores da crise, austeridade e perda de poder de compra pudessem inverter a situação através do voto de protesto, aumentando a participação eleitoral». No entanto, «viu-se que o aumento da abstenção é um aumento progressivo, que não reage às conjunturas da crise».

A abstenção, segundo os analistas, pode-se explicar, em parte, pelo número de eleitores fantasma que continuam a figurar nos cadernos eleitorais e pelo número de gente que emigrou, o que resulta em grandes discrepâncias entre os cadernos eleitorais e o número real de eleitores.

António Costa Pinto adianta um fator de ordem estrutural que justifica a cada vez maior abstenção: «a perceção de que a atitude de votar muda pouco, de que o voto muda pouco».

Uma opinião que é corroborada por outra investigadora, Paula Espírito Santo, do ISCSP, para quem as causas podem estar associadas «a fenómenos de distanciamento (com destaque sistemático para o eleitorado jovem) em relação aos centros de decisão política, neste caso de base local, o qual motiva o desinteresse e a apatia eleitoral».

Mas e como explicar os votos em branco? É que estes não demonstram desinteresse, sendo antes a expressão da vontade de pessoas que se deram ao trabalho de ir até às mesas eleitorais tendo decidido que nenhuma das propostas em causa lhes agradava. E por isso votaram em branco.

O investigador Pedro Magalhães, do ICS, citado pelo «Público», encara o aumento do voto em branco como um «sinal de desafeição em relação à oferta política existente».

No Algarve, uma das poucas forças políticas a reagir aos números elevados de abstenção, votos brancos e nulos foi a coligação «Servir Portimão», que ficou em segundo lugar neste município.

No seu comunicado de balanço, a coligação que junta CDS-PP, MPT, PPM, sublinhou que «estes números [de Portimão] demonstram de forma clara que mais de 67% dos eleitores inscritos nos cadernos eleitorais rejeitaram, de forma expressa ou tácita, todas as forças políticas concorrentes a sufrágio, facto que por si só deve merecer de todos (partidos políticos, cidadãos, instituições) uma profunda reflexão e, sobretudo, da parte dos agentes políticos e dos eleitos locais, uma alteração significativa na forma de fazer política, de exercer os mandatos e de servir as populações».

Em Faro, Paulo Neves, que era o cabeça de lista do PS, força que ficou em segundo lugar nas preferências dos farenses, comentou, em declarações ao Sul Informação: «o que é importante reter neste escrutínio é o voto de protesto. Houve uma grande abstenção (votaram cerca de 10 por cento de eleitores a menos em 2013) e não conseguimos mobilizar o eleitorado a ir às urnas. Temos de ter cuidado com a política que vamos fazendo a cada momento».

Também a nível nacional, nunca houve um valor de abstenção tão elevado em Eleições Autárquicas, já que 47,4% dos eleitores inscritos não votaram. Os votos nulos e brancos atingiram também valores recorde, passando para o dobro dos valores registados nas últimas eleições.

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