«Pioneiros do Conhecimento Científico do Algarve» começam a sua viagem em Portimão

Desde os finais do século XVIII ao século XX, são onze os «Pioneiros do Conhecimento Científico do Algarve» que se […]

Desde os finais do século XVIII ao século XX, são onze os «Pioneiros do Conhecimento Científico do Algarve» que se desvendam agora, numa exposição itinerante que abre na próxima terça-feira, dia 1 de abril, no Museu de Portimão.

A exposição, que irá percorrer dez concelhos algarvios, foi produzida conjuntamente por dez das instituições pertencentes à Rede de Museus do Algarve (RMA), consagrando, pela primeira vez, onze figuras com trabalho e legados relevantes para o conhecimento histórico e científico sobre esta região.

Depois da exposição «Algarve – Do Reino à Região» (2010), os museus algarvios voltam a unir-se, desta vez em torno do projeto comum «Pioneiros do Conhecimento Científico do Algarve», que incide sobre a «geração de personalidades que procuraram esclarecer e fundamentar os contornos da identidade do país, através do estudo da história e da cultura popular, designadamente na região algarvia».

A exposição, com textos em português e inglês, ficará patente no átrio do Museu de Portimão até ao dia 27 de abril, altura em que começará a sua itinerância pelos concelhos de Albufeira, Silves, Loulé, Vila Real de Santo António, Lagoa, Lagos, Vila do Bispo, Tavira e São Brás de Alportel, numa viagem que terminará apenas em abril de 2015.

O leque de personalidades apresentadas vai de José Sande Vasconcelos a Estácio da Veiga, passando por Santos Rocha, Ataíde Oliveira, José Leite Vasconcelos, José Formosinho, Estanco Louro, Padre Manuel Madeira Clemente, Padre Nunes da Glória, Padre Semedo de Azevedo e João Grade, uns por serem naturais da região e outros porque se debruçaram sobre as comunidades locais, revelando a forma pioneira como estudaram e registaram a paisagem social, científica e cultural do Algarve.

«Grande parte destes pioneiros, interessados nas “coisas do povo”, destacaram-se no panorama de um período que se caracterizou pela crescente multiplicação de investigadores e estudiosos locais, e nas primeiras aproximações à arqueologia, etnografia, histórica local, ciências e literatura oral determinantes na definição de uma identidade regional, contribuindo desse modo para a construção de algumas representações do Algarve e da sua cultura popular, as quais ainda hoje prevalecem», salienta a organização.

José Gameiro, diretor do Museu de Portimão, revelou ao Sul Informação que, a exposição, «que é comum às instituições integradas na Rede de Museus do Algarve que quiseram e puderam participar, mostra as potencialidades desta rede, na partilha de recursos e na maximização do capital humano e dos meios».

«Trabalhamos em rede, mas não estamos todos em tudo, porque nem isso seria possível», acrescentou.

«Esta Rede de Museus do Algarve foi pioneira a nível nacional e é um bom exemplo deste espírito de partilha que nos orienta», disse ainda José Gameiro, sublinhando outra particularidade: «a Rede tem a preocupação de todas as temáticas das suas exposições serem sobre o Algarve».

Dália Paulo, diretora do Museu de Loulé, sublinhou também esta «geometria variável» das exposições promovidas no âmbito da RMA. «Desta vez participam doze museus ou instituições de dez concelhos».

Por outro lado, durante a sua itinerância, a exposição «Pioneiros do Conhecimento Científico do Algarve» nem sempre será apresentada nos museus, mesmo em municípios onde até os há. «Em São Brás de Alportel, por exemplo, não será no Museu, e no concelho de Loulé, aproveitando até o facto de a exposição estar em português e inglês, estamos a pensar levá-la a Quarteira, no Verão. É importante que esta seja uma exposição concebida com muita flexibilidade, que permite a sua apresentação num espaço físico que não um museu», acrescentou a responsável pelo Museu de Loulé.

A exposição foi concebida de uma forma simples e algo esquemática, não entrando em grandes pormenores sobre a vida de cada um desses cientistas pioneiros. Cada um deles, aliás, motivaria por si só uma exposição mais aprofundada. Como, aliás, o Museu de Portimão já fez, em 1997, sobre Santos Rocha e as suas descobertas e investigações em Alcalar.

E há ainda uma exposição “prometida”, em Vila Real de Santo António, sobre José de Sande Vasconcelos, a propósito dos três desenhos da sua autoria, provavelmente datados de 1774, que a Direção Regional de Cultura do Algarve comprou em fins do ano passado.

Na segunda-feira, teve lugar mais uma reunião da Rede de Museus do Algarve, em Portimão, que desta vez, além dos representantes dos respetivos membros, contou com a presença da diretora regional da Cultura Alexandra Rodrigues Gonçalves e da vereadora Ana Figueiredo.

A reunião serviu para decidir a calendarização da exposição itinerante «Pioneiros do Conhecimento Científico do Algarve», tendo ainda decorrido um pequeno workshop acerca da montagem da mostra.

Foram discutidos projetos a implementar num futuro próximo e apresentada a síntese de resultados da tese de mestrado “A Rede de Museus do Algarve: Funcionamento e Potencialidades”, pela sua autora Isabel Soares, técnica superior do Museu de Portimão.

 

Os onze pioneiros:

Vila do Bispo – Padre Manuel Madeira Clemente – pároco de Vila do Bispo, Raposeira e Sagres, entre 1947 e 1989. Deu importante contributo para a reabilitação da Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe e Igreja de Vila do Bispo – preservação de peças de arte sacra e arqueologia, guardando-as numa pequena sala anexa à igreja – uma espécie de museu que ainda hoje existe.

Lagos – José Formosinho (1888–1960) – estudioso, colecionador, fundador do Museu de Lagos, que hoje tem o seu nome.

Portimão – Padre Nunes da Glória (1842-1916) – artista e arqueólogo, grande colaborador de Estácio da Veiga. Descobriu os monumentos megalíticos nº1 e nº10 em Alcalar, hoje classificados como monumento nacional.

Portimão – Santos Rocha (1853-1910) – natural da Figueira da Foz, era advogado de profissão, mas cedo se interessou pela arqueologia, nomeadamente a do Algarve, tendo iniciado em 1894 a investigação na região. Fez quatro viagens de exploração à região, tendo investigado de uma ponta a outra do Algarve.

Lagoa – João Grade (1891-1968) – médico, proprietário rural abastado, republicano. No campo científico, fez importantes investigações sobre métodos de tratamento da sífilis, então uma doença muito grave. No campo da agricultura, introduziu novos métodos de cultivo na vinha e nos frutos secos.

Albufeira – Padre Semedo de Azevedo (1907-1968) – pároco, arqueólogo, museólogo e homem de cultura. Fez várias intervenções arqueológicas no concelho de Albufeira e achados fortuitos.

Silves e Loulé – Ataíde Oliveira (1842-1915) – Foi o primeiro monografista algarvio, deixando registos de tradições, lendas, episódios históricos, achados arqueológicos que de outra forma se poderiam ter perdido. Entre 1905 e 1914, publicou onze monografias de outras tantas freguesias do Algarve.

São Brás de Alportel – Estanco Louro (1890-?)- Etnólogo, regionalista, pedagogo e republicano. A sua obra mais conhecida é «O Livro de Alportel», onde se revela a sua faceta de etnólogo e etnógrafo.

Tavira – José de Sande Vasconcelos (1730?-1808) – Engenheiro militar, nasceu em Évora por volta de 1730. Colocado no Algarve em 1772, Sande Vasconcelos cria um curso militar em Tavira, sob o nome «Aula de Artelharia, Geometria, Fortificação e Desenho». Já após o terramoto de 1775 (e maremoto), Sande Vasconcelos dirigiu as obras das terraplanagens e infraestruturas de Vila Real de Santo António, a povoação mandada erigir pelo Marquês de Pombal na foz do Guadiana.

Tavira – Estácio da Veiga (1828-1891) – Formado em engenharia militar, destacou-se nos estudos sobre Botânica, mas, sobretudo na Arqueologia. Publicou a primeira «Carta Archeologica do Algarve» e as «Antiguidades Monumentaes do Algarve».

Vila Real de Santo António – Leite de Vasconcelos (1858-1941) – Nasceu na Beira no seio de uma família da nobreza. Foi o primeiro diretor do Museu Etnographico Português (atual Museu Nacional de Arqueologia), em Lisboa. Percorreu o Algarve, de Milreu a Vila Real de Santo António, em diversas incursões arqueológicas.

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