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teatro das figuras
Sul Informação - Estaleiros de Faro e Marina de Vilamoura “desfazem-se” de barcos abandonados

Será que estamos estupidamente esquecidos?

Escrevo este texto num lugar esquecido pelos arranjos urbanísticos modernos das longas avenidas, intercaladas pelas rotundas com estátuas de figuras historicamente grandiosas, porém esquecidas pelas gerações atuais.

Aqui, estou no Paraíso terrestre, saudavelmente esquecido, onde é possível ver o nascer do sol na Ria Formosa, com o farol de Santa Maria ao fundo e o sino da igreja de Olhão a furar levemente o barulho das aves livres que conhecem mundo, que conhecem a multiculturalidade de Marselha, mas preferem a pacatez obtusa daqueles para quem ir a Espanha é uma aventura memorável.

Não conheço Marselha, mas sei que essa enorme cidade, que fica a cerca de 1700 quilómetros de Faro, não é tão calma para as aves e homens livres como a nossa Ria Formosa.

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Tem mais história e luta pela liberdade, ou não fosse a cidade onde o hino francês se tornou famoso na revolução francesa, mas é uma cidade barulhenta, metrópole e local de encontro de muitas culturas, onde o ruído e as convulsões sociais e étnicas são imagem de marca.

Por isso, mandar as pessoas do Aeroporto de Faro para Marselha, sob o slogan “Foge da confusão algarvia e descansa em França!”, não só é estupidez, como publicidade enganosa.

Ninguém escolhe o sítio onde nasceu. Eu tive a sorte de nascer no local que escolheria para nascer. No dia de Natal de 1978, os serviços de maternidade no hospital de Olhão provavelmente seriam mínimos e a minha mãe não teve outra hipótese senão ir ao então Hospital de Faro. Hoje, digo em tom de brincadeira que só podia ter nascido por cima do Columbus Bar. Tive a sorte de nascer em 1978.

Provavelmente, como sempre chego em cima da hora ou atrasado, se tivesse nascido em Agosto de 2019, quando chegasse ao atual “novo” Hospital de Faro, já não haveria lugar para mim na incubadora e a minha mãe teria de ir para a zona de Amadora-Sintra (que curiosamente até é parecida culturalmente com Marselha), fazendo uma viagem que muito possivelmente me seria fatal.

Sinto que o verdadeiro Algarve é esquecido. Pior, só é lembrado pelas festas sociais de qualquer canal de televisão ou das várias revistas da socialite portuguesa, ou quando os nossos políticos e VIPs “vão a banhos”.

Expressão, um pouco apalermada, porque parece que durante o resto do ano não se preocupam com a higiene, algo mais típico do período em que vivíamos no reino de Portugal e dos Algarves. O rei era o mesmo, mas o território nominalmente respeitava a autonomia geográfica.

Não sei se a solução é a concretização do projeto do “cómico” M.I.A. (Movimento pela Independência do Algarve) ou o mais sensatamente e politicamente discutível projeto de regionalização portuguesa.

Mas sei que o Algarve não pode ser estúpida e diariamente esquecido e lembrado só ocasionalmente, quase sempre por razões péssimas na época de veraneio. Porque só na lua não há vento. E o vento que começa a sentir-se aqui pode interromper a pacatez das gentes que só querem viver em condições humanas.

 

Autor: O Padre Miguel Neto é diretor do Gabinete de Informação e da Pastoral do Turismo da Diocese do Algarve, bem como pároco de Tavira.

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